Ex-deputado federal Rocha Loures, flagrado recebendo R$ 500 mil em propina da JBS, foi detido por determinação do ministro Fachin. Prisão de político investigado em inquérito junto com Temer preocupa Planalto.
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O ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), ex-assessor especial do presidente Michel Temer, foi preso neste sábado (03/06) pela Polícia Federal em Brasília após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato na Corte.
Loures foi detido em casa e conduzido à Superintendência da Polícia Federal na capital. A ordem de prisão autorizada por Fachin foi feita a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Loures é acusado de receber 500 mil reais em propina da empresa JBS. Ele é investigado com Temer em inquérito aberto após as delações de executivos da empresa pelos crimes de corrupção, organização criminosa e obstrução da Justiça.
O primeiro pedido de prisão tinha sido negado por Fachin, porque Loures ainda era deputado federal. Ele perdeu o cargo com o retorno do ex-ministro Osmar Serraglio, exonerado do Ministério da Justiça, à Câmara, de quem era suplente. Com a perda do foro privilegiado, Janot reiterou nesta quinta o pedido de prisão, que foi então aceito por Fachin.
O advogado do ex-parlamentar, Cezar Bittencourt, disse que a defesa está "indignada" com o fato de o STF não ter analisado os argumentos apresentados nesta sexta-feira à Justiça.
Corrupção
Em áudio gravado pelo empresário da JBS Joesley Batista, Temer teria afirmado que considerava Loures – filmado carregando uma mala de dinheiro após o encontro entre Joesley e o presidente – um intermediário para tratar com o empresário da JBS.
A possibilidade de Loures aceitar negociar um acordo de delação premiada preocupa o Planalto e pode ter consequência negativas para Temer.
Nesta semana, Fachin autorizou o interrogatório de Temer à Polícia Federal. O depoimento será prestado por escrito, a pedido da defesa. Após a entrega das perguntas, o presidente terá 24 horas para enviar as respostas.
A investigação sobre Temer e Loures foi separada do inquérito que envolve o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG). Eles eram investigados no mesmo processo no Supremo por terem sido citados nos depoimentos de Batista.
O interrogatório de Temer foi solicitado pela Procuradoria Geral da República com intuito de esclarecer a conversa mantida entre o presidente e Joesley Batista. A investigação contra o peemedebista, autorizada por Fachin em 18 de maio, apura se, nesse diálogo, Temer deu aval ao empresário para o pagamento de propina ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso desde outubro no âmbito da Lava Jato.
KG/ABr/efe/ots
A "cédula" da eleição indireta no Brasil
Com o governo Michel Temer sob pressão e, para muitos, com os dias contados, já circulam nomes no meio político e empresarial para sucedê-lo. Veja os principais.
Foto: picture alliance/AP Photo/E. Peres
Fernando Henrique Cardoso
Foi o primeiro nome colocado nas conversas no PSDB. A favor estaria a experiência e capacidade de conduzir uma espécie de pacto social para acalmar o país. Mas sua idade (85 anos) e resistência da família fizeram FHC e PSDB buscarem outras opções. Seu nome seria alvejado por partidos de esquerda e movimentos sociais ligados ao PT, o que criaria obstáculos à retomada de votações no Congresso.
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Tasso Jereissati
O senador cearense, que governou o Ceará por duas vezes, foi convocado às pressas para assumir o comando do PSDB diante da decadência política de Aécio Neves. Empresário bem-sucedido, ele já foi muito próximo dos ex-presidentes Sarney e Collor. Tasso é visto com simpatia no PSDB e, sobretudo, pelo mercado. Porém, é forte a resistência do PMDB, que não aceita dar o comando do país a um tucano.
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Nelson Jobim
Jobim aparece como possível candidato em 2018 desde que ficou evidente a queda de Dilma. Jobim é filiado ao PMDB e foi ministro da Justiça de FHC e da Defesa de Lula. De todos os nomes mencionados, é o único que não sofreria tanta resistência interna do PT. O obstáculo central é sua ligação com o banco de André Esteves, preso na Lava Jato, e também com empreiteiros investigados na operação.
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Rodrigo Maia
Presidente da Câmara e filiado ao DEM, Maia chegou ao cargo com aval de Temer. Seu nome conta com a simpatia do chamado Centrão, que era ligado a Eduardo Cunha e que migrou à base aliada de Temer. Maia não é réu, porém, é investigado na Lava Jato. Mas a instabilidade política e extensão das investigações recomendam que se evite colocar como presidente um nome sobre o qual pairam mínimas suspeitas.
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Henrique Meirelles
Ministro da Fazenda, seu nome aparece como fiador do mercado e da possibilidade de manter a economia minimamente sob controle. O problema central é sua ligação com o grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Em 2012, ele foi contratado para presidir o conselho consultivo da holding. A ligação com Joesley, o delator que implicou Temer, torna inviável o apoio de setores do PMDB e do PSDB.
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Pedro Simon
Ex-senador, do PMDB, Simon sempre foi visto como um exemplo de ética dentro do Congresso, onde permaneceu por quase três décadas. Seu nome começou a ser aventado dentro do PSDB e do PMDB nos últimos dias. O peemedebista, porém, também teria a idade a seu desfavor: Simon tem hoje 87 anos.
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Cármen Lúcia
Presidente do Supremo Tribunal Federal, o nome da mineira apareceu logo nas primeiras horas após a bomba contra Michel Temer estourar. A ministra do STF, porém, não é filiada a nenhum partido político (o que pode se tornar um impeditivo para que possa concorrer) e já deixou claro que não pretende abandonar a magistratura.