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Ex-embaixador acusa papa de encobrir abusos

26 de agosto de 2018

Antigo representante da Igreja nos EUA divulgou carta em sites conservadores pedindo renúncia de Francisco. Segundo ele, papa não agiu após ser informado em 2013 sobre comportamento predatório de arcebispo de Washington.

Irland | Besuch Papst Franziskus
Foto: picture-alliance/dpa/Catholic Press Photo

Um antigo núncio (embaixador) do Vaticano nos EUA divulgou neste domingo (26/08) uma carta na qual acusa o papa Francisco de encobrir casos de abusos sexuais cometidos por um clérigo americano. No documento de 11 páginas, o italiano Carlo Maria Viganò, de 77 anos, também pede a renúncia de Francisco.

Segundo Viganò, ele informou o próprio Francisco em 2013 que Theodore McCarrick, ex-cardeal e ex-arcebispo de Washington, se relacionava sexualmente com jovens seminaristas. "Ele sabia, pelo menos desde 23 de junho de 2013, que McCarrick era um predador", disse Viganò.

Ainda de acordo com Viganò, o antecessor de Francisco, Bento 16, chegou a punir McCarrick em 2009 e 2010 e condená-lo internamente a uma vida de penitência. No entanto, segundo ele, Francisco reabilitou o arcebispo quando assumiu o papado.

Viganò serviu como embaixador do Vaticanos nos EUA entre 2011 e 2016. Em sua carta, ele aponta que seus antecessores no cargo já haviam alertado outros altos membros do Vaticano sobre o comportamento do clérigo ainda no ano 2000, mas foram ignorados. Segundo ele, clérigos do Vaticano formaram um "lobby gay" para encobrir as ações de McCarrick.

O arcebispo também descreve as circunstâncias em que teria relatado a Francisco como McCarrick se comportava. Segundo ele, os dois se encontraram em 2013, poucos meses após Francisco assumir o papado. O papa teria perguntado a Viganò sobre o que ele achava de McCarrick. "Santo Padre, eu não sei se você conhece o cardeal McCarrick, mas se você perguntar à Congregação dos Bispos, há um dossiê espantoso sobre ele. Ele corrompeu gerações de seminaristas e padres e o papa Bento ordenou que ele se retirasse para uma vida de oração e penitência", teria respondido Viganò.

O arcebispo ainda relata que ficou espantado ao descobrir poucos meses depois que McCarrick havia assumido novas funções na Igreja, inclusive como um dos intermediários do Vaticano na aproximação diplomática entre Cuba e Estados Unidos. 

O ex-cardeal Theodore McCarrick, que foi acusado de abuso sexual. Foto: picture alliance/dpa/Pool South Bend Tribune/R. Franklin

Em julho deste ano, Francisco aceitou a renúncia de McCarrick, hoje com 88 anos, após uma investigação da Igreja concluir que uma acusação sobre o abuso de um adolescente de 16 anos pelo clérigo nos anos 1970 era "crível e fundamentada". Desde então, outros homens se apresentaram e afirmaram que sofreram abusos por parte de McCarrick. Um deles contou que tinha 11 anos quando passou a ser molestado.

"Só quando ele (Francisco) foi forçado pela denúncia de um menor, e sempre procurando os aplausos dos meios de comunicação, tomou medidas para, assim, salvaguardar a sua imagem de mídia", acusa Viganò.

A carta de Viganò foi publicada em sites católicos ultraconservadores, como o InfoVaticana e o The National Catholic Register, que têm posição crítica ao papado de Francisco. Viganò também não apresentou provas ou documentação para sustentar as acusações.

 Ao final do documento, Viganò pede a renúncia do papa.

"Neste momento extremamente dramático para a Igreja Católica, ele tem de reconhecer os seus erros e, em respeito pelo princípio de tolerância zero que está a proclamar, o papa Francisco deve ser o primeiro a dar o exemplo aos cardeais e bispos que ajudaram a encobrir os abusos do cardeal McCarrick, e ser o primeiro a renunciar", disse.

O documento foi divulgado enquanto o papa ainda se encontrava em viagem de dois dias à Irlanda. No sábado, ele reconheceu em Dublin o fracasso da Igreja Católica irlandesa para enfrentar adequadamente o que chamou de "crimes repugnantes" de membros do clero local.

"Não posso deixar de reconhecer o grave escândalo causado na Irlanda pelos abusos a menores por parte de membros da Igreja encarregados de protegê-los e educá-los", disse.

Desde 2002, cerca de 14.500 pessoas se declararam vítimas de abusos sexuais cometidos por padres na Irlanda.

JPS/ap/afp/rt

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