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Explode em Paris a arte moderna

(sm)26 de julho de 2005

Com a exposição Big Bang, o Centro Pompidou de Paris recombina obras de seu acervo numa releitura da arte do século 20 e mostra que a criação moderna parte de um procedimento de destruição.

Reforma do Centro Pompidou estimula reorganização do acervoFoto: dpa

O big bang foi o hipotético ato de destruição que deu origem ao universo. Assim como a arte moderna gerou o novo através da radical explosão dos códigos artísticos vigentes. Com a exposição Big Bang – Destruição e Criação na Arte do Século 20, o Centro Pompidou de Paris reordena seu acervo, para mostrar que – desde as vanguardas modernas – a arte avançou a partir do denominador comum da destruição e reconstrução.

Fênix renascida

"No meu caso, a pintura é uma soma de destruições. Pinto um quadro e depois o destruo, mas no final das contas não é tudo que se perde. O vermelho que eu eliminei reaparece em algum outro lugar." Assim descreve Pablo Picasso seu procedimento pictórico, mostrando que o ato voluntário da aniquilação implica a geração (espontânea) do novo.

A mostra, com quase 900 obras agrupadas em oito grupos temáticos, confronta a produção das vanguardas modernas com artistas contemporâneos e esboça relações de parentesco e continuidade. No entanto, seu movimento é mais associativo do que histórico, misturando programaticamente gêneros artísticos como pintura, desenho, design, escultura, instalações e música.

Diálogo moderno e contemporâneo

Os nus femininos cubistas de Picasso dialogam com os bronzes distensos de Alberto Giacometti. As imagens abstratas caligráficas de Jackson Pollock iluminam as paisagens urbanas cubistas de Robert Delaunay. A reconstrução da parede do ateliê de Breton delimita os arquivos de Christian Boltanski.

Na seção "Destruição", a curadora Catherine Grenier – que considera o rearranjo provisório do acervo do museu uma espécie de nova historiografia da arte – agrupa fenômenos como o deslocamento do corpo e da figura (Bacon, Warhol, Dubuffet), a desfiguração (Picabia, Baselitz, Naumann), o rigor geométrico (Buren, Mondrian), a arte monocromática (Klein, Honegger). A idéia é mostrar que o intuito da modernidade em fazer tábula rasa opera com a destituição dos objetos tradicionais da arte, radicalizada da deformação do figurativo até o extremo da redução abstrata.

Francis Bacon, 'Three Figures in a Room' (1964)Foto: dpa

Entre guerras e desconstruções

A seção "Construção / Deconstrução" mostra como o programa cubista, com sua deconstrução formal e analítica, vai se radicalizar numa série de procedimentos artísticos inéditos desde a valorização da transparência e do vazio como material da arte (Moholy-Nagy, Nouvel) até o aleatório e às proposições filosóficas da arte conceitual (Apollinaire, Duchamp, Cage, Art and Language).

A seção "Guerra" enfoca o século 20, com suas duas guerras mundiais e seus inumeros conflitos armados, como uma trajetória de conflito e barbárie. O posicionamento da arte foi de um engajamento político direto, ou seja, ativista, ou indireto, através da contínua subversão de formas e códigos. A pintura Execução, de Markus Lüpertz, referente à guerra dos Bálcãs, está exposta ao lado de uma maquete do Museu Judaico de Berlim, do arquiteto Daniel Libeskind.

Criação, por força das circunstâncias

Com suas demais seções, intituladas "Arcaísmo", "Sexo", "Subversão", "Melancolia", "Reencantamento", a exposição Big Bang alinha o Centro Pompidou com outros grandes museus de arte do mundo – como a Tate Modern, em Londres, e o MoMa, de Nova York – que abdicaram da ordem cronológica, para reordenar seu acervo através de critérios temáticos. O diretor do Pompidou, Alfred Pacquement, se refere a "uma experiência totalmente nova, que deverá quebrar com muitos tabus impostos pelo nosso próprio acervo".

O rearranjo do acervo do Pompidou não reflete somente o ímpeto de destruir ordens vigentes, não apenas a cronológica. O experimento de curadoria também se deve a uma emergência de ordem prática, pois os atuais trabalhos de manutenção do edifício dos arquitetos Richard Rogers e Renzo Piano obrigam ao fechamento alternado de um dos dois andares do edifício.

A exposição Big Bang pode ser vista até 28 de fevereiro de 2006 e cede lugar a mais um experimento a partir de março do ano que vem. Em 2007, marco dos 30 anos de existência do Centro Georges Pompidou, o museu reabre em grande estilo e em formato integral.

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