Ex-PM faz delação e dá detalhes de assassinato de Marielle
24 de julho de 2023
Élcio Queiroz confessou que dirigiu carro usado na execução e que sargento Ronnie Lessa fez disparos. PF prende mais um suspeito: um ex-bombeiro que ajudou no planejamento dos assassinatos de vereadora e motorista.
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O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flavio Dino, anunciou nesta segunda-feira (24/07) novidades na investigação do assassinato da Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Segundo Dino, o ex-PM Élcio Queiroz, um dos presos pelo crime, fez uma delação premiada e confirmou a sua participação e a do ex-sargento da PM Ronnie Lessa nos assassinatos. Ainda segundo Dino, Queiroz ainda implicou o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o "Suel", no caso.
Corrêa foi preso nesta segunda-feira, no âmbito da Operação Élpis, que integra ainda a primeira etapa da investigação que apura os assassinatos de Marielle e Anderson, bem como a tentativa de homicídio da assessora Fernanda Chaves. Outros sete mandados de busca e apreensão foram cumpridos na cidade do Rio de Janeiro e na região metropolitana.
Segundo o ministro Dino, Lessa e Queiroz participaram da execução e Corrêa atuou no planejamento e proteção dos outros participantes. "O senhor Maxwell comparece nas investigações na preparação, inclusive na ocorrência de campana, de vigilância de acompanhamento da rotina da vereadora Marielle, e posteriormente no acobertamento dos autores do crime", disse o ministro.
Na delação, Queiroz confessou ainda que dirigiu o Cobalt prata usado no ataque e afirmou que Lessa fez os disparos com uma submetralhadora contra Marielle e Anderson.
Élcio de Queiroz, que no momento aguarda julgamento, receberá benefícios em razão do acordo de delação, mas seguirá preso.
Suspeito preso
Suel já havia sido preso em 2020, durante a operação Submersos II, por suspeita de envolvimento no crime e também por obstrução das investigações. Condenado a quatro anos de prisão por atrapalhar os trabalhos de investigação em 2021, ele teve a pena, cumprida em regime aberto, aumentada para seis anos e nove meses.
Segundo o MPRJ, o ex-bombeiro é suspeito de ter emprestado o carro entre os dias 13 e 14 de março para esconder as armas e munições que seriam utilizadas no crime – as apurações também indicam a participação dele no planejamento dos assassinatos.
O arsenal seria de posse de Ronnie Lessa, acusado de ser o executor de Marielle e Anderson, e teria sido armazenado em um apartamento dele antes de, supostamente, ter sido jogado no mar com a ajuda de Suel.
O ex-bombeiro foi detido em casa, no mesmo local onde havia sido preso anteriormente, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio de Janeiro, e foi levado para a sede da PF na Zona Portuária. Um carro também foi apreendido.
Reações
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, irmã de Marielle, publicou mensagem no Twitter em que reafirma a confiança nas investigações. “Falei agora por telefone com o ministro Flávio Dino e com o diretor-geral da Polícia Federal sobre as novidades do caso Marielle e Anderson. Reafirmo minha confiança na condução da investigação pela PF e repito a pergunta que faço há cinco anos: quem mandou matar Marielle e por quê?”
Também no Twitter, o ex-deputado e atual presidente da Embratur, Marcelo Freixo, que atuou com Marielle no Rio de Janeiro, também considerou o anúncio de Dino como um passo importante para a solução do crime. “Quem mandou matar Marielle? Mais um passo importante da Polícia Federal para identificar os mandantes do crime. Marielle e eu trabalhamos juntos desde 2006 e sempre enfrentamos a máfia assassina que comanda o RJ. Por isso, apontar os autores desse crime político é crucial para reconstruirmos nosso Estado”, escreveu.
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Relembre o caso
O promotor Eduardo Moraes, um dos investigadores do caso, afirmou em entrevista coletiva nesta segunda que a execução foi motiva por conta das causas defendidas por Marielle.
Segundo Moraes, Lessa tinha "ojeriza" às causas defendidas pela vereadora de esquerda. No entanto, Moraes também disse que esse fato não exclui outras motivações para o crime. Por enquanto, um suposto mandante do crime ainda não foi revelado.
Na noite de 14 de março de 2018, Marielle deixou um debate na ONG Casa das Pretas, no centro do Rio. Pouco tempo depois, o veículo foi emboscado e alvo de tiros no bairro do Estácio, quando seguia para a casa da vereadora.
Marielle e o motorista Anderson Gomes morreram na hora. Uma assessora da parlamentar, que também estava no automóvel, sobreviveu – posteriormente, ela deixaria o país. O ataque, cuidadosamente planejado, tinha a marca de profissionais – com a possível participação de ex-agentes do Estado.
Os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Queiroz foram presos cerca de um ano após o crime. Lessa é acusado de ser o autor dos disparos, enquanto Queiroz é suspeito de dirigir o automóvel usado no crime.
Até 2018, Marielle, então com 38 anos, ainda não era muito conhecida fora do Rio de Janeiro. Vereadora de primeiro mandato e atuante em causas sociais, especialmente na luta antirracista e na promoção de pautas feministas e LGBTQ, Marielle logo se transformaria tragicamente num símbolo da violência no Brasil.
gb (ots)
As heroínas do Brasil
Mulheres inscritas no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria e protagonistas ainda pouco reconhecidas na história do país.
