Ex-diretores da Ford condenados por crimes na "guerra suja"
12 de dezembro de 2018
Dois ex-funcionários foram considerados culpados de participar de sequestro e tortura de sindicalistas nos anos 1970. Vítimas foram mantidas em cativeiro na própria sede da montadora, nos arredores de Buenos Aires.
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Um tribunal argentino condenou dois ex-diretores de uma fábrica local da montadora americana Ford por participarem do sequestro de trabalhadores da companhia durante a ditadura do país na década de 1970, afirmou uma advogada das vítimas dos crimes nesta terça-feira (11/12).
O caso envolve o sequestro de 24 pessoas em 1976 que trabalhavam em uma fábrica da Ford nos arredores de Buenos Aires.
É a primeira vez que ex-funcionários de uma multinacional com atuação na Argentina durante a ditadura foram condenados por crimes contra a humanidade.
Os ex-diretores locais da Ford Pedro Muller e Hector Sibilla foram condenados a 10 e 12 anos de prisão, respectivamente, pelo envolvimento no sequestro e tortura dos trabalhadores, disse Elizabeth Gomez Alcorta, uma advogada que representa as vítimas. Sibilla é ex-diretor de segurança da empresa e Pedro Muller, ex-gerente de manufatura.
Eles foram acusados de fornecer fotografias, endereços residenciais e outros dados pessoais das vítimas aos agentes. Ainda segundo a denúncia, dupla também "permitiu que um centro de detenção fosse montado dentro das instalações da fábrica, na área de lazer, para que os sequestrados pudessem ser interrogados".
Nesse local, eles foram algemados, espancados e tiveram seus rostos cobertos para que eles não pudessem ver quem estava conduzindo o interrogatório.
A Argentina foi governada por uma ditadura militar entre os anos de 1976 a 1983.Cerca de 30 mil pessoas foram assassinada no período.
A Ford Argentina disse em nota que não foi parte envolvida no processo e que cooperou inteiramente com os promotores.
Muller e Sibilla "forneceram os meios necessários" para agentes da ditadura identificarem membros importantes do sindicato que representava trabalhadores da fábrica "para que eles pudessem ser detidos", segundo uma nota da agência oficial de informações do Judiciário da Argentina.
Questionado sobre os próximos passados, Tomas Ojea Quintana, outro advogado das vítimas, disse que eles estão avaliando processar a Ford Motor nos Estados Unidos.
"Está claro que a Ford Motor Company tinha controle da subsidiária argentina durante a década de 70. Portanto, há uma responsabilidade direta da Ford Motor Company e isso pode nos dar a possibilidade de levar o caso a tribunais dos EUA", disse ele.
JPS/rt/efe/afp
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Regime militar que sufocou a democracia se estendeu por 21 anos. Período foi marcado por perseguições, tortura, censura, crescimento e derrocada econômica.
Foto: Arquivo Nacional
A perseguição política
A perseguição de adversários se concentrou nos meses após o golpe de 1964 e entre o final da década de 60 e início dos anos 70. Mais de 5 mil pessoas foram alvo de punições como demissões, cassações e suspensão de direitos políticos. Ao todo, 166 deputados foram cassados. O regime também perseguiu membros em suas fileiras. Pelo menos 6.951 militares foram presos, desligados e presos.
Foto: Arquivo Nacional
Assassinatos e desaparecimentos
Assim como a perseguição política, os assassinatos de opositores promovidos pelo regime se concentraram em algumas fases da ditadura. Mas todos os generais-presidentes foram tolerantes com a prática. A Comissão Nacional da Verdade (CNV) apontou a responsabilidade do regime militar pela morte de 224 pessoas e pelo desaparecimento de 210 – 228 delas morreram durante o governo Médici (1969-1974).
Foto: Arquivo Nacional
Tortura
Na ditadura, a tortura virou uma prática de Estado. Já no governo Castelo Branco (1964-1967) foram apresentadas 363 denúncias de tortura. Na fase de Médici (1969-1974), seriam mais de 3.500. O relatório "Brasil: Nunca Mais" lista 283 formas de tortura aplicadas pelo regime, como afogamentos, choques elétricos e o pau de arara. Ao longo de 21 anos, houve mais de 6 mil denúncias de tortura.
