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Ex-guarda nazista pede desculpas pelo Holocausto

21 de julho de 2020

Em julgamento por cumplicidade no assassinato de milhares de pessoas, ex-vigia de campo de concentração, de 93 anos, afirma que "inferno de loucura" vivido pela vítimas do nazismo jamais deve se repetir.

Bruno D., acusado de cumplicidade no assassinato de 5.230 pessoas no Holocausto, durante  julgamento
Bruno D., acusado de cumplicidade no assassinato de 5.230 pessoas, durante o julgamento nesta segunda-feiraFoto: picture-alliance/dpa/A. Heimken

Um ex-guarda nazista julgado na Alemanha por sua participação no assassinato de milhares de pessoas encerrou uma audiência nesta segunda-feira (20/07) com um pedido de desculpas às vítimas do Holocausto. O réu, que serviu de vigia num campo de concentração no norte da Polônia no final da Segunda Guerra Mundial, deverá agora aguardar sua sentença, cujo pronunciamento está marcado para a próxima quinta-feira. 

"Hoje eu gostaria de pedir desculpas àqueles que passaram por esse inferno de loucura e a seus parentes – algo assim jamais deve se repetir", disse Bruno D., de 93 anos, perante o tribunal em Hamburgo.

Ele acrescentou ainda que jamais tivera a intenção de assumir tal cargo. "Gostaria de enfatizar mais uma vez que nunca teria me voluntariado para a SS [organização paramilitar ligada ao Partido Nazista] ou para qualquer outra unidade, muito menos para um campo de concentração", afirmou.

Segundo a defesa, o réu só tomou conhecimento da verdadeira extensão das atrocidades cometidas no campo através do depoimento das testemunhas. 

Bruno D. é acusado de cumplicidade no homicídio de 5.230 pessoas no campo de concentração e extermínio de Stutthof, nas proximidades da antiga Danzig (atualmente Gdansk). Ele serviu no local entre agosto de 1944 e abril de 1945.

Inicialmente destinado a prisioneiros políticos poloneses, o campo de concentração de Stutthof foi o primeiro a ser construído fora da Alemanha, no ano de 1939. No final da Segunda Guerra, o campo abrigava cerca de 115 mil deportados, muitos deles judeus, e 65 mil pessoas morreram no local.

Memorial do campo de concentração de Stutthof, na PolôniaFoto: Getty Images/B. Adams

Em sua defesa, o advogado Stefan Waterkamp salientou que seu cliente, então com 17 e 18 anos de idade, não teve escolha, dadas as circunstâncias da época. Ele afirmou que não é de se esperar que justamente um adolescente "dançasse fora da linha" num campo de concentração.

Ele afirmou também que o papel de Bruno D. não deve ser julgado pelos padrões de hoje, pois o serviço num campo de concentração estatal, de acordo com a visão predominante na época, não era "nenhum crime". 

Após a derrota do nazismo, Bruno D. passou um curto período num campo de prisioneiros e depois acabou por levar uma vida normal como padeiro. Ele se casou e teve duas filhas e chegou a complementar sua renda como motorista de caminhão e com outros serviços.

Durante décadas, a Justiça não abriu processos contra ele, pois ele não era considerado diretamente responsável por crimes de guerra. Em abril do ano passado, porém, o Ministério Público de Hamburgo registrou uma acusação formal, apoiada nos depoimentos dos parentes das vítimas, alguns dos quais agora compareceram ao julgamento.

Seu julgamento é considerado um dos últimos envolvendo crimes do nazismo. Outros casos semelhantes investigados nos últimos anos foram arquivados devido à incapacidade do réu de responder à Justiça por razões de idade ou saúde.

A defesa encerrou o turno das acusações pedindo a absolvição de Bruno D., com o argumento de que o fato de ter servido num campo nazista não implica cumplicidade nos crimes cometidos no local. O Ministério Público, por seu lado, pediu três anos de prisão.

IP/afp/efe/ots

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