Explosões em pontos de ônibus deixam um morto em Jerusalém
23 de novembro de 2022
Ao menos 14 ficam feridos. Autoridades de Israel suspeitam se tratar de atentados palestinos. Último ataque a bomba contra civis israelenses ocorreu em 2016.
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Duas explosões perto de pontos de ônibus em Jerusalém causaram uma morte e feriram ao menos 14 pessoas nesta quarta-feira (23/11). A polícia local comunicou ter a suspeita de se tratar de ataques palestinos.
A primeira explosão ocorreu perto de um ponto de ônibus na periferia da cidade, num local onde passageiros costumam se aglomerar. A segunda explosão ocorreu em Ramot, um assentamento no norte de Jerusalém.
A polícia divulgou que uma pessoa não sobreviveu aos ferimentos. O serviço de resgate de Israel relatou que outras quatro ficaram gravemente feridas.
Os supostos ataques ocorreram num momento de tensões elevadas entre israelenses e palestinos, após meses de incursões israelenses na Cisjordânia ocupada, motivadas por uma série de ataques letais contra israelenses que resultaram na morte de 19 pessoas. Nas últimas semanas, houve um aumento nos ataques palestinos.
A escalada de violência também ocorre num momento em que o ex-primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu realiza negociações de coalizão após as eleições gerais e provavelmente conseguirá formar o que se espera ser o governo mais direitista da história de Israel.
Provável futuro ministro defende pena de morte
Itamar Ben-Gvir, um legislador extremista que defende a pena de morte para agressores palestinos e que deve se tornar o ministro encarregado da força policial, disse que os ataques são mais um indício de que Israel precisa adotar uma postura mais dura em relação a agressores palestinos.
"Devemos cobrar um preço pelo terror", disse Ben-Gvir no local da primeira explosão. "Devemos voltar a estar no controle de Israel, para restaurar a dissuasão contra o terror."
Em resposta às explosões, Israel fechou duas passagens para palestinos na Cisjordânia, perto da cidade de Jenin, conhecida por ser um reduto militante.
A polícia ainda está em busca dos supostos agressores e relatou haver indícios de que dispositivos explosivos tenham sido plantados nos dois locais. As duas explosões ocorreram durante a hora do rush da manhã desta quarta-feira. A polícia fechou parte de uma via principal na saída de Jerusalém.
Imagens do local da primeira explosão mostraram detritos espalhados pela calçada. No fundo, ouvem-se sirenes de ambulâncias. Em Ramot, local da segunda explosão, um ônibus ficou repleto do que aparentavam ser marcas de estilhaços.
"Há danos por toda parte aqui", disse Yosef Haim Gabay, um médico que estava no local quando ocorreu a primeira detonação, em entrevista à rádio do Exército de Israel. "Vi pessoas por toda parte com ferimentos sangrando."
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Primeiro atentado a bomba desde 2016
Embora os palestinos tenham executado diversos ataques com facas e a tiros e atropelamentos nos últimos anos, atentados com explosivos se tornaram muito raros desde o fim de uma revolta palestina há quase duas décadas. Segundo o jornal americano The New York Times, este foi o primeiro atentado a bomba contra civis israelenses desde 2016.
A milícia islâmica Hamas, que governa a Faixa de Gaza e já executou atentados suicidas contra israelenses, emitiu um comunicado no qual elogiou os perpetradores dos ataques. O Hamas classificou os ataques de "operação heroica", mas não chegou a assumir a responsabilidade.
"A ocupação está colhendo os frutos de seus crimes e agressão contra nosso povo", disse o porta-voz do Hamas, Abd al-Latif al-Qanua.
Ano mais letal desde 2006
Mais de 130 palestinos foram mortos em combates entre israelenses e palestinos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental este ano – fazendo de 2022 o ano com mais mortes desde 2006.
O Exército de Israel alega que a maioria dos palestinos mortos eram militantes. No entanto, também foram mortos jovens que atiraram pedras durante protestos contra as incursões militares e outros que não estavam envolvidos em confrontos.
Ao menos sete israelenses foram mortos em ataques palestinos nas últimas semanas.
Os militares israelenses disseram nesta quarta-feira que as forças que escoltavam fiéis a um santuário na cidade de Nablus, na Cisjordânia, durante a noite, depararam-se com suspeitos armados e abriram fogo. O Ministério da Saúde palestino comunicou que um jovem de 16 anos foi morto.
Israel capturou a Cisjordânia durante a chamada Guerra dos Seis Dias em 1967, junto com Jerusalém Oriental e Gaza. Os palestinos buscam recuperar os territórios para formar seu próprio Estado independente.
pv/lf (AP, ots)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sachs
2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.