Ex-membro do Comitê Executivo da Fifa admite corrupção
4 de junho de 2015
Chuck Blazer confessa ter recebido suborno, ao lado de outros integrantes da federação, no contexto da escolha das sedes das Copas do Mundo de 1998 e 2010. "Eu sabia que minhas ações eram incorretas", diz.
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Chuck Blazer, ex-membro do Comitê Executivo da Federação Internacional de Futebol (Fifa), disse a um juiz federal dos EUA ter concordado em receber suborno para a escolha das sedes das Copas de 1998 e 2010.
"Eu e outros membros do Comitê Executivo da Fifa concordamos em aceitar suborno no contexto da seleção da África do Sul como país-sede da Copa do Mundo de 2010", diz a transcrição de uma audiência de 2013, divulgada nesta quarta-feira (03/06).
"Concordei junto a outras pessoas, por volta de 1992, em facilitar a aceitação de um suborno no contexto da seleção do país-sede da Copa do Mundo de 1998", afirmou Blazer. "Eu sabia na época que minhas ações eram incorretas."
De acordo com autoridades dos EUA, a cooperação de Blazer ajudou a construir um complexo caso de corrupção que levou a acusações contra dirigentes da Fifa e à renúncia do presidente da entidade, Joseph Blatter.
A Copa do Mundo de 1998 foi sediada pela França, mas um documento judicial contém a alegação de que o Marrocos subornou outro membro da Fifa e que Blazer atuou como intermediário. No caso da Copa de 2010, a acusação formal diz que a África do Sul pagou 10 milhões de dólares para conseguir o direito de sediar o torneio. O país confirmou o pagamento, mas disse que foi uma doação para o apoio ao desenvolvimento do futebol no Caribe, e não um suborno.
Blazer, de 70 anos, foi membro do Comitê Executivo da Fifa de 1997 a 2013. Também foi secretário-geral da Confederação de Futebol das Américas do Norte, Central e Caribe (Concacaf) de 1990 a 2011. Além das Copas do Mundo, ele também aceitou suborno para as cinco edições do principal torneio da Concacaf, a Copa Ouro, entre 1996 e 2003.
LPF/ap/rtr
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.