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Ex-namorada alemã de Barbosa diz que ele é "incrivelmente íntegro"

23 de novembro de 2012

Quando estudava na Alemanha, Joaquim Barbosa conheceu os pais de sua futura namorada, um relacionamento que começou no Carnaval de Salvador. Em entrevista à DW Brasil, a alemã contou mais sobre o ministro.

Foto: Fellipe Sampaio

A pedagoga alemã Friederike Technau, de 44 anos, namorou o hoje presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, no final dos anos 80, durante uma estada no Brasil. Ela se lembra dele como uma pessoa "incrivelmente íntegra" e com "uma imensa energia, que brilha em todos os lugares".

Barbosa havia conhecido os pais de Friederike na época em que estudou alemão no hoje extinto Instituto Goethe de Staufen. Quando estes foram visitar a filha, que fazia um estágio no Brasil, Barbosa e Frederike acabaram se conhecendo.

Hoje Frederike organiza passeios de grupos infantis na floresta e workshops para pedagogas que querem levar crianças ou adultos para conhecer mais de perto árvores e plantas. Além de organizar acampamentos infantis, ela acaba de abrir um jardim de infância florestal nas proximidades de Colônia.

Ela conta que não tem mais muito contato com Barbosa. "Se eu pudesse lhe dizer algo sobre seu novo cargo, eu lhe diria que ele o mereceu."

DW Brasil: Quando você esteve no Brasil? O que você fazia no país?

Friederike Technau dirige jardim de infância florestalFoto: privat

Friederike Technau: Tudo começou com um intercâmbio escolar no Brasil. Eu tinha 15 anos e passei de seis a oito semanas em São Paulo. Após terminar o ensino médio, havia decidido que queria passar um tempo fora da Alemanha, respirar novos ares. Fiz então um estágio de dez meses numa aldeia da criança [Kinderdorf] em Nova Friburgo, próximo ao Rio de Janeiro. Isso foi entre 1987 e 1988.

E foi nessa época que você conheceu o ministro Joaquim Barbosa?

Correto. Ele havia conhecido meus pais quando eu já me encontrava no Brasil. Ele estudou alemão no Instituto Goethe em Staufen [sul da Alemanha], cidade de onde eu venho. Quando meus pais vieram me visitar no Brasil, fizemos uma grande viagem pelo país. E fizemos uma parada em Brasília. Na ocasião, o Joaquim nos recebeu, nos mostrou a cidade e nos falou muito sobre o Brasil e sobre a sua vida, e como ele chegou ali.

O que ele fazia na ocasião? O que ele lhe contou sobre sua vida?

Na ocasião, acredito que ele trabalhava como promotor no Ministério Público de Brasília. Ele vem – como é sabido – de uma família muito simples de Minas Gerais. O pai dele foi embora quando ele tinha por volta de 12 anos de idade. Então, além de trabalhar, quando ele podia frequentava uma escola.

Como me foi contado, quando ele ganhava uma bolsa de estudos, ele ia para a escola; quando não, ele não podia assistir às aulas. Então, em algum momento de sua vida, ele foi para Brasília. Lá ele conseguiu terminar a escola e frequentou a universidade, em parte como empregado, trabalhando de dia. No período da noite, ele cursava a Faculdade de Direito na mesma universidade. Tendo vindo lá de baixo, ele trabalhou muito para chegar onde está.

Em sua opinião, de onde vem essa força que o levou tão longe?

De onde vem essa força, eu não sei. O que eu sei é que ele tem uma imensa energia, que brilha em todos os lugares. Ele sempre expressou uma grande alegria de viver. Tem um círculo de amigos muito grande, muito legal e muito interessante. Ele tem uma boa relação com as pessoas, o que certamente dá muita força a ele.

Eu não conheço ninguém que tenha tanta energia positiva ao longo de sua vida. Ele trabalhou tanto que ficou doente, é verdade, mas essa força, essa energia esteve sempre lá. Mas eu não sei dizer de onde ela vem.

Como foi o início do relacionamento de vocês?

Ele me convidou para ir ao Rio. Eu trabalhava próximo, na aldeia infantil. Ele perguntou se eu não poderia visitá-lo no Rio de Janeiro. Isso aconteceu pouco antes do Carnaval. Isso foi em 1988. Nós nos encontramos no Rio e visitamos um ensaio de escola de samba. Conversamos muito e nos demos tão bem que ele me perguntou se eu não queria passar o Carnaval em Salvador.

Não foi fácil, mas consegui, em janeiro, uma passagem de ônibus para Salvador em fevereiro. Chovia muito no Rio e um amigo me levou até a rodoviária. Passei então um Carnaval maravilhoso e foi então que começou nosso relacionamento, lá em Salvador.

Então vocês ficaram juntos durante sua estada no Brasil?

Sim, durante a minha permanência no Brasil. Eu o visitei várias vezes em Brasília.

Você conheceu a família dele?

Ele tem um irmão mais novo, que cheguei a ver. E ele tem um filho. Na ocasião, ele tinha 4 ou 5 anos de idade. O menino vivia com a mãe, mas eles tinham um contato muito bom. Eu sei que, quando a mãe se mudou para o Rio devido ao trabalho, o Joaquim também se mudou, para estar perto do filho.

Você caracterizaria Joaquim Barbosa como ambicioso?

Com certeza a ambição desempenhou certo papel, mas eu não acredito que isso tenha sido e seja o princípio norteador do Joaquim. Eu o conheci como uma pessoa incrivelmente íntegra, não só pessoalmente. Desde o nível mais pequeno até o da política mundial, ele elabora pensamentos de como o mundo poderia ser bom.

Acredito que ele seja uma pessoa muito íntegra, que não se curva a pressões, que age pela própria consciência e não pelo dinheiro ou outras pressões. Acho que ele é uma pessoa incrivelmente íntegra e sempre honesta.

E isso se refletiu no relacionamento de vocês?

Sim, com certeza. Quando voltei para a Alemanha, em outubro de 1988, Joaquim foi morar em Paris, para fazer seu pós-doutorado na Sorbonne. Ainda nos encontramos algumas vezes, mas aí entrou sua integridade: ele era da opinião de que nosso relacionamento não teria futuro devido à distância.

Quando se viram pela última vez?

Em 1996, ele me ligou para me congratular pelo nascimento do meu primeiro filho. Depois disso, não nos comunicamos mais pessoalmente. Ele me convidou para sua posse como ministro do Supremo Tribunal Federal. Mas, infelizmente, não recebi o convite a tempo.

O que você gostaria de dizer ao novo presidente do Supremo Tribunal Federal?

Eu já havia pensado em tentar me comunicar com ele de novo. Com as novas mídias, talvez isso seja possível. Mas eu ainda estou perplexa com o fato de ele ter ido tão longe. Se eu pudesse lhe dizer algo sobre seu novo cargo, eu lhe diria que ele o mereceu.

Entrevista: Carlos Albuquerque
Revisão: Alexandre Schossler

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