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Julgamento histórico

21 de setembro de 2009

Tem início na França o processo contra o ex-primeiro-ministro Villepin, acusado de envolvimento em uma campanha para difamar Nicolas Sarkozy na luta pela candidatura à presidência do país no pleito de 2007.

Sarkozy e Villepin (d): rivais políticosFoto: AP

Começa nesta segunda-feira (21/09) um dos processos mais aguardados dos últimos tempos na França. O chamado "caso Clearstream" reúne intrigas com contas secretas, lutas de poder, manipulações por agentes secretos e executivos de alto escalão, e a articulação de um golpe de mídia num dos maiores escândalos políticos da década.

Nele se enfrentam dois rivais que, ainda em 2007, lutavam com todas as forças pela indicação de candidatura à presidência da França pela UMP (União por um Movimento Popular): o ex-primeiro-ministro Dominique de Villepin e o atual presidente francês, Nicolas Sarkozy.

Villepin está sendo acusado de utilizar listas com contas ocultas, divulgadas pelo instituto financeiro Clearstream, de Luxemburgo, para queimar a imagem de Sarkozy, na época ministro do Interior.

As listas continham centenas de contas de bancos europeus e pessoas físicas. Sua origem remonta ao ano de 1991, quando uma operação de venda de fragatas a Taiwan teria supostamente envolvido o pagamento de meio bilhão de dólares em suborno a Sarkozy e outros.

Villepin nega acusações

O paradeiro do dinheiro permaneceu incerto até 2004, quando surgiu nas listas de contas do Clearstream, que, no entanto, eram falsificadas, como se constatou posteriormente.Também se suspeita que Sarkozy estivesse ciente da intriga e que tirou proveito do serviço secreto para prejudicar seu rival. A Justiça francesa, entretanto, não tem permissão para investigar o presidente da República.

Villepin, por sua vez, assegurou que estava plenamente convencido da autenticidade das listas, e só almejava o esclarecimento do caso. O processo contra ele acontece no mesmo tribunal onde a rainha Maria Antonieta foi condenada à morte na guilhotina em 1793.

Jean-Louis GergorinFoto: picture-alliance / dpa

O ex-premiê não corre esse risco, porém seu futuro político depende em grande parte do depoimento do então vice-presidente do conglomerado aeroespacial e de defesa europeu EADS, Jean-Louis Gergorin.

Acusado de haver encomendado a falsificação das listas, Gergorin teria se orientado, a princípio, por objetivos pessoais. Afinal, em plena luta de poder na EADS, a lista continha diversos nomes de altos executivos da Airbus.

Villepin admite que o então presidente da EADS o havia informado da existência das listas em 2004, quando ele era ministro do Exterior. Em maio daquele ano, Gergorin as enviou anonimamente à Justiça francesa. Mas Villepin nega qualquer envolvimento em sua distribuição ou falsificação.

Credibilidade questionada

A situação de Villepin só se complicou com as declarações do ex-técnico de informática da EADS Imad Lahoud. Este admitiu haver falsificado as listas no escritório do então chefe do serviço secreto francês, Yves Bertrand. "Em fevereiro ou março de 2004", consta de seu depoimento, ele teria inserido na lista os sobrenomes húngaros Nagy e Bocsa, que constam do nome completo do atual presidente, a pedido de Gergorin e com o conhecimento de Villepin.

Os advogados de Villepin questionam a credibilidade das declarações do franco-libanês, alegando que ele já contou diversas versões da história. Além disso, um companheiro de cela de Lahoud declarou que elas são parte de sua vingança contra os poderosos da República, que não impediram sua prisão após um escândalo financeiro.

O que agora está em jogo é o futuro político de Villepin: se for considerado culpado, poderá ser condenado a até cinco anos de prisão e esquecer suas ambições de retornar à política. Se for absolvido, já planeja sua revanche e pretende concorrer outra vez contra Sarkozy na luta pela presidência em 2012.

RR/dpa/afp
Revisão: Augusto Valente

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