Excesso de proteínas pode prejudicar a saúde, aponta estudo
15 de março de 2024
Pesquisa indica que dieta com mais de 22% de proteína aumenta significativamente o risco de aterosclerose, podendo levar a doenças cardiovasculares.
Alimentação rica em em proteínas costuma ser indicada para quem quer preservar ou ganhar massa muscularFoto: imago images/Panthermedia
Anúncio
Proteína, o nutriente essencial glorificado no TikTok para a musculatura, a força e até mesmo o controle do estresse. Mas e se lhe dissessem que abusar dela pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares? Um estudo recente da Universidade de Pittsburgh, publicado na revista especializada Nature Metabolism, parece confirmar isso.
De acordo com a pesquisa, a ingestão de mais de 22% de proteína na dieta diária aumenta significativamente o risco de aterosclerose, o acúmulo de gordura, e outras substâncias nocivas nas artérias que podem levar a doenças cardiovasculares.
Os autores, da faculdade de medicina da Universidade de Pittsburgh, já haviam demonstrado, por meio de experimentos com camundongos em 2020, que uma dieta rica em proteínas e o consequente aumento do aminoácido leucina promovem aterosclerose e danos cardiovasculares, e agora deram um passo adiante, analisando o efeito no corpo humano.
Embora a proteína seja um nutriente necessário, os pesquisadores destacam que quase um quarto da população recebe mais de 22% de todas as calorias diárias somente de proteína. De fato, as dietas ricas em proteínas estão se tornando uma tendência como método de perda de peso nos países desenvolvidos.
Consequências
Os cientistas realizaram dois experimentos controlados em humanos usando quantidades graduais de ingestão de proteína em um total de 23 participantes do sexo masculino e feminino cujo índice de massa corporal foi classificado como sobrepeso.
Proteína feita com CO2?
02:28
This browser does not support the video element.
No primeiro experimento, 14 participantes ingeriram duas refeições líquidas de 500 quilocalorias, a primeira muito rica em proteínas e a segunda muito pobre em proteínas.
No segundo experimento, 9 participantes consumiram duas vezes uma refeição padrão de 450 quilocalorias com 16 ou 25 gramas de proteínas.
Aumento do aminoácido leucina na circulação
Os autores coletaram amostras de sangue antes e depois de ambos os experimentos, entre 1 e 3 horas após a ingestão, e descobriram que a proteína superior a 25 gramas por refeição aumenta os níveis do aminoácido leucina na circulação, o que pode afetar os monócitos e macrófagos (células que fazem parte do sistema imunológico).
Em um experimento de acompanhamento com camundongos, os autores usaram três dietas equivalentes (alta, moderada e baixa proteína) e descobriram que a ingestão de proteína acima de 22% das necessidades energéticas da dieta também aumentou os níveis de leucina, que ativa processos patológicos no sistema imunológico que levam à aterosclerose.
Implicações nutricionais
"Nosso estudo mostra que aumentar a ingestão de proteínas para melhorar a saúde metabólica não é uma panaceia. Podemos estar danificando as artérias", diz um dos autores, Babak Razani, professor de cardiologia da Universidade de Pittsburgh.
Os autores enfatizam que as descobertas desse estudo são particularmente relevantes para a área médica, pois os nutricionistas geralmente recomendam alimentos ricos em proteínas para pacientes que precisam preservar ou ganhar massa muscular e força.
"Aumentar cegamente a carga de proteína pode ser um erro, o importante é considerar a dieta como um todo e ter refeições balanceadas que não agravem inadvertidamente as condições cardiovasculares, especialmente em pessoas com risco de doença cardíaca e distúrbios vasculares".
A origem de 10 alimentos que hoje são globalizados
A maioria do que se coloca no prato diariamente procede de lugares espalhados pelo mundo. Um novo estudo do Centro Internacional para a Agricultura Tropical (CIAT) identificou a origem de alimentos considerados globais.
Foto: picture-alliance/Ch. Mohr
Manga, verde, amarela ou rosa – e asiática
Ela é tropical e parece bem brasileira, mas originalmente surgiu no Sul da Ásia. A manga, assim como o coco, foi trazida para o Brasil com a colonização portuguesa e se adaptou bem ao clima. Ela faz parte da dieta de alimentos não nativos, que vem crescendo no mundo em consequência de preferências culturais, desenvolvimento econômico e urbanização, conforme comprovou o estudo do CIAT.
