Em carta a governos da Alemanha, França e Noruega, ex-ministros do Meio Ambiente afirmam que Brasil não está em condições de combater a pandemia na região e pedem envio de equipamentos e material médico e hospitalar.
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Nove ex-ministros do Meio Ambiente enviaram nesta terça-feira (26/01) uma carta aos governos francês, alemão e norueguês, na qual pedem ajuda para combater a crise provocada pela pandemia de covid-19 na Amazônia. Segundo eles, nem o governo federal brasileiro nem os Executivos locais têm condições de combater a pandemia na região.
"A Amazônia brasileira está sendo devastada neste momento por dupla calamidade pública, ambiental e de saúde, que necessita da urgente solidariedade e colaboração de países amigos interessados de forma genuína e desinteressada na solução dos problemas amazônicos", afirmam os ex-ministros no documento.
Os ex-ministros pedem ajuda por meio da doação de materiais, medicamentos e equipamentos hospitalares, como cilindros e concentradores de oxigênio, usinas de produção de oxigênio medicinal, equipamentos para a instalação de unidades de terapia intensiva, macas, oxímetros, compressores e remédios usados no tratamento hospitalar da covid-19, além de equipamentos que ajudam os pacientes a expandir a capacidade pulmonar.
Os ex-mandatários pedem também aos líderes da Alemanha, Angela Merkel, da Noruega, Erna Solberg, e da França, Emmanuel Macron, que sejam intermediários, junto de outros líderes de países desenvolvidos, "desse urgente pedido de socorro que lhes dirigem os necessitados habitantes das florestas, tão severamente assolados pela pandemia".
"Incêndios criminosos, em larga escala, durante o período de estiagem, agravaram enormemente os problemas respiratórios causados pela pandemia da covid-19, contribuindo para a elevada taxa de óbitos na Amazônia. Infelizmente, as primeiras semanas de 2021 coincidem com o colapso hospitalar iniciado em Manaus" e que já se espalhou pelo interior do estado do Amazonas, destaca o texto.
"Uma característica particularmente cruel do colapso atual reside na ausência de oxigênio, o que vem provocando a morte atroz por asfixia de centenas de pessoas, às vezes aniquilando famílias inteiras", acrescenta a carta, assinada pelos ex-ministros José Goldemberg, Rubens Ricupero, Gustavo Krause, Izabella Teixeira, José Sarney Filho, José Carlos Carvalho, Marina Silva, Carlos Minc e Edson Duarte.
O colapso da saúde em Manaus, que elevou significativamente as mortes por covid-19, obrigou o governo do Amazonas a montar uma operação para transportar dezenas de doentes com covid-19 para outras cidades.
A escassez de oxigênio nos hospitais da região causou a morte por asfixia de dezenas de pessoas nos últimos dias, principalmente nas cidades do interior. Nesta terça-feira, o Amazonas registrou seu recorde diário de mortes por covid-19: 192. A média dos últimos setes dias é de 139 mortes diárias.
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Carta anterior alertava contra Bolsonaro
O mesmo grupo de ex-ministros já havia divulgado, em junho passado, carta abertana qual afirmava que o governo do presidente Jair Bolsonaro representa uma ameaça às instituições democráticas, ao meio ambiente, aos povos indígenas e à saúde e à vida de brasileiros em meio à epidemia de covid-19.
Na época, eles pediram à Procuradoria-Geral da República (PGR), ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao Congresso Nacional, a governadores e prefeitos que tomassem providências e medidas legais para garantir a preservação ambiental e da democracia no país.
O texto de então condenava a postura "anticientífica" da gestão Bolsonaro e o desrespeito aos demais poderes por parte do Executivo e afirmava que o país tinha um "desgoverno".
as/lf (Lusa, AFP)
Vírus verbal: frases de Bolsonaro sobre a pandemia
"E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas": desde que o coronavírus chegou ao Brasil, presidente tratou publicamente com desdenho a crise. Enquanto a epidemia avança, suas falas causam ultraje.
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance
"Superdimensionado"
Em 9 de março, em evento durante visita aos EUA, Bolsonaro disse que o "poder destruidor" do coronavírus estava sendo "superdimensionado". Até então, a epidemia havia matado mais de 3 mil pessoas no mundo. Após o retorno ao Brasil, mais de 20 membros de sua comitiva testaram positivo para covid-19.
