Exposição na ONU retrata sobreviventes do Holocausto
24 de janeiro de 2018
Fotógrafo alemão Luigi Toscano registra sobreviventes da perseguição do regime nazista há mais de três anos. No total mais de 200 pessoas de seis países diferentes já foram fotografadas.
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O olhos tristes e azuis de Getrud Roche parecem estar saindo da foto, observando quem passa. Nascida em 1929, ela está usando um brinco rosa e uma correntinha. Já o olhar de Marcel D., cinco ano mais jovem, é um pouco mais suave. Andrzej Korczak-Branecki, nascido em 1930, está com os olhos quase arregalados.
Além de serem poloneses, eles também têm em comum o fato de terem sobrevivido ao Holocausto, enquanto muitos de seus familiares e amigos morreram sob o regime nazista.
E, desde esta segunda-feira (22/01), eles podem ser vistos por quem passa diariamente pela Primeira Avenida em Nova York e na entrada principal das Nações Unidas. A exposição se chama "Sobreviventes, vítimas e perpetradores", com fotos do ítalo-alemão Luigi Toscano, num projeto em parceria com a Casa da Conferência de Wannsee de Berlim.
Além das fotos dos sobreviventes, também é possível ver, em 13 murais, uma explicação do que foi a Conferência de Wannsee, na qual, em 1942, aconteceu o planejamento do extermínio em massa dos judeus.
Há três anos, Toscano fotografa sobreviventes do Holocausto. Até agora mais de 200 pessoas, de seis países diferentes, foram registradas por suas câmeras, num projeto chamado "Contra o esquecimento".
"É significativo estar aqui [em Nova York], eu ainda tenho contato com uma parte dos sobreviventes e eles estão orgulhosos e felizes", diz.
Toscano conta que o importante para ele é não só fotografar vítimas judias, mas todos aqueles que foram afetados pelo Holocausto, incluindo ciganos, perseguidos políticos, homossexuais ou trabalhadores forçados."
Por enquanto, o projeto não tem um fim, pois Toscano continua fotografando mais sobreviventes. Só nesta viagem aos Estados Unidos, ele se encontrou com outras 15 pessoas que agora também terão seus olhares eternizados no projeto.
"Eu me aproximo das pessoas de forma bem humana." Ele conta que, às vezes, fica horas ouvindo as histórias das pessoas - "essa espécie de ritual tem diferentes etapas e é bastante emocionante e engraçado, tudo ao mesmo tempo". Depois da conversa, tendo conquistado mais confiança de seus retratados, vem a pergunta final: "Posso te fotografar?".
Toscano, que tem família italiana, mas nasceu na Alemanha, explica que, aos 18 anos de idade, foi a Auschwitz para para entender melhor esse período da história. Esse momento foi marcante e mais tarde continuou o acompanhando.
"Algum tempo depois de eu ter estudado fotografia, decidi que gostaria de abordar este tema e isso em um momento em que o antissemitismo estava crescendo tanto na Europa quanto em outros lugares", afirma.
Com suas fotos, Toscano diz esperar que a história não seja esquecida, para que não se corra o risco de que ela se repita. O efeito dos olhares sob os passantes da Primeira Avenida em Nova Iorque já podem ser notados.
RG/dpa
Dez filmes sobre o Holocausto
A "cinematografia do Holocausto" é composta de uma vasta lista de filmes. Embora transpor o indescritível para imagens em movimento seja uma tarefa altamente complexa, são diversas as tentativas.
