Ex-ministro disputará presidência do partido de Merkel
18 de fevereiro de 2020
Norbert Röttgen é o primeiro a anunciar oficialmente sua candidatura à liderança da CDU. Apadrinhada de Merkel renunciou ao cargo, trazendo a público a luta de poder dentro do partido conservador.
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Norbert Röttgen, ex-ministro alemão do Meio Ambiente, tornou-se o primeiro nome proeminente da política alemã a declarar oficialmente sua candidatura à liderança da União Democrata Cristã (CDU), partido de centro-direita da chanceler federal Angela Merkel.
O atual presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento em Berlim anunciou sua inesperada decisão na capital alemã, nesta terça-feira (18/02). No entanto, suas chances são, na melhor das hipóteses, incertas diante dos três potenciais concorrentes que até agora chamaram mais atenção: Friedrich Merz, ex-líder da bancada parlamentar da CDU; o governador do estado da Renânia do Norte-Vestfália, Armin Laschet; e o ministro alemão da Saúde, Jens Spahn.
Na disputa pelo cargo, a atual presidente da União Democrata Cristã, Annegret Kramp-Karrenbauer (AKK), derrotou Merz e Spahn no fim de 2018. No entanto ela ainda lutava para impor sua autoridade quando se viu em meio a uma grave crise provocada pela aliança de sua legenda com populistas de direita na eleição para o governo do estado alemão da Turíngia.
Em consequência, Kramp-Karrenbauer anunciou em 10 de fevereiro que não concorreria ao cargo de chanceler federal e deixaria a liderança da CDU, mantendo-se apenas no posto de ministra da Defesa.
Antes, Angela Merkel, chefe do governo alemão desde 2005, afirmara que não buscará um quinto mandato como premiê na próxima eleição geral, prevista para o fim de 2021. A saída de AKK, clara preferida de Merkel, traz a público a luta de poder dentro do partido.
A candidatura de Röttgen pode atrapalhar os apelos de alguns membros da CDU para que os principais candidatos cheguem a uma solução conjunta, evitando uma prolongada luta pública pela liderança partidária. Segundo o ex-ministro, porém, a corrida não deveria ser apenas sobre "três aspirantes ficarem mais ou menos satisfeitos, e aí temos paz", mas sobre "um posicionamento estratégico e substancial da CDU".
Em coletiva de imprensa de 80 minutos, Röttgen deixou claro que não se sente vinculado às diretrizes partidárias. Ele defendeu uma consulta antecipada entre os membros da legenda sobre a liderança partidária – algo que o diretório nacional da CDU quer evitar – e afirmou considerar "inimaginável" que o próximo líder do partido seja eleito apenas no congresso nacional, em dezembro próximo.
Indiretamente, ele apontou o dedo para o estilo político da chanceler federal, criticando que a política na Alemanha só reage a crises, em vez de assumir uma atitude proativa. Como exemplo, o especialista em política externa mencionou os possíveis novos movimentos de refugiados da Síria. "Temos que começar a conversar sobre política à nossa maneira, fazer sugestões e tomar conhecimento do que é a realidade de hoje", alertou.
Röttgen também traçou "pontos importantes" de sua candidatura, defendendo uma CDU como "partido do centro", que se distingue da populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e do partido A Esquerda. Além disso, mencionou a superação do abismo entre o Leste e Oeste do país, ou seja, entre os estados das antigas Alemanha Oriental e Ocidental; a recuperação da credibilidade na política climática, mais ordem na política migratória e o posicionamento da Alemanha como país europeu e transatlântico.
O político de 54 anos foi ministro alemão do Meio Ambiente até 2012, quando foi expulso do gabinete por ordem de Angela Merkel, após sofrer uma derrota esmagadora como principal candidato na eleição estadual da Renânia do Norte-Vestfália. Ele permaneceu como deputado federal no Bundestag, fazendo da política externa seu novo foco.
Ao jornal Rheinische Post, o pré-candidato afirmou que o que está em jogo agora é muito mais do que a presidência do partido: a situação é tão séria, que se trata do futuro da CDU e o que ele significa para a estabilidade da Alemanha. Ele quer levar isso a seu partido num processo aberto, completou Norbert Röttgen.
Quanto ganha um deputado federal alemão? E a chanceler Angela Merkel e o presidente Steinmeier? Além do salário, parlamentares e autoridades governamentais alemães têm vários outros benefícios.
Foto: picture alliance/dpa/L.Schulze
Salário da chefe de governo
Além de um salário de 18,7 mil euros, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, tem direito como membro do Parlamento à metade da "dieta" de um deputado federal, ou seja, 4,8 mil euros, como também a uma ajuda de custo livre de impostos de 3,3 mil euros e a outros benefícios. No total, sua remuneração chega a cerca de 28,8 mil euros mensais ou quase 345 mil euros (1,55 milhão de reais) anuais.
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Apartamento funcional
A chefe de governo também tem direito a uma residência completamente equipada. Na Chancelaria Federal (foto), no centro de Berlim, há um apartamento funcional no oitavo andar à sua disposição, mas Angela Merkel preferiu continuar vivendo em sua antiga moradia num prédio de quatro pavimentos onde mora com o esposo em frente à Ilha dos Museus, não muito longe do seu local de trabalho.
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Aviões governamentais
Um Airbus serve ao transporte aéreo da chanceler Angela Merkel e do presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier. Depois que panes em antigos aviões da frota governamental de 14 aeronaves levaram Merkel a chegar atrasada ao G20 em Buenos Aires no final do ano passado, o governo em Berlim anunciou a compra de três novos A350-900. Planeja-se também uma aeronave reserva sempre à disposição.