Foto: Arquivo Nacional
A luta armada
Ao dar o golpe, os militares citaram a corrupção e o esquerdismo do governo Jango. A luta armada, às vezes apontada como razão de ser da ditadura, nem foi mencionada. Só em 1966 ocorreram as primeiras ações relevantes de grupos de esquerda, que cometeriam atentados e assaltos com o objetivo de promover uma revolução. Em 1974, todos já haviam sido aniquilados, mas a ditadura duraria mais uma década
Foto: Arquivo Nacional
Os atos institucionais
O regime militar recorreu a uma série de decretos chamados atos institucionais para manter seu poder. Entre 1964 e 1969 foram promulgados 17 atos, que estavam acima até da Constituição. Alguns promoveram a cassação de adversários (AI-1) e a extinção dos partidos políticos existentes (AI-2). O mais duro deles, o AI-5, instituiu em 1968 a censura prévia na imprensa e a suspensão do "habeas corpus".
Foto: Arquivo Nacional
A censura
Boa parte da imprensa apoiou o golpe, mas vários jornais passaram a criticar o regime, alguns mais cedo, outros mais tarde. Com o AI-5, passou a vigorar uma censura prévia em vários meios de comunicação. O regime censurava até más notícias, promovendo uma imagem fictícia da realidade do país. Epidemias, desastres e atentados eram temas vetados. Músicas, filmes e novelas também foram censurados.
Foto: Arquivo Nacional
Colaboração com outras ditaduras
Junto com os regimes da Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai, a ditadura brasileira integrou a Operação Condor, uma aliança para perseguir opositores no Cone Sul. O regime também ajudou a treinar oficiais chilenos em técnicas de tortura. Um dos casos mais notórios de colaboração foi o sequestro em 1978 de dois ativistas uruguaios em Porto Alegre, que foram entregues ao país vizinho.
Foto: Biblioteca da Presidência da República
O milagre econômico...
Após três anos de ajustes, os militares promoveram a partir de 1967 investimentos e oferta de crédito. A fórmula deu resultados. Entre 1967 e 1973, a expansão do PIB brasileiro foi de 10,2% ao ano. O país passou a ser a décima economia do mundo. O crescimento aumentou a popularidade do regime durante a fase mais repressiva da ditadura. Mas o "milagre brasileiro" duraria pouco.
Foto: Arquivo Nacional
... e a derrocada econômica
A conta do "milagre" chegou após os dois choques do petróleo e uma série de decisões desastradas para manter a economia aquecida. Ao fim da ditadura, o país acumulava dívida externa 30 vezes maior que a de 1964 e inflação de 225,9% ao ano. Quase 50% da população estava abaixo da linha de pobreza. Os militares pegaram um país com graves problemas econômicos e entregaram um quebrado.
Foto: Biblioteca da Presidência da República
Corrupção
A censura e a falta de transparência favoreceram a corrupção. O período foi marcado por vários casos, como o Coroa-Brastel, Delfin, Lutfalla e a explosão de gastos em obras. O regime promoveu e protegeu figuras como Paulo Maluf e Antônio Carlos Magalhães, que já nos anos 70 eram suspeitos em casos de corrupção. Também abafou casos, como a compra superfaturada de fragatas do Reno Unido nos anos 70.
Foto: Biblioteca da Presidência da República
Grandes obras
A ditadura promoveu obras faraônicas, divulgadas com propaganda ufanista, como Itaipu e a ponte Rio-Niterói. Algumas foram marcadas por desperdícios e erros, como a Transamazônica e as usinas de Angra. Em 1969, o regime criou uma reserva de mercado para as empreiteiras nacionais ao proibir a atuação de estrangeiras. É nessa época que empresas como a Odebrecht passam a dominar as obras no país.
Foto: Arquivo Nacional
Anistia e falta de punições
Em 1979, seis anos antes do fim da ditadura, foi promulgada a Lei da Anistia, perdoando crimes cometidos por motivação política. Mas ela tinha mão dupla: garantiu também a impunidade para agentes responsáveis por mortes e torturas. No Chile e na Argentina, dezenas de agentes foram condenados por violações de direitos humanos após a volta da democracia. No Brasil, ninguém foi punido.