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Exílio ganha arquivo virtual

Neusa Soliz

Um monumento virtual mantém viva a recordação de artistas, escritores e intelectuais de vários países forçados a emigar.

Thomas Mann (esq.) no exílio, na chegada a NYFoto: AP

Muitos nomes constam do arquivo, alguns ainda em fase de preparação. Lá estão o ex-chanceler alemão Willy Brandt, que durante a Segunda Guerra refugiou-se na Noruega e na Suécia, bem como Marlene Dietrich, que voltou as costas à Alemanha nazista e foi cantar para os soldados americanos, e o escritor Peter Weiss, autor da "Estética da Resistência", livro que ainda está esperando tradução para o português.

Página contra a corrente neonazista na rede

Trata-se de um projeto conjunto da Sociedade Else Lasker-Schüler, de Wuppertal, do Museu Baden, da cidade de Solingen, e de um centro de pesquisa sobre literatura alemã no exílio, da Universidade de Hamburgo. A sociedade leva o nome da poeta expressionista e judia alemã que imigrou para Israel em 1933.

"Nós queremos contrapor às atividades neonazistas na rede mundial algo criativo, capaz de despertar o interesse também de gente jovem", diz Hajo Jahn, presidente da Sociedade Else Lasker-Schüler. Afinal, todos os que foram alvo de perseguição por sua obra, suas convicções ou sua origem são "personalidades dignas de orgulho e que podem servir de exemplo, numa era sem símbolos e ideais".

A história sem fim da perseguição

O trabalho, contudo, está longe de ser concluído, pois como o próprio site observa, "este centro virtual das artes perseguidas não ficará pronto nunca, pois se trata de uma história interminável. É certo que a vida dos exilados proeminentes já foi investigada. Mas foram esquecidos milhares de poetas, jornalistas, músicos, pintores, fotógrafos e cineastas, arquitetos, nomes das ciências exatas e humanas e até atletas que resistiram e foram vítimas das ditaduras".

Seus autores têm razão nesse aspecto, a censura e a perseguição a dissidentes, que afeta não apenas ativistas políticos como também muitos artistas e intelectuais, prossegue em pleno século 21. O arquivo começou pelos nomes relacionados à perseguição nazista, mas ainda há muito pela frente para dar um caráter mais internacional e atual ao site www.exil-archiv.de, o que é o objetivo dos seus organizadores: transformá-lo numa "plataforma de informação e documentação sobre temas como censura, proibição e queima de livros, perseguição e emigração de escritores, artistas plásticos e outros intelectuais no passado e no presente".

Literatura como testemunho

Relatos e entrevistas com perseguidos, textos sobre capítulos da história ligados à problemática e informação sobre países em que são violados os direitos humanos e a liberdade de opinião também estão programados.

"Se quisermos saber como foi, precisamos do testemunho literário dos atingidos. Somente então poderemos nos transportar mentalmente à época. Sem o livro, sem o poema que retrata esses destinos, sem a literatura que afina as nossas sensações à dos escritores, teríamos apenas montes de atas e arquivos, que nos sintonizam com os fatos, mas não com a alma dos que tiveram de sofrer por defender a sua verdade", coloca o escritor e dissidente alemão oriental Günter Kunert.

Fórum em Praga

Um fórum da Sociedade Else Lasker-Schüler em Praga, de 16 a 24 de outubro de 2004, é uma das atividades este ano relacionadas a literatura e exílio. Em um dos painéis, filhos de escritores alemães na antiga Tchecoslováquia trocarão suas recordações e impressões. Os alemães foram expulsos dos Sudetos em conseqüência da Segunda Guerra.

O fórum será aberto com a discussão "Tentativa de viver na verdade — a experiência de presidentes", que contará com a participação de Václav Havel (República Tcheca), Lech Walesa (Polônia), Richard von Weizsäcker (Alemanha), Arpad Göncz (Hungria) e Lennart Meri (Estônia).

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