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Stylist, guarda-costas e motorista
Obviamente Angela Merkel tem uma assessora que cuida de seu visual, como também uma chefe de gabinete que trata de sua agenda. Sua proteção é assegurada por uma equipe de 15 a 20 guarda-costas, que trabalham em turnos. O motorista da chefe de governo dirige um Audi A8 blindado. A frota da Chancelaria Federal abrange 20 carros, todos de marcas alemãs: Mercedes, BMW, Audi e Volkswagen.
Foto: Imago
"Dieta" de deputados
Na Alemanha, os 709 parlamentares em Berlim não recebem oficialmente um salário, mas um subsídio também chamado de "dieta". Atualmente, ela corresponde a 9.780 euros, mas é corrigida anualmente em 1° de julho, conforme o aumento do custo de vida. Neste ano, a "dieta" dos deputados federais alemães ultrapassará os 10 mil euros. Esse aumento também afetará as pensões dos parlamentares.
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Aposentadoria parlamentar
A cada ano no Bundestag, um deputado alemão tem direito a 2,5% de sua remuneração para sua aposentadoria, ou seja, mais de 251 euros em 2019. A taxa máxima de 67,5%, a ser paga a partir de 67 anos de idade, é alcançada após 27 anos de trabalho parlamentar. Junto a "dieta" e pensão, os parlamentares em Berlim também têm outros benefícios.
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Ajuda de custo e viagens de trem
Além de sua remuneração, cada parlamentar alemão recebe mensalmente uma quantia de 4.418 euros, livre de impostos e corrigida a cada 1° de janeiro. Ele serve para cobrir os custos incorridos no contexto do mandato político, como acomodação e refeições. Despesas de viagens oficiais são ressarcidas, e cada deputado tem direito a viajar gratuitamente de primeira classe em trens na Alemanha.
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Parentes às próprias custas
Os parlamentares também têm direito a atuais 21.536 euros mensais para despesa com funcionários. O dinheiro é pago diretamente aos empregados. Se o parlamentar empregar algum familiar, ele vai ter que pagá-lo do seu próprio bolso. O Parlamento também possui um serviço de motoristas que funciona dentro da cidade de Berlim e que pode ser requisitado pelos deputados caso necessitem.
Foto: picture alliance/Markus C. Hurek
Ajuda de reinserção
Os deputados também podem exercer atividades paralelas à sua função no Bundestag, como em conselhos de empresas. O ganho proveniente de tais atividades não é descontado de sua remuneração parlamentar. Para cada ano de mandato, o deputado tem direito ainda a uma chamada "ajuda transitória" para sua reinserção na antiga profissão equivalente a 9.541 euros mensais, pagos até 18 meses.
Foto: Imago/Westend61
Remuneração ministerial
Segundo a União dos Contribuintes da Alemanha (BdSt), os ministros alemães ganham pouco mais de 15 mil euros mensais, mais uma ajuda de custo. Há ainda uma quantia anual livre de impostos de cerca de 3,7 mil euros. Aqueles com mandato parlamentar (atualmente 10 de um total de 15 ministros) ainda recebem uma parcela de sua "dieta" que faz elevar seus salários a mais de 20 mil euros.
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Voos comerciais
Uma decisão tomada este ano em reação às panes com aviões governamentais estipula que, com exceção do ministro do Exterior, do ministro das Finanças e do ministro do Interior, os demais membros do gabinete deverão recorrer a aeronaves comerciais para seus compromissos oficiais no exterior. Mas todos os ministros têm direito a um carro oficial, que também pode servir para uso particular.
Foto: Fotolia/dell
Ajuda e pensão
Já após um dia no cargo, um ministro tem direito a quase 71 mil euros em ajuda transitória pós-mandato, que pode ascender a 213 mil euros dependendo do tempo que ficou na pasta. E quem foi ministro por ao menos dois anos pode esperar aposentadoria, que é de 28% do salário para quatro anos de mandato. A cada ano adicional, a pensão aumenta 2,4 % até um máximo de 11,3 mil euros.
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"O primeiro homem no Estado"
Na Alemanha, o presidente é o principal cargo estatal, não é à toa que ele é chamado de "o primeiro homem no Estado", mas sua função é, sobretudo, representativa. O chefe de Estado é antes de tudo uma autoridade moral e sua influência vai depender de sua personalidade. Segundo o escritório presidencial, ele recebe um salário de 236 mil euros anuais mais uma ajuda de custo anual de 78 mil euros.
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Casa, carro e avião
O presidente alemão vive em residência oficial, que hoje está abrigada na Villa Wurmbach no bairro berlinense de Dahlem após reforma do escritório presidencial no Palácio Bellevue (foto); é guiado em limusine blindada com a placa "0-1" e tem uso privilegiado da frota de aviões governamentais. Os benefícios a que têm direito após deixar o cargo foram, no entanto, revisados após recente polêmica.
Foto: picture-alliance/dpa/L. Schulze
Cortes de benefícios
A crítica se dirigia em primeira linha ao ex- presidente Christian Wulff (foto), que renunciou em 2012 após somente 20 meses no cargo, recebendo "soldo honorário" de mais de 200 mil euros anuais. Além de cortes no pessoal do escritório dos ex-presidentes, a partir deste ano, a pensão presidencial vai passar a ser descontada de ganhos provenientes de qualquer atividade que exercer após o mandato.