Foto: Reuters/T. Brenner
"Europa vai ser mais atingida que nós"
A declaração foi dada em 15 de março. Precisamente, ele afirmou: "A população da Europa é mais velha do que a nossa. Então mais gente vai ser atingida pelo vírus do que nós." Segundo a OMS, grupos de risco, como idosos, têm a mesma chance de contrair a doença que jovens. A diferença está na gravidade dos sintomas. O Brasil é hoje o segundo país mais atingido pela pandemia.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/GDA/O Globo
"Gripezinha" e "histórico de atleta"
Ao menos duas vezes, Bolsonaro se referiu à covid-19 como "gripezinha". Na primeira, em 24 de março, em pronunciamento em rede nacional, ele afirmou, que, por ter "histórico de atleta", "nada sentiria" se contraísse o novo coronavírus ou teria no máximo uma “gripezinha ou resfriadinho”. Dias depois, disse: "Para 90% da população, é gripezinha ou nada."
Foto: Youtube/TV BrasilGov
"Todos nós vamos morrer um dia"
Após visitar o comércio em Brasília, contrariando recomendações deu seu próprio Ministério da Saúde e da OMS, Bolsonaro disse, em 29 de março, que era necessário enfrentar o vírus "como homem". "O emprego é essencial, essa é a realidade. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós vamos morrer um dia."
Foto: Reuters/A. Machado
"A hidroxicloroquina tá dando certo"
Repetidamente, Bolsonaro defendeu a cloroquina para o tratamento de covid-19. Em 26 de março, quando disse que o medicamento para malária "está dando certo", já não havia qualquer embasamento científico para defender a substância. Em junho, a OMS interrompeu testes com a hidroxicloroquina, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/F. Taxeira
"Vírus está indo embora"
Em 10 de abril, o Brasil ultrapassou a marca de mil mortos por coronavírus. No mundo, já eram 100 mil óbitos. Dois dias depois, Bolsonaro afirmou que "parece que está começando a ir embora essa questão do vírus". O Brasil se tornaria, meses depois, um epicentro global da pandemia, com dezenas de milhares de mortos.
Foto: Reuters/A. Machado
"Eu não sou coveiro"
Assim o presidente reagiu, em frente ao Planalto, quando um jornalista formulava uma pergunta sobre os números da covid-19 no Brasil, que já registrava mais de 2 mil mortes e 40 mil casos. “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?”, afirmou Bolsonaro em 20 de abril.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Borges
"E daí?"
Foi uma das declarações do presidente que mais causaram ultraje. Com mais de 5 mil mortes, o Brasil havia acabado de passar a China em número de óbitos. Era 28 de abril, e o presidente estava sendo novamente indagado sobre os números do vírus. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre...”
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Vou fazer um churrasco"
Em 7 de maio, o Brasil já contava mais de 140 mil infectados e 9 mil mortes. Metrópoles como Rio e São Paulo estavam em quarentena. O presidente, então, anunciou que faria uma festinha. "Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha...". Dias depois, voltou atrás, dizendo que a notícia era "fake".
Foto: Reuters/A. Machado
"Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em julho, o presidente anunciou que estava com covid-19. Disse que estava "curado" 19 dias depois. Fora do isolamento, passou a viajar. Ao longo da pandemia, ele já havia visitado o comércio e participado de atos pró-governo. Em Bagé (RS), em 31 de julho, sugeriu que a disseminação do vírus é inevitável. "Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!”
Foto: Reuters/A. Machado
"País de maricas"
Em 10 de novembro, ao celebrar como vitória política a suspensão dos estudos, pelo Instituto Butantan, da vacina do laboratório chinês Sinovac após a morte de um voluntário da vacina, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria "deixar de ser um país de maricas" por causa da pandemia. "Mais uma que Bolsonaro ganha", comentou.
Foto: Andre Borges/NurPhoto/picture alliance
"Chega de frescura, de mimimi"
Em 4 de março de 2021, após o país registrar um novo recorde na contagem diária de mortes diárias por covid-19, Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia, e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.