Europeus aprovam Merkel e confiam na liderança da Alemanha
14 de setembro de 2021
Prestes a deixar o cargo, chanceler federal alemã é vista com respeito pelos europeus, que a elegeriam como "presidente da UE", aponta estudo. Mas Alemanha precisa se reinventar após "era Merkel", segundo entrevistados.
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Os europeus têm alta estima pela chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, e aprovam o estilo de liderança dela, baseado na busca de consensos, mostra uma pesquisa do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR, na sigla em inglês), um grupo de estudos internacionais fundado em 2007 e com sede em Londres.
"Normalmente há duas narrativas sobre Merkel na Europa. Uma a vê como uma grande mediadora nas crises, que busca harmonizar interesses diversos. A outra é a de uma política sem visão" de longo prazo, resumiu o diretor do estudo, Piotr Buras, do ECFR em Varsóvia.
Em todos os 12 países-membros da União Europeia considerados na pesquisa, Merkel superaria o presidente da França, Emannuel Macron, numa hipotética eleição para presidente da União Europeia, um cargo que não existe.
O apoio a Merkel para "presidente da UE" é maior entre os holandeses (58%), espanhóis (57%) e portugueses (52%). Na Alemanha, ela obteria 42% dos votos, segundo a pesquisa. No total dos entrevistados, teria 41%, contra 14% para Macron.
Confiança na Alemanha
O estudo também mostra que os europeus veem a Alemanha como uma força confiável e pró-europeia. "Em retrospecto, o maior feito da política europeia de Merkel provavelmente foi o de ter posto a Alemanha no coração de uma Europa ampliada, e reduzido significativamente os temores dos vizinhos de uma dominação alemã", afirma.
Os europeus têm grande confiança na liderança da Alemanha em matérias como economia e finanças (36%) e na defesa de democracia e direitos humanos (35%). A situação é diferente nas relações com outras potências, como os Estados Unidos, a Rússia e a China. A Hungria é o país que mais confia na Alemanha no que diz respeito à capacidade de gerir as relações com as grandes potências mundiais.
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Resultado surpreendente
"Uma das surpresas nos dados que foram apresentados diz respeito às expectativas positivas em relação à liderança alemã em assuntos como economia e finanças", observou Daniela Schwarzer, diretora para a Europa e Ásia da Open Society Foundation.
Schwarzer recordou que há dez anos a Alemanha impôs decisões econômicas, em conjunto com a Comissão Europeia, Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, que foram profundamente criticadas nos países do sul da Europa.
A Alemanha defendia políticas de austeridade e superávit elevado para os países da zona do euro, lembra Schwarzer. Por isso, são surpreendentes os dados sobre a confiança de a Alemanha defender os interesses europeus na economia, acrescentou.
Uma nova Alemanha
Em referência ao fim da "era Merkel", Buras, do ECFR em Varsóvia, disse que o estudo mostra que, para a maioria dos europeus, a "idade de ouro" da Alemanha está no passado e que os alemães têm de mostrar capacidade para se reinventarem.
"O que mostramos no nosso estudo é o paradoxo alemão. A Alemanha, quando olha para trás, vê uma era de grande sucesso com Angela Merkel, mas esse modelo é politicamente insustentável. A Alemanha tem de se reinventar em muitas áreas. Podemos pensar num futuro melhor, na União Europeia e também na Alemanha, e isso está nas mãos dos alemães", disse.
"O 'merkelismo' não é mais sustentável. Merkel pode ter administrado habilmente o status quo em todo o continente, mas os desafios que a Europa enfrenta agora – a pandemia, as mudanças climáticas, a competição geopolítica – exigem soluções radicais, não mudanças cosméticas. A UE precisa de uma Alemanha visionária", acrescentou.
Como exemplos, Buras disse que a Alemanha deve confrontar países acusados de violar os valores europeus, como a Polônia e a Hungria, e encontrar uma maneira de trabalhar com os Estados Unidos para defender interesses europeus na relação com a China.
Ele ainda apontou como "desastroso" o acordo energético entre a Alemanha e a Rússia (Nord Stream 2), a política de defesa em relação à missão militar no Afeganistão e as "hesitações" sobre a política climática e o envelhecimento da população alemã.
as/ek (Lusa, Efe, ots)
Merkel, 15 anos como chefe de governo da Alemanha
Angela Merkel é chanceler federal desde 2005, já tendo liderado quatro governos desde então e enfrentado diversos desafios. Hoje ela é mais popular do que nunca. Veja alguns de seus momentos mais marcantes.
Adeus à "garota de Kohl"
O chanceler federal alemão Helmut Kohl costumava chamar Angela Merkel de "garota", paternalizando. Em 2001, há muito ela já havia saído de sua sombra, como líder da União Democrata Cristã (CDU), então na oposição. Mas a grande hora de Merkel só chegaria em 2005.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Altwein
Vitória eleitoral apertada
Nas eleições parlamentares federais de 2005, foi muito apertada a vitória das legendas irmãs CDU e CSU sobre o Partido Social-Democrata do então chanceler federal Gerhard Schröder. Além disso , a CDU, com sua candidata Angela Merkel, teve os piores resultados desde 1949. Portanto as condições para a nova chefe de governo não eram as melhores. Mas ela faz progressos rápidos.
