Europa teve em 2022 o verão mais quente da história
20 de abril de 2023
Continente enfrentou seca e ondas de calor intensas. Ano como um todo foi segundo mais quente já registrado na região. "Estamos avançando rumo a um terreno desconhecido", alerta diretor de Serviço de Mudanças Climáticas.
Anúncio
A Europa teve no ano passado o verão mais quente já registrado, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (20/04) pelo Serviço de Mudanças Climáticas do sistema de satélites Copernicus (C3S), da Comissão Europeia. A região também viveu em 2022 o segundo ano mais quente da história, de acordo com o relatório anual.
Os dados mostram que o verão na Europa foi 1,4 °C mais quente do que a média no período de referência, que vai de 1991 a 2020. Já a temperatura anual ficou 0,9 °C acima da média nesse mesmo período. Em comparação com a era pré-industrial (1850 a 1990), a temperatura dos últimos cinco anos no continente ficou 2,2 °C acima da média.
"Estamos avançando rumo a um terreno desconhecido", disse Carlo Buontempo, diretor do C3S, durante o anúncio dos dados. "O relatório destaca tendências preocupantes, pois 2022 voltou a ser um ano recorde em relação à concentração de gases do efeito estufa, temperaturas extremas, incêndios e precipitações. Todos com impactos notáveis nos ecossistemas e comunidades em todo o continente europeu", acrescentou.
Um calor extremo sem precedentes e a seca generalizada marcaram o clima europeu em 2022. Diversas ondas de calor intensas e prolongadas ocorreram no ano passado, atingindo especialmente a região sul do continente.
Os pesquisadores do Copernicus alertam que os eventos climáticos extremos estão ficando cada vez mais frequentes e intensos.
"O sul da Europa experimentou um número recorde de dias com 'estresse térmico muito forte', definido por temperaturas entre 38 °C e 46 °C", indicou o relatório. O Copernicus também afirmou que houve um crescimento nos dias de ‘estresse térmico forte' – quando as temperaturas ficam entre 32 °C e 38 °C. "Há ainda uma tendência na redução do número de dias sem estresse térmico", destacou.
O estresse térmico é cada vez mais visto como um problema significativo em todo o mundo com o aquecimento global. Especialistas afirmam que esse fenômeno pode causar uma série de problemas de saúde, incluindo desidratação, insolação e erupções cutâneas.
Situação preocupante no Ártico
O Copernicus registrou ainda temperaturas elevadas no Ártico, onde o aquecimento ocorre muito mais rápido do que em outros locais do planeta. A temperatura na região aumentou 3 °C em relação à era pré-industrial, enquanto no resto do mundo, esse aumento foi de 1,2 °C.
O ano de 2022 foi o sexto mais quente registrado no Ártico. Uma das regiões mais afetadas foi o arquipélago de Svalbard, que teve o verão mais quente da história, com temperaturas em algumas regiões ultrapassando em 2,5 °C a média.
A Groenlândia também experimentou condições climáticas extremas, como calor e chuva excepcional em setembro, época na qual deveria estar nevando. Naquele mês, quando foram registradas três ondas de calor, a temperatura ficou 8 °C acima da média. A ilha experimentou ainda um derretimento recorde, com 23% da camada de gelo afetada no pico da primeira onda de calor.
Anúncio
Seca generalizada
Em 2022, as altas temperaturas se somaram à escassez de chuva, causando uma situação de seca generalizada na Europa. Em relação à área afetada, 2022 foi o ano mais seco já registrado, e 63% dos rios europeus ficaram com vazões abaixo da média.
No inverno, houve ainda menos dias de neve do que a média, chegando a até 30 dias em algumas regiões. Na primavera, as precipitações ficaram abaixo da média em grande parte do continente.
A falta de neve no inverno e as temperaturas elevadas provocaram um derretimento recorde das geleiras dos Alpes – mais de cinco quilômetros cúbicos.
"A água é um bem finito, e talvez não tenhamos sido os mais eficientes na sua gestão. Nos últimos seis anos, a vazão da maioria dos rios europeus tem estado abaixo da média, o que significa que temos que nos adaptar às atuais condições climáticas, nas quais a disponibilidade de água é menor do que no passado", afirmou a vice-diretora do C3S, Samantha Burgess.
Incêndios florestais
O calor e a falta de chuvas formaram o cenário ideal para os milhares de incêndios florestais que devastaram a Europa em 2022, especialmente no sul. Esses incêndios geraram as maiores emissões de carbono desse tipo registradas na União Europeia desde o verão de 2017.
França, Espanha, Alemanha e Eslovênia tiveram as maiores emissões de incêndios florestais dos últimos 20 anos, e o sudoeste europeu teve alguns dos maiores incêndios já registrados no continente.
O relatório também indicou que, em âmbito global, a concentração de CO2 e metano atingiram no ano passado os níveis mais altos já medidos por satélites. Esses gases são os principais causadores do aquecimento global.
cn/lf (EFE, AFP, AP, dpa)
Como as mudanças climáticas impactaram 2022
Calor, seca, incêndios, tempestades extremas, inundações – mais uma vez, o ano foi marcado por muitos eventos climáticos direta ou indiretamente influenciados pelas mudanças climáticas. Uma retrospectiva em fotos.