Foto: absolut Medien GmbH
Noite e neblina
Filme de 1955 que estreou no Festival de Cannes, "Noite e neblina", dirigido pelo francês Alain Resnais, foi um dos primeiros documentários a se debruçar sobre o Holocausto. Renais e Chris Marker, na época seu assistente, estavam entre os primeiros cineastas a terem um acesso mais amplo aos arquivos do Holocausto em França, Bélgica, Holanda, Polônia e Alemanha.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library/Ronald Grant Archive
Minha luta
Coprodução sueco-alemã de 1960, tem direção de Erwin Leiser (1923-1996), que emigrou aos 15 anos de idade, depois do Pogrom de 1938, para a Suécia, onde se tornaria mais tarde um cronista em imagens das atrocidades do regime nazista. No longa-metragem, o diretor reúne material de arquivo da época, como faria em outros filmes posteriores, em um minucioso trabalho de memória daquele período.
Foto: picture-alliance
Shoah
Obra mais importante sobre a memória do Holocausto, o filme de Claude Lanzmann, de 1985, com 9 horas e meia de duração, foi feito no decorrer de 11 anos. O diretor recusa-se a usar imagens de campos de concentração como fazem os documentários convencionais. O registro do horror acontece através do testemunho de sobreviventes – sejam eles vítimas, algozes ou meros espectadores das atrocidades.
Foto: absolut Medien GmbH
A lista de Schindler
Steven Spielberg contou neste filme de 1993 a história de um empresário que, embora conivente com o regime nazista, acabou salvando a vida de mais de mil judeus. A superprodução americana ganhou sete Oscars, incluindo os de melhor filme e direção, embora tenha sido apontada por parte da crítica como um melodrama que prima por transformar a dor em espetáculo.
Foto: picture alliance / United Archives/IFTN
Exílio em Xangai
O longa-metragem de 1997, de Ulrike Ottinger, é um filme sobre o Holocausto no sentido de documento da fuga e da migração dos judeus para Xangai durante o regime nazista. Com 4 horas e meia de duração, o documentário tem como ponto de partida as lembranças de seis judeus alemães, austríacos e russos, que fugiram para Xangai, um dos únicos lugares com fronteiras abertas até 1943.
Do Leste
Coprodução franco-belga de 1993, o documentário de Chantal Akerman é uma viagem realizada pela diretora passando pelo Leste alemão, Polônia, países bálticos e Rússia. O filme documenta não apenas o deslocamento geográfico da cineasta, mas sobretudo sua busca de um Leste que, embora lhe seja estranho, é a terra de origem de sua mãe judia, nascida na Polônia e sobrevivente de Auschwitz.
Balagan
Uma trupe tenta, na israelense Akko, tratar do Holocausto em um coletivo de teatro que envolve também um palestino. A partir daí, o diretor Andres Veiel busca, neste filme de 1994, descobrir as feridas abertas existentes quando se fala do assunto. O documentário não é um filme sobre sobreviventes, mas sim sobre seus filhos e sobre como eles conseguem lidar com essa herança histórico-familiar.
A vida é bela
Tragicomédia encenada pelo italiano Roberto Benigni em 1999, o filme recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes e atraiu um imenso público em muitos países. Por ser uma das raras tentativas de abordar o tema dos campos de concentração com humor, teve recepção ambivalente por parte de alguns sobreviventes do Holocausto, que viram aí um perigo de banalização das atrocidades nazistas.
Foto: picture-alliance/dpa
O Pianista
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2002, o filme de Roman Polanski tem roteiro baseado nas memórias de Wladyslaw Szpilman, músico polonês que testemunha como Varsóvia é tomada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial e cuja família é assassinada no campo de concentração de Treblinka. O próprio Polanski sobreviveu ao Gueto de Cracóvia e perdeu a mãe assassinada em Auschwitz.
Foto: imago stock&people
O filho de Saul
Filme de 2015 do húngaro László Nemes (ex-assistente de Béla Tarr), tem como protagonista um integrante do Sonderkommando (grupo de prisioneiros judeus encarregados de limpar câmaras de gás e remover cadáveres), cuja ideia fixa é enterrar um garoto. Filme claustrofóbico, cujo uso do primeiro plano, os closes exacerbados e a câmera em constante movimento, tira o espectador de sua zona de conforto.