Exército sírio inicia ofensiva terrestre em Aleppo
28 de setembro de 2016
Após dias de intensos bombardeios, ofensiva por terra ocorre em várias frentes. Governo sírio anuncia avanço contra rebeldes e retomada do bairro de Al-Farafira, na parte antiga de Aleppo.
Anúncio
Depois de dias de intensos bombardeios, o Exército sírio e seus aliados iniciaram nesta terça-feira (26/09) uma ofensiva terrestre em diversas frentes em Aleppo. Com a manobra, o regime de Bashar al-Assad recuperou o controle do bairro de Al-Farafira, na parte antiga da cidade, anunciou a agência de notícias estatal Sana.
Segundo a Sana, os militares, que contaram com o apoio de milícias do Iraque, Irã e Líbano, mataram vários rebeldes durante os combates e estão retirando da região, localizada ao noroeste da cidade, minas e explosivos deixados pelos opositores.
Os rebeldes afirmaram que as tropas estão avançando pelo norte e sul. O Observatório Sírio de Direitos Humanos confirmou o avanço das tropas, mas não disse em quais regiões acontecem os combates.
A ONG afirmou que grupos rebeldes lançaram projéteis contra o bairro de Al Fiai, controlado pelo regime. O ataque teria causado danos materiais.
Mísseis foram lançados em Nubul e Zahraa, que também estão sob o poder do governo.
A Sana noticiou ainda que o regime bombardeou alvos "terroristas" em Kafr Hamra, Andam, Hian. Os opositores disseram que vão lutar até o fim para defender as áreas conquistadas.
Cenário de destruição
Residentes de Aleppo afirmaram nesta terça-feira que os bombardeios diminuíram com o início da ofensiva terrestre. Mas os intensos ataques aéreos dos últimos dias deixaram marcas profundas. Moradores descrevem cenas de horror na maior cidade síria. Destroços de edifícios bloqueiam ruas e dificultam os trabalhos de regaste.
De acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos, mais de 155 pessoas foram mortas em ataques aéreos desde o anúncio da ofensiva na semana passada.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) fez um alerta sobre a situação de instalações de saúde no leste da cidade que estão, na prática, "completamente destruídas". Apenas 30 médicos restaram nas áreas controladas por rebeldes e faltam medicamentos para atender aqueles que necessitam de tratamento.
A OMS pediu ainda que sejam criados na cidade corredores humanitárias para a evacuação de doentes e feriados. Estima-se que mais de 250 mil civis estejam retidos em áreas controladas por opositores de Assad.
Desde meados de 2012, rebeldes assumiram o controle do leste de Aleppo, enquanto tropas do governo mantiveram o domínio sobre o oeste da cidade.
A recente escalada de violência foi classificada pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido como barbárie. Ambos os países acusaram Moscou de estar piorando a carnificina na Síria. A Rússia rechaçou a acusação e afirmou que esse tom poderia prejudicar o processo de paz do conflito, além das relações bilaterais.
CN/rtr/efe/afp/ap
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.