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Evo Morales é reeleito presidente, diz apuração oficial

25 de outubro de 2019

Resultado oficial aponta que governante obteve vantagem suficiente sobre Carlos Mesa para vencer em primeiro turno. Oposição denuncia fraude e convoca novos protestos. OEA e UE pedem realização de segunda rodada.

Presidente boliviano, Evo Morales, levanta o punho esquerdo e bota a mão no peito ao posar diante de fotógrafo
Presidente boliviano, Evo Morales, pode estar caminhando para quarto mandato seguidoFoto: Reuters/D. Mercado

O presidente da Bolívia, Evo Morales, venceu em primeiro turno a eleição presidencial do país, segundo resultados oficiais divulgados nesta quinta-feira (24/10) após uma apuração que gerou polêmica. Morales superou por 10,56 pontos percentuais o opositor Carlos Mesa, segundo colocado no pleito, que denuncia ter havido fraude eleitoral.

Com 99,99% dos votos apurados, Morales tem 47,07% dos votos, seguido por Mesa, com 36,51%, conforme resultado divulgado pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE). A diferença é, assim, superior aos dez pontos percentuais, requisito necessário para vencer no primeiro turno.

O órgão eleitoral ainda não proclamou formalmente a vitória de Morales, embora o presidente já tenha se declarado vencedor. "Já ganhamos no primeiro turno", havia dito horas antes o presidente boliviano, que governa o país desde 2006 e ruma para um quarto mandato.

Os 0,01% de urnas ainda não apuradas correspondem a quatro atas de votação canceladas na região amazônica de Beni.

Mesa denunciou irregularidade na apuração e advertiu que não respeitaria os resultados, no mesmo dia em que criou uma aliança com partidos de direita e líderes de centro para pressionar por um segundo turno.

"Estamos num momento crucial da história, o [partido governista Movimento para o Socialismo] MAS acaba de consumar a fraude com essa informação oficial", disse Mesa, de 66 anos, num vídeo entregue à agência de notícias AFP.

Os governos de Estados Unidos, Brasil, Argentina e Colômbia apoiam a realização de um segundo turno entre Morales e Mesa, caso a missão de observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) não consiga verificar os resultados do primeiro turno, ocorrido no último domingo.

A União Europeia se uniu ao pedido. A chefe da diplomacia do bloco, Federica Mogherini, disse na quinta-feira que um segundo turno seria "a melhor possibilidade de restaurar a confiança e respeitar a decisão do povo". 

Morales afirmou pela manhã, em pronunciamento em La Paz, que aceitaria disputar um segundo turno caso fosse esse o resultado da votação. Ele também disse aceitar que o processo eleitoral seja auditado pela missão de observação da OEA que acompanhou toda a votação no país.

Mesa, por sua vez, reiterou o chamado para que os bolivianos protestem pacificamente até que a nova votação ocorra. "O número é irrelevante. A decisão é clara: o MAS não quer o segundo turno. E para isso maquinou uma alteração vergonhosa e grosseira do resultado. Não se desanimem. Se mantenham em ação", afirmou o candidato da Comunidade Cidadã. "Todos já esperavam, sabíamos da teimosia do presidente."

O atual presidente boliviano venceu Mesa em seis departamentos do país e perdeu em outros três. No exterior, Morales obteve 60,33% dos votos contra apenas 26,75% do opositor, segundo a apuração oficial.

A terceira colocação no pleito ficou com o pastor presbiteriano Chi Hyun Chung, de origem coreana, que representou o Partido Democrata Cristão e teve 8,78% dos votos. Já o senador Óscar Ortiz, da aliança Bolívia Diz Não, foi o quarto, com 4,24%.

As outras cinco candidaturas obtiveram menos de 3% dos votos, não superando a cláusula de barreira prevista na legislação boliviana. Entre eles está Virginio Lema, do Movimento Nacionalista Revolucionário, uma legenda histórica do país.

Apuração polêmica

A apuração dos votos, que durou quatro dias, ocorre em meio a protestos no país, com ataques a sedes do órgão eleitoral em várias regiões. Opositores e movimentos sociais consideram que o TSE trabalha para favorecer Morales.

Os problemas no sistema preliminar de apuração dos votos levantam suspeitas sobre a transparência do processo desde o último domingo, o que fez parte da comunidade internacional pedir a realização de segundo turno no país.

Na Bolívia, dois sistemas de contagem de votos coexistem. Na contagem computadorizada, batizada de Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares (TREP), as atas – que trazem os totais de cada mesa – são fotografadas e enviadas ao órgão eleitoral por meio de uma aplicação que permite a publicação de resultados parciais.

Na "contagem oficial", mais lenta, os votos são contados individualmente.

Na noite de domingo, após o fechamento das urnas, a divulgação dos resultados parciais foi inexplicavelmente interrompida na página na internet do órgão eleitoral. Esses dados de contagem rápida apontavam Morales na liderança (45,25%), seguido pelo centrista Mesa (38,16%), com quase 84% da apuração concluída.

O sistema eleitoral boliviano considera vencedor em primeiro turno o candidato que atingir 50% dos votos mais um, ou aquele que atingir mais de 40% e dez pontos percentuais de vantagem sobre o segundo colocado. Se nenhum dos critérios for cumprido, os dois mais votados se enfrentam em um novo turno.

A parcial da noite de domingo indicava, portanto, a realização de um segundo turno, algo inédito para Morales, que está há 13 anos no poder sem nunca ter ido para uma segunda rodada.

Na segunda-feira, a TREP voltou a ser divulgada, mas indicando a vitória de Morales em primeiro turno. Opositores iniciaram então uma série de protestos. Alguns manifestantes atacaram as sedes do TSE em várias regiões do país e entraram em confronto com simpatizantes do MAS. Os protestos prosseguiam na noite desta quinta-feira.

Os opositores convocaram para esta sexta-feira novas manifestações em cidades como La Paz, sede do governo e do Legislativo, para protestar contra os resultados que consideram fraudulentos.

MD/efe/afp

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