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Obras confiscadas

14 de dezembro de 2010

A Segunda Guerra Mundial deixou rastros também em museus e galerias. Em todos os países europeus envolvidos no conflito, desapareceram obras de arte durante os anos de guerra.

'Olhar sobre Florença', tela de Wilhelm Ahlborn na Antiga Galeria NacionalFoto: Staatliche Museen zu Berlin, Nationalgalerie, Foto: Andres Kilger

Na Alemanha, os casos de obras perdidas por museus e galerias no contexto da Segunda Guerra foram muitos e podem ser divididos em três categorias: as obras confiscadas pelos nazistas e consideradas "degeneradas"; as obras que simplesmente se perderam em meio aos combates; e as obras confiscadas pelas forças de ocupação do país no pós-guerra, especialmente pelos russos. Nos últimos anos, algumas obras da Galeria Nacional de Berlim, que haviam desaparecido em contingências ligadas à guerra, reapareceram de maneira surpreendente.

August Wilhelm Ahlborn dedicou-se em vida à pintura de paisagens – encomendadas a ele pela corte prussiana, pelos nobres e colecionadores berlinenses da época – no estilo de seu grande mestre, Karl Friedrich Schinkel.

Em 1832, após uma estada de quatro anos na Itália, Ahlborn concluiu seu Olhar sobre Florença, adquirido posteriormente pelo banqueiro e mecenas berlinense Joachim Heinrich Wagener. A abertura de sua ampla coleção de obras de arte ao público foi o que levou posteriormente à fundação da Galeria Nacional de Berlim. Ali permaneceu o Olhar Sobre Florença de Ahlborn, até o dia em que foi emprestado, em 1934, aos governantes nazistas.

Na casa de Hitler

Índice de obras emprestadas ao governo nazista em 1934Foto: Zentralarchiv der Staatlichen Museen zu Berlin

"Essa pintura que servia como decoração, pode-se dizer, da residência particular de Adolf Hitler, desapareceu depois na confusão, até ser redescoberta no mercado de artes e comprada de volta", explica Udo Kittelmann, diretor da Galeria Nacional, poucos meses após a instituição que dirige ter readquirido a obra.

Logo depois, a pintura foi restaurada e está hoje exposta ao público no andar térreo da Antiga Galeria Nacional, ao lado de 17 outras obras que permaneceram anos perdidas. "O número de perdas na guerra foi de aproximadamente 600 pinturas do século 19, que perfazem um terço do acervo atual da Antiga Galeria Nacional, diz Michael Eisenhauer, diretor-geral da fundação que congrega todos os museus estatais berlinenses.

Paradeiro incógnito

A Galeria Nacional havia emprestado centenas de obras a museus espalhados por toda a Alemanha e também a departamentos públicos dentro e fora do país. Grande parte destas obras acabou sendo provavelmente destruída em incêndios ou ataques aéreos e o que foi feito das obras que restaram é até hoje uma incógnita.

Além disso, foram registradas perdas enormes através de saques de abrigos antiaéreos e bunkers, para os quais as obras da Galeria Nacional haviam sido removidas no decorrer da Segunda Guerra. Isso pode ser confirmado no Arquivo Central dos Museus Estatais de Berlim, conta Birgit Verwiebe, onde há ainda incontáveis listas, digitadas com todo o cuidado ou escritas à mão. "Um exemplo é uma lista que encontrei, cujo título é '66 pinturas da Galeria Nacional transportadas em diversos carros de mão para o banco do Reich'. Este é um documento datado do início de 1941".

Listas de transporte parecidas com essa e uma série de fotografias históricas – que mostram bunkers de superfície, bem como abrigos de emergência para obras de artes em minas de sal – complementam a exposição do acervo da Antiga Galeria Nacional com uma seleção de pinturas que voltaram à instituição nos últimos anos.

Adolph Menzel, 'Imagem de uma jovem', faz parte da mostraFoto: Staatliche Museen zu Berlin, Nationalgalerie

Melhor comunicação

Trata-se de quadros que apareceram de repente em mercados de pulgas ou em coleções privadas, bem como no mercado internacional de arte. E tais obras de propriedade da Galeria só puderam ser identificadas porque haviam sido descritas não somente nos catálogos impressos que relacionam as perdas, mas também em bancos de dados na internet.

As redes globais melhoraram as possibilidades de pesquisa de maneira sensível, diz Michael Eisenhauer. Mas o fato de que nos últimos dez anos tenham retornado mais obras à Galeria Nacional que nas décadas anteriores tem também a ver com a recente história alemã.

"Havia, na antiga RDA, uma proibição de contato entre os pesquisadores dos museus da Alemanha Oriental e aqueles da Alemanha Ocidental. De forma que não se podia comparar as listas nem os inventários existentes. Tanto no lado ocidental quanto no oriental tinha-se a impressão de que o que estava desaparecido talvez estivesse, sim, do outro lado", explica Eisenhauer.

Devoluções

Antiga Galeria Nacional: exposição traz obras desaparecidas por décadasFoto: AP

O processamento das perdas começou em 1990, ano que sucedeu a queda do Muro de Berlim. A partir de então, começou a ser registrada uma documentação de vários volumes com a lista de todas as obras de arte perdidas. Alguns proprietários dispostos a devolver essas obras receberam da Galeria Nacional de Berlim uma recompensa em dinheiro bem inferior aos valores da obras no mercado de artes.

Na Antiga Galeria Nacional, há a esperança de que vários outros proprietários de obras que foram confiscadas dos museus e galerias alemães também estejam, futuramente, dispostos a devolvê-las.

Ainda desaparecidas estão, por exemplo, 13 obras do pintor romântico Carl Blechen, entre estas, a Paisagem de Märkisch, pintada sobre madeira. Como símbolo de tantas outras obras que continuam desaparecidas, a moldura vazia, que supostamente pertence à obra e se encontra no acervo do museu, está sendo exibida na exposição da Antiga Galeria Nacional.

Autora: Silke Barlick (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque

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