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Ex-presidente do Parlamento Europeu visita Lula na prisão

31 de agosto de 2018

Ex-líder da social-democracia alemã, Martin Schulz vai a Curitiba em apoio à candidatura do ex-presidente. "Nenhum poder desse mundo vai me impedir de continuar confiando em Lula", afirma.

Martin Schulz
Schulz disse ter ido ao Brasil na condição de representante da social-democracia alemã e dos socialistas europeusFoto: picture-alliance/dpa/A. Rodriguez

O ex-presidente do Parlamento Europeu e ex-líder do Partido Social-Democrata (SPD) alemão Martin Schulz fez uma visita nesta quinta-feira (30/08) ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sede da Polícia Federal em Curitiba, onde o petista está preso desde abril.

"Estou aqui para expressar minha solidariedade com o PT e com seu candidato [à Presidência da República]", afirmou o político alemão, em coletiva de imprensa após o encontro com Lula, quem descreveu como um homem "corajoso, combativo e otimista".

Schulz declarou que, embora não caiba a ele "julgar as sutilezas do embate jurídico" no Brasil, "as circunstâncias do julgamento de Lula lançam dúvidas sobre o processo" contra o petista, condenado em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

"Não estou aqui para proferir um juízo sobre a Justiça brasileira, mas nenhum poder deste mundo vai me impedir de continuar confiando num homem com quem eu trabalhei e em quem eu confiei por muito anos", acrescentou o social-democrata.

Schulz afirmou ter feito a viagem ao Brasil em nome do SPD, que integra a coalizão de governo da chanceler federal Angela Merkel. "Faço a viagem a pedido de Andrea Nahles [chefe do SPD]", disse ele, afirmando à agência de notícias alemã DPA que também conversou a respeito da visita com o ministro alemão do Exterior, Heiko Maas.

Para o ex-líder do SPD, as eleições brasileiras em outubro são de grande importância não só para o país e para a América Latina, mas para todo o mundo. "A questão que se coloca é a seguinte: será que é possível fazer do Brasil de novo um motor da democratização do mundo inteiro?"

O alemão fez tal questionamento ao lembrar que a "estrutura política mundial passa por uma mudança fundamental". "No lugar do multilateralismo defendido pelos governos de Lula e de Dilma Rousseff, estamos vivenciando – não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro – um retorno das políticas isolacionistas", alertou.

Com a visita a Lula, Schulz – que foi presidente do Parlamento Europeu de 2012 a 2017 e adversário da chanceler federal alemã, Angela Merkel, nas últimas eleições gerais – quer aumentar a pressão internacional para que o petista seja candidato nas eleições de 7 de outubro.

"O Brasil teve um papel muito importante na política internacional", destacou Schulz, fazendo um apelo para que as autoridades do país implementem a recomendação do Comitê de Direitos Humanos (CDH) da ONU para que Lula possa exercer seus direitos políticos enquanto estiver preso.

Em comunicado emitido em 17 de agosto, o comitê informou ter pedido ao Estado brasileiro que "tome todas as medidas necessárias" para que isso seja possível, bem como para que o petista não tenha sua candidatura barrada até que todos os recursos tenham sido esgotados.

Em declarações à imprensa logo após a fala de Schulz, o vice de Lula, Fernando Haddad, afirmou que, desde que o comitê das Nações Unidas fez tal recomendação, o PT vem recebendo solidariedade de lideranças do mundo inteiro.

"Agradeço em nome do Partido dos Trabalhadores a visita de Martin Schulz, que é uma liderança das mais expressivas da social-democracia e um representante histórico da luta dos cidadãos e dos trabalhadores da Europa em proveito dos direitos políticos, civis e sociais", disse Haddad.

Lula está preso desde 7 de abril na sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. No período, ele foi escolhido como candidato do PT à Presidência, mas seu pedido de registro ainda aguarda análise da Justiça Eleitoral.

O Ministério Público já pediu a impugnação da candidatura com base na Lei da Ficha Limpa, já que o ex-presidente foi condenado em segunda instância. Na condição de preso, ele tem sido impedido pela Justiça de participar de entrevistas e debates.

Lula, contudo, tem liderado as pesquisas de intenção de voto. Nesta quinta-feira, um ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negou um pedido para impedir que os institutos de pesquisa incluam o nome do ex-presidente em suas sondagens eleitorais.

Quem é Martin Schulz

Além de ter sido presidente do Parlamento Europeu entre 2012 e 2017, Schulz foi líder do SPD entre março de 2017 e fevereiro deste ano. Nas eleições alemãs de setembro do ano passado, ele disputou a vaga de chanceler federal com Merkel, prometendo levar os social-democratas à oposição.

O SPD, no entanto, obteve seu pior resultado do pós-guerra no pleito: 20,5% dos votos. Apesar do resultado, Schulz seguiu afirmando com veemência que seu partido seguia indisponível para formar uma "grande coalizão" com a União Democrata Cristã (CDU), de Merkel, e a União Social Cristã (CSU).

Após negociações entre conservadores, verdes e liberais fracassar, o SPD acabou voltando atrás e aceitou a possibilidade de entrar novamente na coalizão de governo. A reviravolta e a então tentativa de Schulz de convencer seu partido a se aliar à CDU/CSU novamente acabou minando a credibilidade do político.

Poucas horas após o anúncio de um acordo entre conservadores e social-democratas, em fevereiro, Schulz renunciou à presidência do SPD, afirmando que participaria do governo como ministro do Exterior.

Mais uma vez, seus planos fracassaram. Após sofrer pressão dentro do próprio partido para desistir de suas pretensões, o social-democrata anunciou que não assumiria mais nenhum ministério. O motivo seria a grande insatisfação da base partidária com a entrada dele no governo.

EK/dpa/ots

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