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Exposição

Soraia Vilela24 de janeiro de 2009

Mostra "Political/Minimal", no Kunst-Werke – Instituto de Arte Contemporânea – de Berlim, traz obras que se apropriam do vocabulário estético minimalista para apontar discretamente as feridas da sociedade contemporânea.

Francis Alÿs empurra bloco de gelo pela Cidade do México: performance em vídeo 'Paradox of Praxis' (1997)Foto: Francis Alÿs / David Zwirner

Distantes da máxima cunhada por Frank Stella (What you see is what you see / O que você vê é o que você vê), que serviu de guia para a minimal art dos anos 1960, as 32 obras expostas em Berlim fazem uso de formas geométricas, abstratas e reduzidas "ao mínimo". O propósito, contudo, difere essencialmente daquele dos artistas que se negavam a qualquer compromisso político ou relação direta com a realidade.

Esse "pós-minimalismo" não está isento de uma carga política, já que as obras em questão se referem à miséria, exclusão e discriminação. O curador Klaus Biesenbach (um dos fundadores do espaço Kunst-Werke e atualmente curador do MoMA em Nova York), fez questão de reunir trabalhos que optam pelo formalismo para embrulhar um teor político.

Ou que fazem uso de uma linguagem não tradicionalmente narrativa para contar, por exemplo, as mazelas sofridas pelas vítimas do genocídio em Ruanda, como na obra de Alfredo Jaar. Ou para criticar o papel delegado à mulher na sociedade, como nos quadros de ferro esmaltados nas cores azul, rosa e amarelo (Rosemarie Trockel), que sustentam enormes trempes de um fogão elétrico.

'Sem Título', obra da alemã Rosemarie Trockel (1992)Foto: Rosemarie Trockel / VG Bild-Kunst

Os contextos a que essas obras se referem são os mais variados, indo desde o amontoado de papéis brancos que leva o nome de Sem Título (Passaporte), do já falecido Felix Gonzales Torres, até os desmembrados tanques de guerra, usados para o tráfico de combustível na fronteira turco-iraquiana e que compõem o trabalho do coletivo turco xurban_collective.

No caso de várias obras, a associação "política" só se torna possível a partir de uma análise do título ou de uma explicação do artista a respeito do processo de constituição da obra. À primeira vista estéreis e limpos, esses trabalhos só permitem uma leitura mais precisa numa segunda abordagem.

Como no caso de Enterro (1999), da mexicana Teresa Margolles: uma escultura de cimento que guarda os restos mortais de um feto. Algo que o observador só percebe, ou melhor, só "fica sabendo" ao ler a explicação da própria artista: impossibilitados de pagar o enterro da criança nascida morta, seus familiares doaram à Margolles o feto, para que sua escultura servisse pelo menos de memorial à mais essa vítima da pobreza e miséria.

O branco asséptico que remete à lama

Nos trabalhos expostos, percebe-se, de toda forma, a suspensão da dicotomia political x minimal, num contexto em que um cubo asséptico e branco pode sem problemas remeter à podridão, à lama e à violência. Essa reordenação do conceito de minimal art fica também clara nas milhares de moscas mortas coladas por Damien Hirst numa tela que está dependurada "como uma pintura" nas paredes do Kunst-Werke. Ou no trabalho de Taryn Simon, em que o rosto de Bill Gates pode, a duras penas, ser identificado num quadrado negro que lembra o cubo de Kasimir Malewitsch.

'Sphères 2' (2006), de Adel Abdessemed: arame farpado fala por siFoto: Adel Abdessemed

É possível falar até de um aprisionamento do político pela geometria minimalista, embora o discreto charme dessas 32 obras esteja exatamente nesse limiar entre o estético e o político, nesse mecanismo de subenteder e sugerir, sem, contudo, agredir ou ser demasiado explícito.

Além do papel empilhado Sem Título (Passaporte) de Felix Gonzales Torres, outro dos trabalhos mais contundentes é o arame farpado do argelino Abel Abdessemeds, que esconde, por detrás de uma estrutura reluzente e redonda, a realidade cruel das zonas fronteiriças e dos campos de prisioneiros espalhados pelo mundo.

Não à ditadura da eficiência

Entre as poucas obras que utilizam vídeos ou pelo menos projeções nessa exposição que não dá lugar a excessos, está Blue (1993), do também já falecido Derek Jarman. Depois de ter ficado cego em consequência de enfermidades acarretadas pela aids, o artista britânico usou seus próprios offs pessoais sobre seu estado emocional naquele momento, ouvidos sobre a "eterna" projeção de uma superfície azul.

E o eficaz Paradox of Praxis (1997), do belga Francis Alÿs, que empurra lentamente, durante horas, um bloco de gelo pelas ruas da Cidade do México, até não sobrar mais nada além de uma pequena poça d' água. "Às vezes, fazer alguma coisa não leva a nada", diz lacônico o texto que acompanha a performance. Com sua sutil e "mínima" alfinetada na apologia ocidental da eficiência, o artista adiciona o político a seu minimalismo. Sem grandes tempestades, só com uma pequena poça d'água.

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