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Férias no nazismo

Carlos Albuquerque5 de setembro de 2007

Exposição no antigo balneário nazista Prora tenta esclarecer a política de lazer do nacional-socialismo como forma de legitimação do regime. O balneário é um dos principais projetos monumentais deixados pelos nazistas.

Prora, complexo de edifícios na ilha de Rügen, abrigaria 20 mil pessoas diariamenteFoto: picture-alliance/ ZB

Lazer no fascismo – Como funcionava a política de lazer na Alemanha nacional-socialista e na Itália fascista é o nome da exposição aberta de 1º a 30 de setembro no Centro de Documentação Prora, localizado na ilha de Rügen, no Mar Báltico. Em outubro, a exposição será exibida em Berlim e, posteriormente, em outros países.

Organizada pela fundação alemã Nova Cultura em cooperação com o Instituto de História da Universidade de Turim, a exposição tematiza a política de lazer estatal na Alemanha nacional-socialista e em regiões ocupadas, como a República Tcheca, mas também na Itália fascista.

O prédio onde hoje está localizado o Centro de Documentação Prora é parte importante da exposição. O complexo de edifícios de 4,5 quilômetros de extensão, hoje tombado pelo patrimônio histórico, foi construído para ser a maior colônia de férias da organização nazista "Kraft durch Freude" (força através da alegria).

O complexo do Prora abriga hoje centro de documentaçãoFoto: picture-alliance/ ZB



Nazistas e fascistas

Através de uma confrontação entre a política de lazer fascista e nazista, a exposição compara métodos e mecanismos usados por ambas as ditaduras para intervir no lazer individual dos cidadãos com o objetivo de, também na esfera privada, obter um controle total sobre cada indivíduo. Karsten Linnie, curador da exposição, explica que o regime nacional-socialista tentou modificar, completamente, a fronteira entre o privado e o público.

"O principal órgão responsável pelo lazer no nacional-socialismo era a organização 'Kraft durch Freude' (KdF)", explica Linnie. Como organização de lazer do sindicato único nazista Frente dos Trabalhadores Alemães (DAF), quase todos os trabalhadores pertenciam, automaticamente, à KdF.

A organização fascista "Opera Nazionale Dopolavoro", criada por Mussolini em 1° de Maio de 1925 com a intenção de ocupar o tempo livre dos trabalhadores, serviu de modelo para a KdF, explica o curador. Linnie acrescenta que a organização alemã criada por Hitler em 1933 deveria, segundo o desejo do ditador, "cuidar da constituição estável dos camaradas nacionais".

Difícil de implodir

A colônia de veraneio da ilha de Rügen, conhecida pelo nome de Prora, é uma das maiores e mais complexas edificações construídas pelo nacional-socialismo. O "colosso de Prora", construído entre 1936 e 1939 para abrigar 20 mil visitantes, era o edifício mais importante das instalações. Como os russos não conseguiram destruí-lo após a guerra, foi usado para fins militares durante a era soviética e, posteriormente, como albergue da juventude.

Os quartos, medindo 2,5 por 5 metros, eram localizados em dois blocos de seis andares e 2 mil metros de comprimento. Sua curvatura se adaptava à curvatura natural da baía. Os edifícios de habitação eram interrompidos a cada 500 metros por um "espaço comunitário".

Na moeda da época, a diária do balneário custaria 2 marcos do Reich, o que incluía todas as taxas além de toalha, cesto de praia, etc. Cada estadia era planejada para dez dias, o que significa que o Prora poderia receber 1,5 milhão a 2 milhões de "turistas" anuais. Sua construção foi definitivamente abandonada em 1942.

Volkswagen e férias

Assim como a política habitacional ou a produção de carros populares (Volkswagen), a organização das férias também fazia parte da ideologia nacional-socialista. O curador explica que o caráter socialista de tal política deixava bastante a desejar: "somente 20% dos passageiros nos navios da KdF, por exemplo, eram trabalhadores". A exposição vai além de 1945 e documenta as tentativas de organização do lazer dos jovens na Alemanha do pós-guerra.

Segundo a fundação Nova Cultura, no entanto, algumas pessoas ainda consideram a política de lazer como um "lado positivo" do fascismo. Ela é utilizada por extremistas de direita e neofascistas europeus como forma de propaganda ideológica.

A atual mostra do Centro de Documentação Prora retrata a política de lazer nazista e fascista no contexto da política de propaganda fascista, dos preparativos de guerra e da eliminação dos opositores, prestando assim uma contribuição para desmontar o falso brilho que se possa projetar sobre esta forma de lazer.

Prora também possui exposição permanenteFoto: dpa
Russos não conseguiram demolir completamente o ProraFoto: S.Hüls
O balneário é uma das maiores construções nazistasFoto: S.Hüls
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