Foto: Public domain
Anita Garibaldi
Chamada de "heroína dos dois mundos", a catarinense Ana Maria de Jesus Ribeiro, mais conhecida como Anita Garibaldi (1824-1849), lutou pelos ideais republicanos ao lado do marido, Giuseppe Garibaldi, tanto no Brasil quanto na Itália, respectivamente, na Guerra dos Farrapos e no movimento pela unificação italiana. Desde 2012, seu nome está inserido no "Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria".
Foto: Public domain
Bárbara de Alencar
O livro no Panteão da Pátria em Brasília também inclui Bárbara de Alencar (1760-1832). A avó do escritor José de Alencar participou da Confederação do Equador, impulsionando o ideal republicano no Ceará no inicio do século 19. Ainda hoje se pode visitar a masmorra em que foi presa e torturada na fortaleza que dá nome à capital alencarina. Ela é considerada a primeira presa política do Brasil.
Foto: Public domain
Ana Néri
Em 2009, a baiana Ana Justina Ferreira Nery (1814-1880) iniciou a lista das Heroínas da Pátria. Depois de viúva, ela partiu com seus três filhos para frente de batalha na Guerra do Paraguai, onde cuidou de feridos, organizou hospitais de campanha e montou uma enfermaria às próprias custas na ocupada capital paraguaia. Ganhou a fama de "Mãe dos Brasileiros" e primeira enfermeira do Brasil.
Foto: Public domain
Jovita Feitosa
Aos 17 anos, a cearense Antônia Alves Feitosa (1848-1867), conhecida como "Jovita", travestiu-se de homem para lutar na Guerra do Paraguai. Mesmo com sua identidade desmascarada, foi aceita no corpo de voluntários e ganhou fama nacional, mas foi impedida de ir ao campo de batalha. Foi incluída no Livro das Heroínas da Pátria em 2017 e hoje dá nome a uma importante avenida da capital do seu estado.
Foto: Public domain
Maria Quitéria
Como "Soldado Medeiros", a baiana Maria Quitéria de Jesus Medeiros (1792-1853) participou ativamente nas lutas pela independência do Brasil em 1822. Sua habilidade com armas e disciplina militar fizeram com que ela permanecesse no exército mesmo depois de sua identidade ter sido revelada. Foi a primeira mulher a entrar em combate pelo Brasil e condecorada pelo próprio imperador Dom Pedro 1°.
Foto: public domain
Joana Angélica
Se Maria Quitéria foi a guerreira das lutas pela independência na Bahia, a freira Joana Angélica de Jesus (1761 - 1822) é considerada a mártir desse movimento. No ano de sua morte, os saques praticados pelas tropas portuguesas em Salvador também atingiram o Convento da Lapa, no qual era abadessa. Ao tentar impedir que entrassem no convento, Joana Angélica foi esfaqueada por um dos soldados.
Foto: Public domain
Maria Felipa de Oliveira
A luta pela independência na Bahia teve a participação de outra importante personagem: Maria Felipa de Oliveira. A marisqueira e pescadora da ilha de Itaparica liderou um grupo de mulheres e homens de diferentes classes e etnias, combatendo tropas portuguesas e incendiando navios que se preparavam para atacar Salvador. Ela é conhecida como a Heroína Negra da Independência.
Foto: Public domain
Clara Camarão
No século 17, a índia potiguar Clara Camarão participou junto ao marido, Felipe Camarão, também um Herói da Pátria, das lutas de resistência contra as invasões holandesas no Nordeste brasileiro. Para os historiadores, embora pouco se saiba sobre a vida da guerreira potiguar, seu reconhecimento como Heroína da Pátria dá destaque a personagens indígenas pouco prestigiados na história do Brasil.
Foto: tse/biblioteca digital
Zuzu Angel
Zuzu Angel (1921-1976) é a única mulher da recente história brasileira a ser reconhecida como Heroína da Pátria. Segundo a jornalista Hildegard Angel, o nome de sua mãe está junto a todos aqueles que sofreram sob a ditadura. Após a morte de seu filho pelo regime em 1971, a estilista passou a denunciar as arbitrariedades dos militares. Morreu em acidente de carro atribuído aos agentes de repressão.
Foto: Public domain/Arquivo Nacional Collection
Heroínas desconhecidas
Em 2019, a Mangueira se tornou campeã do Carnaval carioca com enredo que fala dos heróis e heroínas desconhecidas do Brasil. Uma delas foi Esperança Garcia, reconhecida simbolicamente pela OAB como a primeira advogada do Piauí. Em 1770, ela escreveu uma petição ao presidente da província, denunciando maus- tratos e abusos sofridos por ela e seu filho na fazenda em que eram escravos.
Foto: Divulgação
Marias, Mahins, Marielles, malês
Além de Dandara dos Palmares, defensora da liberdade dos negros ao lado do marido, Zumbi, foram lembradas Luísa Mahin, que articulou o levante de escravos na Bahia conhecido como Revolta dos Malês; e Marielle Franco, política e ativista assassinada em 2018 no Rio de Janeiro. "Brasil, chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês", lembra o samba-enredo da escola vencedora.