Muro de Berlim
22 de maio de 2011Há 50 anos, o mundo assistia a um triste capítulo na história da Alemanha pós-guerra. O arame farpado, que até então demarcava os territórios repartidos entre os socialistas da União Soviética e o grupo capitalista formado por Estados Unidos, França e Inglaterra, dava lugar a um extenso muro de concreto e ferro, cercado por torres de vigilância. A partir daquele 13 de agosto de 1961, Berlim seria uma cidade dividia ao meio.
Por 28 anos, a chamada "faixa da morte" separou famílias, amigos, ruas e interrompeu linhas de transporte público. Parte dessa vivência está retratada em uma exposição de fotos inaugurada recentemente no Museu Histórico Alemão e que, não por acaso, fica aberta até 3 de outubro, Dia da Reunificação Alemã.
Os registros são dos fotógrafos alemães Thomas Höpker – um dos primeiros vindos do oeste com permissão oficial para viver e retratar o leste – e Daniel Biskup, que capturou imagens do fim da década de 90.
Höpker, hoje com 74 anos, lembra até hoje como foi o dia em que chegou a Berlim Oriental com a esposa, a jornalista Eva Windmöller, em 1974. Ele faria imagens para a revista Stern, trabalho que só foi possível após um acordo formal entre os dois governos alemães para promover intercâmbio de jornalistas.
"Era uma cidade grande, mas muito vazia", lembra Höpker. "Ventava muito, especialmente nos novos quarteirões construídos depois da guerra, que também não eram muito bonitos de se ver. As pessoas saíam de casa pela manhã e voltavam à noite, nada acontecia."
Ele passou a notar, porém, que a cara da cidade mudava radicalmente nos feriados públicos, quando as pessoas "bem vestidas" celebravam pelas ruase com "bandeiras e uniformes".
Dois estranhos
O material produzido pelo fotógrafo deu aos alemães ocidentais as primeiras impressões sobre a vida do outro lado do Muro. Diferentemente dos moradores do leste, que podiam assistir aos canais de televisão do oeste, o lado ocidental não tinha ideia de como viviam os alemães da República Democrática Alemã (RDA).
A curadora da mostra, Carola Jüllig, ressalta que as fotos de Höpker são acompanhadas de textos de sua esposa que falam um pouco sobre a vida na Alemanha socialista. "É muito interessante ler estes textos e entender como nós, do oeste da Alemanha, tentávamos nos aproximar daquele país estranho", diz Jüllig.
Diante de ruas vazias e de paradas oficiais, o trabalho de um fotógrafo torna-se extremamente difícil. Foi complicado para Höpker retratar a realidade da vida dentro da RDA. Apesar de seu foco em "pessoas comuns", há muitas fotos de caráter mais oficial.
"Ele fez muitas fotos naqueles dias especiais, mas sempre tentou olhar para as pessoas – o que elas sentiam, como agiam, como reagiam a estas bandeiras e aos discursos oficiais", explica Jüllig.
Sob forte vigilância
O fotógrafo relembra uma situação vivida na Berlim Oriental durante seus dias de trabalho. "À minha esquerda havia um senhor sentado com uma jaqueta de couro que ouvia toda a conversa, mas não dizia uma só palavra. Eu tinha certeza que ele tinha um pequeno botão preso à roupa", explicou Höpker, referindo-se a uma câmera escondida. "Então você pode imaginar que estas pessoas não eram exatamente francas, nem relaxadas."
Höpker e sua esposa eram frequentemente monitorados pela polícia secreta da RDA. Isso foi confirmado bem depois da queda do Muro, quando ele consultou o arquivo do serviço secreto. Lá estavam todos os relatos dos agentes sobre sua vida, detalhando cada passo dado.
Ele ressalta, no entanto, que sua esposa tentou ser bem honesta em seu textos. "Ela falava sobre o que nós achávamos simpático, agradável. Mas ela também não media as palavras quando algo horrível acontecia. Como feedback, eles nos diziam: ''você não deveria ter escrito isso, talvez devemos discutir isso mais tarde'. Mas nunca houve censura, até porque estava claro no acordo oficial que não poderíamos ser censurados", contou.
Tráfico do oeste
Olhando para as imagens de Höpker na exposição, fica claro que ele encontrou a "vida real" que estava procurando nas muitas voltas que deu do outro lado do Muro. Existem fotos de vitrines – onde os poucos produtos expostos aparecem cuidadosamente arrumados. Há também registros de trabalhadores em roupas sujas carregando carvão em grandes cestas, um sinal de que a maioria das pessoas nos distritos de Berlim Oriental não tinham aquecedor central naquela época. Também há imagens de jovens em roupas extravagantes no baile da escola.
Durante três anos, Höpker e sua esposa tiveram esta vida e fizeram vários amigos no cenário literário e artístico do leste. Mas, ao contrário destes amigos, eles podiam ir e voltar do oeste quando queriam. Com isso, eles traziam filmes, café, lã e outros produtos do lado ocidental. "Uma vez trouxemos até uma máquina de lavar louças no porta-malas do nosso carro", lembra o fotógrafo. "Os oficiais sabiam disso, mas não podiam abrir o nosso porta-malas. Fizemos muito este tipo de tráfico".
Autora: Monika Hebbinghaus (ms)
Revisão: Nádia Pontes