Foto: DW/A. Chatterjee
Arroz para meio mundo
O arroz vem originalmente da China mas virou item básico da dieta de mais da metade da população mundial. A produção de cada quilo exige de 3 mil a 5 mil litros de água. Em alguns países produtores, a contaminação por arsênico dos lençóis freáticos é tão forte, que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) alertou para as consequências do consumo do cereal.
Foto: Tatyana Nyshko/Fotolia
Trigo nosso de cada dia
O trigo já era cultivado há mais de 7 mil anos na região do Mar Mediterrâneo. Na forma de pão ou de outras massas, como o macarrão, é um dos alimentos mais importantes do mundo. Cultivado em enormes campos de monocultura, o cereal é também usado para alimentar animais . Os campeões do cultivo são China, Índia, Estados Unidos, Rússia e França.
Foto: Fotolia/Ludwig Berchtold
Milho, dos astecas aos transgênicos
Originário do Centro do México, o milho hoje é plantado em todos os continentes. Apenas 15% da safra vai parar nos pratos, pois a maior parte serve como ração para animais. A indústria o aproveita, ainda, para fabricar xarope de glucose e produzir combustível. Nos Estados Unidos, cerca de 85% da produção é de milho transgênico, e outros países vão pelo mesmo caminho.
Foto: Reuters/T. Bravo
Batata, dos Andes para a Europa
As batatas consumidas hoje em dia são variações de espécies silvestres dos Andes, na América do Sul. Só há cerca de 300 anos o tubérculo passou a ser cultivado em grande escala na Europa, sendo fundamental na dieta de países como a Alemanha e Irlanda. Atualmente, porém, o cultivo da batata no continente está em declínio, enquanto cresce nos maiores centros de produção: China, Índia e Rússia.
Foto: picture-alliance/dpa/J.Büttner
Açúcar, de cana ou beterraba
A cana-de-açúcar vem do Oeste da Ásia, embora não se saiba exatamente de onde. Já há mais de 2.500 anos era usada para adoçar. O Brasil é atualmente o principal produtor, com grande parte da safra destinada ao bioetanol, também para exportação. A colheita é um trabalho árduo e, em geral, mal pago. O açúcar de cana é mais barato no mercado mundial do que o de beterraba, originário da Europa.
Foto: picture-alliance/RiKa
Banana, a preferida global
Cheia de vitaminas, a banana engorda menos do que reza sua fama. Fruta preferida em escala mundial, ela tem origem no Sudoeste Asiático. Hoje é cultivada principalmente na América Latina e Caribe, a custos tão baixos que saem mais baratas na Alemanha do que as maçãs cultivadas no próprio país. As condições para os trabalhadores rurais costumam ser ruins e há uso intensivo de pesticidas.
Foto: Transfair
Café, prazer com reflexos sociais
Procedente da Etiópia, o café é a segunda bebida mais consumida e principal fonte de renda de cerca de 25 milhões de produtores no mundo. Contando-se as famílias, são 110 milhões de pessoas dependentes das flutuações do mercado mundial. Contudo vem ganhando espaço a negociação por cooperativas e empresas de comércio justo. Mais de 800 mil pequenos agricultores já aderiram a esse sistema.
Foto: picture-alliance/dpa/N.Armer
Chá, relíquia colonialista
O chá vem da China e era servido aos imperadores. Tirando a água pura, é a bebida mais consumida do planeta: a cada segundo, mais de 15 mil xícaras são ingeridas. Considerado bebida nacional na Inglaterra, o chá ainda hoje é produzido principalmente nas antigas colônias do Império Britânico, como o Quênia, Índia e Sri Lanka. As condições do trabalho no campo são catastróficas.
Foto: DW/Prabhakar
Cacau, presente dos deuses
Os astecas, na atual América Central, usavam os grãos de cacau como moeda e oferenda. Também preparavam com eles uma bebida que diziam vir dos deuses. Não é difícil de acreditar: hoje o chocolate é amado no mundo inteiro. Produzido numa estreita faixa próxima ao Equador, o cacau sofre flutuações de preço no mercado mundial que afetam duramente os pequenos agricultores.