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Europeus querem recuperar tempo perdido em bioetanol

Monika Lohmüller (rr)2 de agosto de 2006

Enquanto Brasil e EUA investiram na produção de biocombustíveis com programas abrangentes, a Europa deixou a chance passar. Agora, a líder européia no mercado açucareiro quer investir 500 milhões de euros no setor.

Novas diretrizes da UE para o setor açucareiro leva empresas a repensar estratégiaFoto: südzucker

A demanda atual pelo açúcar é intensa, por um lado devido ao crescimento demográfico mundial, que eleva também o consumo per capita. A cada ano, são vendidas 150 milhões de toneladas de açúcar.

Mas o açúcar não é comercializado apenas no setor alimentício. Da cana e da beterraba de açúcar também é produzido o etanol, que pode ser usado como substituto à gasolina. Países como o Brasil e os Estados Unidos já se deram conta do potencial desse mercado em crescimento. Na Alemanha, grandes fabricantes querem agora recuperar o tempo perdido.

A cada dia, especialmente durante a alta temporada, proprietários de automóveis lamentam os 50 a 60 euros necessários na Alemanha para encher o tanque de um veículo de classe média, seja com gasolina ou diesel. Agora, desde que o preço do petróleo ultrapassou a marca dos 70 dólares por barril, mais e mais empresas alemãs se interessam pelo etanol.

Brasil e EUA à frente

Toyota Prius com motor híbridoFoto: dpa

A alemã Südzucker, líder européia no mercado de açúcar, produz a cada ano 260 mil metros cúbicos de bioetanol. Ao todo, são produzidos na Europa cerca de 3 milhões de metros cúbicos. Isso pode parecer muito, mas é pouco se comparado à produção dos Estados Unidos ou do Brasil, explica o diretor de marketing da Südzucker, Lutz Guderjahn.

"No Brasil, a gasolina já vem misturada com 20% a 25 % de etanol, sem que isso seja especialmente assinalado. E o motorista brasileiro também pode abastecer com etanol puro. Nos EUA, a percentagem de etanol na gasolina é de até 10%, dependendo do Estado. Na Europa, essas quotas são consideravelmente menores", lamenta.

"Atualmente, é permitido misturar até 5% de bioetanol em combustíveis. Gostaríamos muito que esse limite fosse ampliado, mas para isso dependemos da aprovação das indústrias automobilística e de mineração", explica.

UE estabelece meta até 2010

Segundo uma resolução da União Européia, até 2010 todos os combustíveis devem ser compostos por 5,75% de matéria-prima renovável. Além disso, montadoras de automóveis já oferecem veículos capazes de circular sem problemas com diversos tipos de combustível. Mas ainda não há postos suficientes que ofereçam biocombustíveis.

Fábrica da Südzucker em Zeitz, na Saxônia-AnhaltFoto: AP

No Brasil, mais de 70% dos carros zero, inclusive os fabricados pela alemã Volkswagen, são equipados com os chamados motores FlexiFuel, que funcionam com gasolina, uma mistura de gasolina e etanol ou etanol puro. Segundo Guderjahn, o Brasil reagiu rapidamente à crise do petróleo na década de 70.

"O Brasil lançou programas muito abrangentes, como o Proálcool, que através de fortes incentivos estatais acabou se tornando um eficiente programa de desenvolvimento de bioetanol. Nos Estados Unidos, considerações semelhantes acabaram levando à criação de tais programas desde os anos 80, mas mais intensamente nos anos 90", lembra Guderjahn.

"Na minha opinião, nós, europeus, realmente perdemos a oportunidade, simplesmente porque o preço do petróleo caíra consideravelmente na época e não havia mais urgência. Hoje, a situação é outra. Temos um renascimento de idéias que já existem desde os anos 70."

Südzucker quer expandir

Agora, a Südzucker não quer repetir o erro. A empresa constrói atualmente uma unidade de produção na Áustria e planeja expandir sua produção para a França e a Hungria, além de planejar uma refinaria para a Bélgica.

Mas sua maior unidade de produção está no Leste alemão. "Somos tradicionalmente muito ligados à Alemanha, inclusive devido ao acesso à matéria-prima. É impossível transferir uma plantação alemã para outro país. Aqui temos nossas raízes e daqui, do centro da Europa, queremos expandir."

Nos próximos anos, a companhia pretende investir cerca de 500 milhões de euros neste novo nicho. Tal fato se deve, entre outros, às novas diretrizes da UE para o setor açucareiro, que forçam tanto agricultores quanto industriais a repensar suas estratégias. No futuro, o preço garantido do açúcar cairá, principalmente para conter a superprodução subsidiada.
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