Foto: Thomas Coex/AFP
Na Europa, 2022 foi mais quente e seco do que nunca (agosto)
Calor extremo e a pior seca em 500 anos marcaram o verão na Europa. Na Espanha, mais de 500 pessoas morreram na onda de calor mais forte já registrada no país, com temperaturas acima de 45º C. No Reino Unido, o termômetro bateu 40º C pela primeira vez. Partes do continente nunca estiveram tão secas nos últimos mil anos, e muitas regiões racionaram água.
Foto: Thomas Coex/AFP
Graves incêndios devastaram a Europa (julho)
De Portugal, Espanha e França, no oeste, passando pela Itália até a Grécia e Chipre, no leste, e a Sibéria, no norte, florestas estiveram em chamas em todo o continente em 2022. Os incêndios queimaram cerca de 660 mil hectares somente até meados do ano, um recorde desde o início dos registros, em 2006.
Chuvas de monção extremas caíram sobre o Paquistão. Cerca de um terço do país ficou debaixo d'água, 33 milhões de pessoas perderam suas casas, mais de 1.100 morreram e as doenças estão se espalhando. Chuvas extremamente fortes também atingiram o Afeganistão. Milhares de hectares de terra foram destruídos. A fome no país está piorando.
Foto: Stringer/REUTERS
Calor, seca e tufões afetaram a Ásia (agosto e setembro)
Antes das enchentes, o Afeganistão e o Paquistão, assim como a Índia, tiveram calor extremo e seca. A China passou por sua seca mais extrema em 60 anos e seu pior calor já registrado. No outono, 12 tufões assolaram a China. Coreia do Sul, Filipinas, Japão e Bangladesh também sofreram com fortes tempestades, que estão se tornando cada vez mais fortes devido às mudanças climáticas.
Foto: Mark Schiefelbein/AP Photo/picture alliance
Na África, consequências dramáticas
O clima no continente africano está esquentando mais rápido do que a média global. Por isso, a África é particularmente afetada por mudanças nas chuvas, secas, tormentas e inundações. Na Somália, a seca de 2022 foi a pior em 40 anos. Um milhão de pessoas tiveram que deixar suas casas. Na foto, um alagamento no Senegal em julho.
Foto: ZOHRA BENSEMRA/REUTERS
Fuga e fome nos países africanos
Estiagens e inundações tornam difícil a criação de gado ou a agricultura em cada vez mais regiões do continente africano. Como resultado, mais de 20 milhões de pessoas correm risco de morrer de fome, principalmente na Etiópia, na Somália e no Quênia.
Foto: Dong Jianghui/dpa/XinHua/picture alliance
América do Norte: Incêndios e inundações
No final do verão no Hemisfério Norte, incêndios graves ocorreram nos estados americanos da Califórnia, Nevada e Arizona, em particular. Uma cúpula de calor se formou em todos os três estados, com temperaturas chegando a 40º C. No início do verão, fortes chuvas haviam causado grandes alagamentos no Parque Nacional de Yellowstone e no estado de Kentucky.
Foto: DAVID SWANSON/REUTERS
América e Caribe: ciclones violentos
Em setembro, o furacão Ian causou grande devastação no estado americano da Flórida. As autoridades falaram de "danos em escala histórica". O Ian já havia passado por Cuba, onde causou interrupção no fornecimento de eletricidade por vários dias. O ciclone tropical Fiona se moveu até a costa leste do Canadá depois de causar graves danos inicialmente na América Latina.
Foto: Giorgio Viera/AFP/Getty Images
Tempestades tropicais devastam América Central
Não apenas o Fiona assombrou a América Central. Em outubro, o furacão Julia trouxe devastação severa a Colômbia, Venezuela, Nicarágua, Honduras e El Salvador. Devido ao aquecimento global, as superfícies dos oceanos estão esquentando, o que torna os furacões mais fortes.
Foto: Matias Delacroix/AP Photo/picture alliance
Seca extrema na América do Sul
Há uma seca persistente em quase todo o continente sul-americano. No Chile, por exemplo, isso ocorre desde 2007. Desde então, a água dos córregos e rios em muitas regiões diminuiu entre 50% a mais de 90%. Em regiões do México, quase não chove há vários anos consecutivos. Argentina, Brasil, Uruguai, Bolívia, Panamá e partes do Equador e da Colômbia também sofrem com a seca.
Foto: IVAN ALVARADO/REUTERS
Alagamentos na Austrália e Nova Zelândia
Na Austrália, fortes chuvas em 2022 causaram graves inundações várias vezes. De janeiro a março, choveu tanto na costa leste quanto na Alemanha durante todo o ano. A Nova Zelândia também foi afetada. O responsável é o fenômeno climático La Niña, que é amplificado pelas mudanças climáticas, pois a atmosfera mais quente absorve mais água e as chuvas aumentam.