Foto: dpa
Nova chanceler federal
No fim, CDU e CSU uniram forças para formar uma grande coalizão. Schröder felicitou a mais nova chanceler federal, Angela Merkel, que seria a primeira mulher, a mais jovem em exercício, a primeira alemã do Leste e a primeira cientista, eleita para o cargo pelo Bundestag câmara baixa do [Parlamento alemão], em 22 de novembro de 2005.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Reiss
Anfitriã descontraída
Merkel ganhou rapidamente autoconfiança. Na cúpula do G8 de 2007, ela recebeu os chefes de Estado e governo das sete nações industriais mais importantes e Rússia, no balneário báltico de Heiligendamm e brincou com o presidente dos EUA George Bush (esq.) e o presidente russo Vladimir Putin. Em termos geopolíticos, um mundo muito mais "perfeito" do que hoje em dia.
Foto: AP
Jogo de cores
As calças são geralmente escuras, mas baseados na cor do blazer, que varia, muitos creem poder dizer qual é o estado de ânimo de Angela Merkel, ou a mensagem que ela está tentando transmitir.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Schreiber
Ah, esses garotões!
Política europeia no outono de 2008: Angela Merkel tem apenas um leve sorriso para dois machões do palco europeu: o presidente francês Nicolas Sarkozy (na frente) e o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi. No entanto, é ela que, aqui no início da crise financeira, está subindo rapidamente para se tornar a indiscutível número um da União Europeia.
Foto: Getty Images/AFP/G. Cerles
Assistência ou dominação?
As dívidas de muitos países europeus estão aumentando cada vez mais, o euro está em perigo. Merkel concorda com uma ampla ajuda, mas exige em troca medidas de austeridade nos países afetados. E isso desperta memórias amargas, principalmente na Grécia: os jornais gregos traçam paralelos com a ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Panagiotou
Oradora talentosa
Merkel é uma oradora apenas moderadamente talentosa, que não gosta de estar cercada pela multidão. Muitas vezes, é seca e não explica suficientemente sua política. Porém seu jeito sóbrio, pragmático e modesto conquista muitos. Caso contrário, ela não estaria hoje à frente de seu quarto governo.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Gentsch
"Mutti"
Em algum momento ela passou a ser chamada de "Mutti" (mamãe). Não a "mãe", mas a "mamãe" da nação. É um pouco sarcástico, mas também afetuoso, talvez. E antiquado: hoje em dia, nenhuma criança alemã diz mais "Mutti". "Mamãe" cuida, e não é preciso ter medo dela. O outro lado da moeda é que com "mamãe" os filhos permanecem sempre crianças. Nem todo mundo gosta disso.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Anspach
"Vamos conseguir"
Talvez nenhuma outra frase dela tenha polarizado tanto quanto "Vamos conseguir". Quando manteve as fronteiras abertas para refugiados e migrantes em 2015 e 2016, Merkel foi quase venerada como uma santa por alguns, mas severamente criticada por outros. A discordância na avaliação de sua política para refugiados continua até hoje.
Foto: Getty Images/S. Gallup
"Pessoa do Ano"
Em 2015, a revista americana "Time" elegeu Angela Merkel "Pessoa do Ano" e até mesmo "Premiê do Mundo Livre", por sua liderança em situações difíceis – da dívida nacional à crise dos refugiados.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Time Magazine
Mulheres entre si
Ela é a primeira mulher na chefia de governo da Alemanha. Embora nunca tenha feito disso um grande tema de sua política, algumas mulheres tiveram uma carreira vertiginosa graças ao apoio de Merkel, seja Annegret Kramp-Karrenbauer (presidente da CDU e ministra da Defesa, à esq.), Ursula von der Leyen (presidente da Comissão Europeia) ou Julia Klöckner (ministra da Agricultura).
Foto: picture-alliance/M. Schreiber
Nada pessoal
Merkel é discreta: ela não faz observações políticas ou pessoais sobre chefes de Estado e de governo difíceis. No máximo, expressa opiniões muito vagas. Ao lidar com eles, o que a orienta é a razão de Estado.
Foto: picture-alliance/C. Hartmann
Sem qualquer vaidade
Ela sabe quando custa um litro de leite: mesmo após anos como chefe de governo de uma potência europeia, Angela Merkel não se tornou vaidosa. Em 2014, visitou um supermercado de Berlim com o primeiro-ministro da China, Li Keqiang. Mas também é vista fazendo compras sozinha – como uma dona de casa qualquer, por assim dizer.
Foto: picture alliance/dpa/L.Schulze
Losango enigmático
Não está muito claro de onde Merkel tirou sua famosa postura de mãos. Ela própria diz que o sinal no formato de um losango a ajuda a manter a parte superior do corpo ereta e que não há nenhuma mensagem oculta. Mesmo assim, os estrategistas da CDU usaram o sinal na campanha das eleições gerais de 2013, para transmitir confiança e calma.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Simon
Merkel na privacidade
Pouco se sabe sobre a vida privada de Merkel. Ela não revela muito a respeito, ou talvez o interesse público não seja particularmente grande. É sabido, por exemplo, que ela e o marido Joachim Sauer, físico como ela, passam todos os anos a Páscoa na ilha italiana de Ísquia. Ou passavam, pois em 2020 isso não foi possível.
Foto: picture-alliance/ANSA/R. Olimpio
E aí veio a covid-19
A pandemia mudou muitas coisas na Alemanha, não apenas os rituais de férias da chanceler federal. O jeito sério e objetivo de Merkel foi em parte criticado, mas sua gestão da pandemia também lhe conferiu novos recordes de popularidade.
Foto: Johanna Geron/Reuters
A hora da despedida
Em 2018, Angela Merkel anunciou que não voltaria a concorrer nas eleições federais do outono alemão de 2021, mas que pretendia permanecer no cargo até lá. Ela terá então governado por quase 16 anos, e apenas pouco menos do que Helmut Kohl, detentor do recorde na Chancelaria Federal.