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MúsicaAlemanha

Ex-Einstürzende Neubauten lança disco inspirado na natureza

19 de dezembro de 2012

Gudrun Gut é uma das artistas mais atuantes da cena musical berlinense. Em "Wildlife", seu segundo disco solo, ela investe de novo na música eletrônica, mas desta vez foi buscar inspiração no campo.

Foto: Malte LudwigsMalte Ludwigs

Gudrun Gut foi para Berlim no final da década de 1970 para estudar arte. Desde então, quase nenhum artista teve uma participação tão ativa na cena alternativa da cidade.

Ela foi um dos membros fundadores de bandas relevantes do pós-punk, como Mania D e Malaria!, além de fazer parte de outros grupos importantes, como Einstürzende Neubauten e Matador.

Baterista e percussionista, a jornada da artista pela música inclui diversas colaborações e projetos, sempre explorando sintetizadores e música eletrônica. No final da década de 1990, ela fundou uma gravadora e colaborou com artistas como Atari Teenage Riot e Chicks on Speed.

Sua inclinação para as experimentações na música eletrônica aparecem de forma pop e orgânica em seu mais recente trabalho, Wildlife. Gravado numa casa de campo, o disco é um dos mais desafiadores e interessantes de 2012.

Recém chegada de uma viagem ao Peru, onde além de tocar ao vivo participou de workshops sobre seu trabalho e a presença da mulher no universo musical, Gudrun Gut conversou com a DW Brasil sobre as suas fontes de inspiração para o novo disco e o multiculturalismo em Berlim.

Gudrun Gut em ação: "Quero aprender a tocar samba"Foto: gudrungut.com/Volksbühne Berlin

DW Brasil: Qual era a ideia por trás de Wildlife?

Gudrun Gut: Pensei em o que realmente queria dizer e no grande prazer que queria oferecer ao mundo. Antes de fazer um álbum, sempre penso nos temas que quero abordar. Sou uma garota da cidade, mas hoje em dia passamos quase o dia todo no computador, em um mundo virtual. Queria compartilhar as sensações de estar em um ambiente natural e ver a natureza evoluindo.

Você estava procurando algo na natureza com o que você poderia se identificar?

Queria levar o amor à natureza para o álbum, como tema. Acho difícil escrever em Berlim porque a cidade é muito agitada. Para fazer um álbum, tenho que estar bem concentrada para poder realmente mergulhar na música. A segurança que a natureza me deu também ajudou.

A intenção era fazer um disco conceitual?

Não, a natureza é mais a inspiração para o álbum. Percebi que a natureza tem despertado muito interesse nas pessoas em Berlim. Até a Documenta tratou do assunto. O tema está no ar.

Você queria fugir da ideia da natureza como algo ideal e romântico?

Sim. Os seres humanos deveriam ser um pouco mais conscientes e cuidadosos com suas próprias vidas. Queria fazer uma critica à maneira como lidamos com a vida de um modo geral.

O campo lhe deu uma perspectiva diferente de sua própria vida?

Às vezes é muito útil se confrontar com o nada. Na cidade vivemos em um mundo construído pelo homem. Quando estamos na natureza, somos realmente confrontados com nós mesmos, com nossa própria vida selvagem. Vou a restaurantes e vejo casais que não conversam, mas não param de mandar mensagens de textos. As pessoas têm milhares de amigos no Facebook, mas eles só interagem através do computador.

Gudrun Gut: "Acho muito importante ouvir a voz da mulher na cultura pop"Foto: gudrungut.com/Mara von Kummer

Você compôs o disco todo no campo?

Sim. Levei pouco mais de um ano para compor e gravar todo o disco.

A mudança das estações foi uma grande influência?

As estações são mais extremas quando não estamos na cidade. É muito intenso. Todo o meu trabalho é um reflexo das experiências que tive, mas tento transcender à minha pessoa quando crio minha música. Não é como um diário, e sim como uma reflexão, uma abstração do que vivi.

Como você traduziu esses elementos musicalmente no álbum?

Eu queria tocar bateria e não guitarra, algo que eu fiz nos últimos dois discos que trabalhei. Gravei a bateria e depois recriei o que tinha feito ao vivo no computador. Deixei-me levar enquanto gravava e depois passei um longo tempo trabalhando e editando esse material. O grande trabalho veio de moldar essas canções. Minha parte favorita é compor e escrever as letras.

A bateria é um instrumento próximo ao seu jeito de ser?

Acredito que sim, apesar de eu não ser uma boa baterista. Adoro percussão. Tive uma experiência incrível em Lima tocando com um grupo feminino de percussão. Quero aprender a tocar samba.

Há alguma diferença entre escrever em inglês ou alemão?

Não. Há muitas letras em alemão nesse disco, pois escrevia logo que acordava. Era algo como uma escrita inconsciente. Muitos artistas usam drogas para liberar a mente. Você pode fazer o mesmo sem drogas, se estiver meio adormecido.

Como você recria sua música ao vivo?

Faço versões levemente diferente das canções e busco criar novos elementos ao vivo e assim me comunicar com a plateia. Eu também criei vídeos e projeções para cada uma das faixas. Acho que essas imagens dão uma visão maior de quem eu sou como artista.

Qual a grande inspiração para o seu trabalho?

Não vivo muito no passado. Busco inspiração na realidade, no aqui e agora.

Berlim é importante em sua música?

Muito, vivo numa cidade muito livre e aberta. Amo Berlim. A cidade está em constante mutação. Nos últimos anos, artistas de todo o mundo se mudaram para cá, para trabalhar e produzir. Esse multiculturalismo é muito importante para a cena local.

Suas primeiras bandas eram conhecidas por provocar e inovar. Isso é algo que você ainda busca?

Hoje as coisas são um pouco diferentes, mas algumas questões ainda são importantes. As mulheres ainda não ganham o mesmo que os homens, mas houveram muitas mudanças. Hoje, especialmente em Berlim, vejo diversos homens tomando conta de seus filhos pequenos. Isso mostra uma mudança na sociedade. As crianças agora têm contato com o pai. Eu nunca via meu pai.

O mundo da música está mais democrático para as mulheres?

Um pouco. Acredito que as mulheres são apenas 10% na indústria da música. A maioria das atrações dos festivais ou jornalistas que escrevem sobre música são homens. Acho muito importante ouvir a voz da mulher na cultura pop. Somos boas em começar movimentos, mas, na hora de profissionalizar, muitas de nós perdem um pouco o interesse.

Entrevista: Marco Sanchez

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