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HistóriaEuropa

Exposição resgata protagonismo feminino na Idade Média

29 de outubro de 2024

Apagadas da história, mulheres daquela época também desempenhavam tarefas muito semelhantes às dos homens, e algumas foram até mesmo líderes militares. Biblioteca Britânica resgata suas conquistas e desafios.

Ilustração de "A cidade das damas" de Christine de Pizan
O livro "A cidade das damas", de Christine de Pizan, celebrou a igualdade intelectual das mulheres em pleno século 15Foto: AKG/picture alliance

Uma exposição na Biblioteca Britânica dá voz às mulheres da Idade Média, no intuito de resgatar do ostracismo seus papéis nas diferentes esferas sociais durante uma época dominada pela narrativa masculina.

A exposição Mulheres medievais: em suas próprias palavras foi aberta ao público em 25 de outubro e vai até 2 de março, trazendo uma centena de artefatos, relatos e experiências destas mulheres na Europa do século 12 ao 16 através de diferentes culturas, religiões e de suas posições sociais.

O curador da exposição, Julian Harrison, sublinha a importância de "recuperar aquelas vozes e os testemunhos de mulheres que viveram no passado", e destacou que elas "tiveram vidas incríveis e muitas, muitas conquistas."

"Sabemos que elas foram com frequência erradicadas, apagadas da história. A exposição mostra porém, que no passado elas muitas vezes desempenhavam tarefas muito semelhantes às dos homens. Algumas eram líderes militares, outras eram autoras", afirmou.

Histórias de rainhas e mulheres comuns

Entre tantas experiências, Harrison reconhece que tem sido "um desafio decidir quais histórias incluir e quais mulheres deixar de fora". Ele diz que, entre os manuscritos originais, há histórias de "rainhas e freiras, mas também de mulheres de outras esferas da vida; há mulheres grávidas e histórias de poetisas".

A exposição mostra, por exemplo, o único documento do qual há provas da existência de Martha, uma jovem de origem russa vendida em um mercado de Veneza em 1450, que acabou a centenas de milhares de quilómetros da sua casa, sendo vendida por outra mulher, como lembrou especialista.

Um dos principais objetos expostos na Biblioteca Nacional é a primeira carta assinada por Joana d'Arc, considerada uma das mulheres mais importantes da história. No documento, ela escreveu à cidade francesa de Riom em 1429, solicitando assistência militar. Esta foi a primeira vez em 600 anos que a carta saiu da cidade, apenas para ser exibida em Londres.

Cientistas e religiosas

Há, no entanto, narrativas muito mais diversificadas sobre as mulheres medievais nas quais são observadas suas conquistas e limitações. A exposição traz, por exemplo, as histórias de Hildegard von Bingen, autora visionária de livros de teologia e medicina, e de Estellina Conat, a primeira mulher a imprimir um livro em hebraico.

Muitas delas também buscavam força através de sua religiosidade e ganharam notoriedade como autoridades religiosas.

É o caso de Margery Kempe, que nasceu em uma família de ricos comerciantes e se casou com apenas 14 anos. Ela disse ter tido visões espirituais após o nascimento de seu primeiro filho. Mais tarde, ela convenceu o marido a aceitar um casamento sem sexo e mergulhou na religião, embarcando em peregrinações frequentes a Roma, Jerusalém e Santiago de Compostela, entre outros destinos.

"A cidade das damas"

Outros exemplos são a poetisa francesa Marie, que deixou seu nome em um verso para a posteridade, e Christine de Pizan, a primeira mulher na Europa a ganhar a vida escrevendo livros.

Filha de um astrólogo da corte francesa, Pizan cultivou a poesia e a prosa para sustentar a família após a morte do marido. A sua obra mais famosa, O Livro da Cidade das Damas (1405), celebra as conquistas das mulheres e defende a igualdade intelectual e moral – uma postura controversa em uma época na qual elas eram consideradas inferiores. "Que aqueles que mentem nos seus livros sobre as mulheres baixem os olhos de vergonha", escreveu, em uma reação à misoginia de sua época.

Além de figuras famosas, a exposição também explora a vida pública de mulheres comuns, como gráficas pioneiras e trabalhadoras agrícolas, que muitas vezes recebiam salários inferiores aos dos homens.

Hildegard von Bingen, autora alemã visionária de livros de teologia e medicinaFoto: akg-images/picture-alliance

Eleanor Jackson, curadora da Biblioteca Britânica, destaca o caso de Maria Moriana, uma mulher moura que, no século 15, entrou com uma petição contra um comerciante veneziano que tentava vendê-la. "Este documento mostra que havia pessoas de cor na Inglaterra medieval", diz Jackson, ao sublinhar a bravura de Maria na luta pelos seus direitos.

Experiência multissensorial

Há também livros de medicina, entre os quais está incluído o testemunho de Trota, física que no século 12 exerceu medicina na escola de Salerno, no sul da Itália, e que deu nome a uma coleção de textos sobre a saúde da mulher. Suas obras se destacaram pela orientação muito mais prática do que a adotada por seus contemporâneos do sexo masculino.

A exposição inclui algumas "instalações de aromas", como frascos com perfumes, poções ou remédios terapêuticos feitos com ervas naturais para que o visitante possa mergulhar numa experiência multissensorial e recriar um momento ou uma experiência específica.

rc/ra (EFE, DW)

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