Crise na Itália
25 de outubro de 2011 Num encontro urgente na noite desta segunda-feira (24/10), convocado pelo primeiro-ministro Silvio Berlusconi, o governo italiano, mais uma vez, não conseguiu chegar a um consenso sobre o que deve mudar no sistema de aposentadoria do país. A reforma do setor faz parte das medidas de ajuste necessárias para ajudar a Itália a sair da crise e está na lista de exigências da União Europeia (UE).
Berlusconi enfrenta oposição entre os seus ministros. Três deles, pertencentes ao partido aliado Liga Norte, disseram-se contrários ao plano de elevação da idade mínima para aposentadoria entre os servidores públicos. Para o encontro de cúpula entre os líderes europeus desta quarta-feira, é esperado que o governo italiano apresente um planejamento para combater a dívida pública.
A pressão vinda dos outros membros da União Europeia é grande. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, e a chanceler federal alemã, Angela Merkel, insistem que Roma precisa adotar medidas de austeridade convincentes e um plano para estimular o crescimento da economia. Berlusconi rebateu as críticas, alegando que nenhum membro do bloco está na posição de ensinar aos outros como lidar com problemas econômicos.
Se a Itália falhar nas suas reformas, todos os planos de resgate da UE podem ser esquecidos, afirma Daniel Gros, diretor do Centro de Estudos de Políticas Europeias em Bruxelas. "A Itália decidirá o futuro do euro", assegura. A dívida do país alcança quase 2 trilhões de euros, um valor superior a qualquer plano de resgate que a União Europeia possa bancar.
Aposentadoria e burocracia
Os privilégios oferecidos pelo governo italiano custam caro aos cofres públicos. Um exemplo é a pensão para irmãos: quando um aposentado morre, seu irmão ou irmã pode requerer 15% do valor do benefício.
Para o professor de economia Pietro Reichlin, da Universidade Luiss, em Roma, a reforma da aposentadoria é uma das mais urgentes. "Nós próximos dois, três anos, as pensões continuarão sendo um dos problemas mais graves porque ainda há muitas pessoas na Itália que se aposentam muito cedo e recebem uma pensão muito alta em comparação com as contribuições pagas. O nosso sistema nacional de aposentadoria tem um deficit que ele mesmo não consegue cobrir."
Já os jovens enfrentam uma alta taxa de desemprego, que atinge 28% da população abaixo dos 25 anos. Esse cenário não é apenas um fator social explosivo, como também impede que o país desenvolva seu potencial de inovação.
"A Itália é um país pequeno, que tem menos de 1% da população mundial. Nós só poderemos crescer se encontrarmos nosso lugar em meio aos países que introduzem as inovações mundiais", opina Gros Pietro, empresário italiano.
Até recentemente, Pietro trabalhava como chefe da maior operadora de rodovias italiana. Ele conhece bem os problemas que assolam o empresariado – o pior de todos é a burocracia. A espera é longa até que se obtenha, por exemplo, a licença de construção, e mais tempo é necessário quando se recorre à Justiça. "É inacreditável a demora para se fazer cumprir seus direitos na Itália. Este é um fator de custo que as empresas veem como obstáculo para se engajarem no país", completa Pietro.
Corrupção e falta de infraestrutura
Quem tem pressa, precisa pagar mais por isso: corrupção e nepotismo funcionam como um freio para a economia italiana. Esta é a opinião de Tatjana Eifrig, analista do banco Finnat. "A Itália parece mais uma economia planificada do que um país capitalista. Posições são prometidas. Onde se precisa apenas de uma pessoa, cinco são empregadas, pois sempre há o primo de alguém, mais aquele a quem se deve um favor... E quem paga é o cidadão, com seus impostos."
Uma outra desvantagem local: a infraestrutura. Tudo que está ao sul de Nápoles é de difícil acesso, seja por estrada ou linha férrea. "Um exemplo impressionante é o porto de Gioia Tauro, que deveria ser o Roterdã do Mediterrâneo. Ainda não existe sequer uma estrada adequada pela qual as mercadorias possam ser transportadas, quanto menos uma ferrovia de carga", critica Eifrig.
Sílvio Berlusconi fala há 17 anos sobre promover uma reestruturação da rodovia que liga Salerno à província de Reggio Calabria – no entanto, pouco foi feito até agora. E o que foi executado se deve à atuação do parceiro de coalizão Liga Norte, que considera mais o eleitorado daquela região.
Para o professor Pietro Reichlin, a própria administração federal acaba sendo o maior obstáculo ao crescimento econômico. "O governo italiano parece incapaz de superar os desafios atuais, porque consiste de uma coalizão que está muito dividida."
Autor: Tilmann Kleinjung (np)
Revisão: Alexandre Schossler