Jack Warner é acusado de participação em negócios ilegais, em investigação sobre suspeitas de compra de voto para escolha das sedes das Copas de 2018 e 2022.
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O comitê de ética da Fifa decidiu nesta terça-feira (29/09) banir por má conduta o ex-vice-presidente da entidade Jack Warner de todas as atividades relacionadas ao futebol, pelo resto de sua vida.
Warner, de 72 anos, é um dos principais acusados em uma investigação das autoridades americanas que abalou a entidade máxima do futebol mundial.
"Ele cometeu muitos e diversos atos de má conduta, contínua e repetidamente, enquanto exercia cargos em diferentes escalões e posições influentes na Fifa e na Concacaf (Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe)", diz a declaração do comitê.
Warner é o segundo membro de alto escalão da Fifa a ser banido, após o americano Chuck Blazer, um ex-executivo da entidade que agora colabora com as investigações das autoridades americanas. Ambos eram membros do comitê executivo do órgão.
O banimento imposto a Warner implica em seu afastamento de quaisquer atividades relacionadas ao futebol, sejam internacionais ou em seu país, Trinidad e Tobago.
"Ele era peça-chave de esquemas que envolviam a oferta, aceitação e recepção de pagamentos não declarados e ilegais, assim como outros esquemas de arrecadação de dinheiro", afirma o comitê da entidade.
As autoridades americanas, que acusam 14 membros da Fifa e executivos de marketing esportivo de solicitar e receber mais de 150 milhões de dólares em subornos e extorsões em um período de duas décadas, pediram em julho a extradição de Warner. Ele é alvo de 12 acusações de fraude, extorsão e lavagem de dinheiro.
O comitê de ética informou que Warner estaria sendo investigado em um inquérito sobre o processo de escolha das sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022, vencidos, respectivamente, pela Rússia e pelo Catar.
Ele também é acusado de comprar do presidente da Fifa, Joseph Blatter, os direitos de transmissão das Copas do Mundo de 2010 e 2014 por valores demasiadamente baixos, o que lhe gerou lucros significativos ao revendê-los posteriormente.
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.