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Exposição

Jennifer Abramsohn (vn)31 de maio de 2007

Mostra multimídia "Terra natal e exílio: emigração dos judeus alemães após 1933" reconstrói a história dos judeus que escaparam da Alemanha em direção a cem países diferentes.

Nova York: destino sonhado por muitosFoto: Jüdisches Museum Berlin, Schenkung von Maria Vishniac Kohn

Por que eles partiram? Onde encontraram refúgio? Sob quais condições? Como construíram suas novas vidas e como se sentiram em relação a seus países "novos" e "antigos"? A mostra multimídia Terra natal e exílio: A emigração dos judeus alemães após 1933, que fica aberta até outubro próximo no museu Casa da História, em Bonn, tenta responder essas questões.

A mostra parte de dispositivos que descrevem resumidamente o alastramento do anti–semitismo no país e a suspensão das liberdades civis, que forçou entre 280 a 500 mil judeus alemães a emigrar a partir de 1933.

Entre os objetos expostos, uma peça chama bastante a atenção dos visitantes: um jogo de tabuleiro para crianças, com o nome de Fora Judeus!. O objetivo do jogo era eliminar as peças que representavam os judeus de uma cidade repleta de lojas cujo nome era Crédito do Salomão.

A partir daí, a exposição se volta para a vida dos emigrantes nos países nos quais passaram a viver, dividindo-se em salas temáticas dedicadas aos judeus–alemães em outros países da Europa, na África, Ásia e Américas. Num mapa interativo em 3D, os freqüentadores do museu podem localizar os cem países que aceitaram a entrada de refugiados judeus.

Fazendas na República Dominicana

Emigrantes a bordo do navio Martha Washington, a caminho da PalestinaFoto: Jüdisches Museum Berlin

Os curadores da mostra explicam que alguns destinos eram mais procurados que outros. O visto mais concorrido – limitado em número e disponível apenas sob atestado de boas condições financeiras – era o de entrada nos Estados Unidos.

Já o destino menos procurado era Xangai, que acabou, entretanto, se transformando na última oportunidade de fuga para os cerca de 20 mil judeus, graças à política de permissão de entrada no país sem exigência de visto, válida a partir de 1941.

Uma história inusitada nesta parte da exposição envolve um plano do então ditador da República Dominicana, Rafael Trujillo, de trazer judeus "especialistas em agricultura", num esforço de "embranquecer" a população e levantar a economia do país.

A maioria das peças exibidas faz parte do acervo permanente do Museu Judaico de Berlim, exposto de setembro de 2006 a abril de 2007, e de outras coleções, explica Cilly Kugelmann, vice–diretora e responsável pela programação do Museu Judaico de Berlim.

"Há pessoas que guardaram tudo, cada papel, cada carta. Esta geração está desaparecendo e eles sabem que seus filhos não cuidarão desses objetos. Por isso, doam essas peças para as coleções históricas", explica Kugelmann.

Sua peça preferida, diz a especialista, é o porta-níqueis de um homem que passou por diversos países durante sua fuga da Alemanha, até estabelecer–se em Portugal. Durante a jornada, ele guardou um pouco de dinheiro de cada país.

Recomeço bem–sucedido

Na exposição, há desde fotografias, poemas, diários, passagens e cartas, até maletas, roupas, xícaras e bonecas – tudo o que foi deixado para trás ou integrou a vida na nova pátria. Além disso, os visitantes também podem assistir a trechos de relatos pessoais feitos por emigrantes.

Liberdades civis dos judeus foram canceladas durante o nazismoFoto: Andreas Meyer

Sobretudo, explica Kugelmann, a exibição conta a história de pessoas que foram especialmente bem–sucedidas na difícil tarefa de se adaptar a uma situação difícil – mesmo que uma parcela destes emigrantes tenha sofrido de depressão e até cometido suicídio.

"Muitos dos que partiram embarcaram em suas novas vidas com um certo pragmatismo distinto e irônico", analisa Kugelmann: "Ficamos pensando: por que eles foram relativamente bem-sucedidos. Seus filhos continuaram bem-sucedidos posteriormente. Como conseguiram isso?"

História esquecida

Kugelmann observa que, mais de meio século após o fim do nazismo, talvez esteja finalmente na hora de a Alemanha começar a olhar o Holocausto sob um novo ângulo. "Ao longo dos últimos 60 anos, a sociedade alemã desenvolveu uma percepção do período nazista, no qual o genocídio se tornou o único paradigma. A sobrevivência de mais de 60% dos judeus alemães foi simplesmente ignorada", relata a pesquisadora.

O diretor de exibições da Casa da História, Jürgen Reiche, acredita que a mostra incentivará os jovens a olhar de forma diferente para o passado e o presente da Alemanha. "Esquecemos algumas vezes que a história dos judeus alemães também é a história da Alemanha", conclui Reiche.

Expulsos da terra natal

O historiador da Universidade Hebraica de Jerusalém, Moshe Zimmermann, que trabalhou como consultor da exposição, alerta, entretanto, sobre a tendência de se concentrar muito nas histórias bem-sucedidas de refugiados do nazismo.

Desenho feito por uma criança na viagem rumo ao novo paísFoto: presse

"Freqüentemente, a idéia é de que a emigração não destruiu muitas vidas. As pessoas pensam em Thomas Mann, Billy Wilder, Henry Kissinger, e dizem: 'Eles deixaram a Alemanha, não foi tão trágico assim. Elas dizem: 'Os judeus não puderam encontrar um lar em outro lugar porque eles têm esse jeito. Mas se você começar a pensar desta forma, já estará partindo de uma idéia incorreta", observa o historiador.

Como deixa claro a palavra Heimat (terra natal), que faz parte do título da exibição, "os emigrantes eram, apesar de tudo, alemães. Eram alemães, que por sua vez eram judeus. E foram expulsos da sua terra natal. Não há plural para a palavra Heimat. Não se tem mais que uma", conclui Zimmermann.

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