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História

Ex-desertor e ativista antinazismo morre aos 97 anos

20 de abril de 2020

Assim como muitos outros desertores das tropas de Hitler, durante muitos anos o austríaco Richard Wadani foi considerado "porco" traidor e covarde, por ter se recusado a lutar pelo nazismo e aderido aos Aliados.

Richard Wadani
Richard Wadani liderou uma campanha para reabilitar os que se recusaram a lutar por Adolf HitlerFoto: picture-alliance/APA/G. Hochmuth

O austríaco Richard Wadani, que desertou das Forças Armadas nacional-socialistas e, décadas mais tarde, liderou uma campanha para reabilitar os que se recusaram a lutar por Adolf Hitler, morreu aos 97 anos, neste domingo (19/04), em Viena.

Nascido em Praga em 1922 como Richard Weddenig, ele se mudou para Viena, cidade natal de sua mãe, em 1938. Wadani foi então convocado para o Exército alemão e, dois anos depois de uma primeira tentativa fracassada de deserção, em 1944 foi bem-sucedido e juntou-se às Forças Aliadas perto de Aachen, na Alemanha.

Terminada a Segunda Guerra Mundial, em 1946 Wadani voltou a Viena, trabalhando principalmente como treinador de voleibol. "Quando apareci na agência de emprego com meu uniforme do Exército britânico, fui mandado embora com as palavras: 'Como é que ousou servir um Exército estrangeiro?'", comentou certa vez. Ainda muitos anos após seu retorno, continuou sendo acusado de traidor e covarde por ter servido nas tropas britânicas.

"Com esta morte, nosso país perde um grande austríaco", comentou o presidente da Áustria, Alexander Van der Bellen, para quem "Richard Wadani representava valentia, coragem moral e um senso de justiça inabalável".

Segundo o grupo de campanha Justiça para as Vítimas do Judiciário Militar Nazista, de que foi cofundador, "é graças a seus esforços incansáveis, ao longo de décadas, que os desertores das Forças Armadas nazistas e todas as outras vítimas do Judiciário militar nazista estão legalmente reabilitadas".

Wadani e seus associados fundaram a organização em 2002, visando justiça para os que desertaram das tropas nazistas. Foram precisos sete anos até a Áustria e a Alemanha anularem todas as condenações dos que haviam se recusado a lutar. Em 2014, finalmente inaugurou-se no centro da capital austríaca um monumento em honra dos cidadãos executados por desertarem ou se recusarem a combater pelos nazistas no conflito que durou de 1939 a 1945 – cujo número é estimado em 1.500.

Naquele mesmo ano, numa entrevista à agência de notícias AFP, Wadani classificou o Terceiro Reich alemão, que anexou a Áustria em 1938, como "um regime pelo qual, moralmente, não se podia lutar". "Mas depois da guerra, era mais fácil apontar o dedo para os desertores, em vez de explicar à grande maioria que lutara que eles tinham sido enganados." Assim "muitos desertores morreram amargurados, considerados como 'porcos' por terem arriscado suas vidas para se opor aos nazistas".

Para os que se recusaram a lutar do lado alemão ou foram apanhados desertando, pronunciaram-se cerca de 30 mil sentenças de morte, das quais 20 mil foram aplicadas, sendo 1.500 contra austríacos. Por outro lado, centenas de milhares de cidadãos da Áustria serviram as Forças Armadas hitleristas.

Historiadores apontam que, embora muitos dos carrascos do nazismo, incluindo o próprio Hitler, fossem austríacos, por muitos anos a república alpina se recusou a reconhecer a própria responsabilidade no Holocausto e em outros crimes do regime.

AV/afp/ots

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