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Extremismo cresceu na pandemia, diz inteligência da Alemanha

16 de junho de 2021

Tanto o extremismo de direita quanto de esquerda floresceram durante a crise sanitária, segundo a serviços de informação alemães. Mas as próprias forças de segurança também estão sob escrutínio.

Manifestante encapuzado em protesto
Extremistas se aproveitaram de protestos contra restrições da pandemiaFoto: picture-alliance/dpa/C. Charisius

O ministro do Interior alemão, Horst Seehofer, disse que tanto o extremismo de direita quanto de esquerda aumentaram na Alemanha no ano passado, ao apresentar o relatório anual da agência de inteligência doméstica, o Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV). O que é mais alarmante: Seehofer disse que 40% dos 33.300 extremistas de extrema direita no país foram classificados como "dispostos à violência", a maior proporção de todos os tempos. Também houve um aumento de 10% no número de crimes violentos de extrema direita no ano passado, para 1.023, dos quais 842 foram casos de agressão física.

O BfV também registrou um aumento de extremistas de esquerda: 34.300 em 2020, em comparação com 33.500 em 2019, dos quais 9.600 foram considerados potencialmente violentos. Também houve um aumento significativo no número de crimes violentos de extrema esquerda, conforme o BfV – foram registrados 1.237. Destes, 423 foram casos de agressão física.

Mudança para o mundo virtual

Seehofer disse que a pandemia de coronavírus exacerbou os perigos do extremismo no ano passado, com vários grupos extremistas explorando protestos antilockdown para promover sua agenda. "Esta não é apenas uma situação especial de saúde, é também uma situação especial de segurança", disse Seehofer sobre a pandemia, antes de destacar o papel desempenhado pelos chamados Reichsbürger – um grupo de teóricos da conspiração que nega a legitimidade do Estado alemão.

Ministro do Interior da Alemanha, Horst SeehoferFoto: Michael Sohn/AP Photo/picture alliance

"Eles também usaram ativamente a pandemia e as medidas estatais relacionadas a ela para espalhar suas histórias de conspiração", disse o ministro, ressaltando que isso claramente os ajudou a obter novos números e que há um potencial crescente de violência entre o grupo.

"Extremistas e terroristas não ficam confinados", disse o presidente do BfV, Thomas Haldenwang, a repórteres na entrevista coletiva desta terça-feira (15/06). "Depois de apenas um curto período de incerteza no início de 2020, extremistas em todas as áreas mudaram suas atividades para o mundo virtual, onde usaram todo o espectro da comunicação digital para se conectar."

Novos aspectos do antissemitismo

Embora Seehofer enfatize que 90% dos incidentes antissemitas originam-se da cena da extrema direita, Haldenwang destacou o aumento de incidentes antissemitas relacionados com os protestos pró-palestinos que ocorreram em maio.

"O antissemitismo é e continua sendo uma categoria que unifica vários extremistas", disse Haldenwang a repórteres. "Mas na Alemanha não há espaço para o antissemitismo. Junto com todos os meus colegas em todas as forças de segurança na Alemanha, garanto que faremos o possível para proteger as instituições judaicas e a vida judaica."

Suspeitas sobre o próprio BfV

O BfV tem a tarefa de rastrear extremistas políticos em todo o país e defender a ordem constitucional da Alemanha, juntamente com as agências de inteligência domésticas de todos os 16 estados alemães.

Mas, nos últimos anos, o BfV, as Forças Armadas e a própria polícia atraíram nova atenção por abrigar redes de extrema direita.

Haldenwang minimizou a prevalência de tais redes na terça-feira. "Talvez não possamos falar de casos isolados, mas é uma parte muito pequena. A vasta maioria dos que trabalham nas autoridades de segurança apóia-se firmemente nos alicerces da Constituição."

"Isso provavelmente é verdade, mas não necessariamente apazigua a preocupação pública", disse Axel Salheiser, diretor de pesquisa sobre o extremismo de direita no Instituto para a Democracia e a Sociedade Civil (IDZ). "É claro que os policiais, em geral, não devem ser colocados sob suspeita, mas há cada vez mais indicações concretas de que existem estruturas de extrema direita e policiais com simpatias de extrema direita."

Antigo chefe do BfV e a extrema direita

Tem havido um interesse particular na nova carreira política do antecessor de Haldenwang, Hans-Georg Maassen, que foi afastado do cargo por Seehofer em 2018.

Maassen tornou-se conhecido como um ultraconservador declarado na União Democrática Cristã (CDU) desde que seu mandato terminou, especialmente porque anunciou este ano que pretende concorrer como candidato da CDU para o Bundestag nas eleições gerais de setembro no estado da Turíngia.

Hans-Georg Maassen, ex- presidente do BfV, quer se candidatar ao Bundestag pela CDUFoto: Jens SchlueterAFP/Getty Images

Stephan Kramer, o chefe do órgão de proteção da Constituição na Turíngia, desencadeou um debate na semana passada quando disse ao jornal Tagesspiegel que Maassen costumava usar estereótipos antissemitas e temas de teoria da conspiração, comparando-o a Björn Höcke, o agora notório chefe do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) na Turíngia. Isso gerou raiva entre os apoiadores da CDU e da AfD, que exigiram a renúncia de Kramer por violar seu juramento de manter a neutralidade política.

"Nova Direita" da Alemanha

O debate sobre Maassen tornou-se particularmente interessante na terça-feira, já que o último relatório do BfV pela primeira vez incluiu a subcategoria "a nova direita" para designar redes, publicações e indivíduos que divulgam posições "antidemocráticas" na Alemanha por meio de diferentes meios de comunicação.

De acordo com o relatório, os protagonistas do movimento "Nova Direita" compartilham um objetivo comum – fomentar uma "revolução cultural pela direita" – que visa grupos muito diferentes. "As associações de extremistas de direita nem sempre são óbvias", disse o relatório. "Mas muitas vezes eles se dão a conhecer por meio de violações dos princípios da dignidade humana, do Estado de direito e da democracia em várias expressões."

Salheiser disse que a inclusão da nova categoria no relatório mostrou que o BfV se tornou mais sensível a esta área cinzenta no espectro da direita. "Esses eram pontos cegos para o BfV", disse ele à DW.

Na terça-feira, Seehofer e Haldenwang cuidadosamente se recusaram a dizer se o próprio Maassen poderia ser considerado parte da "Nova Direita" por esses critérios – embora Seehofer tenha dito que Maassen foi um "bom presidente" do BfV e que sempre apoiou a Constituição.

"Não é de se admirar que Seehofer tenha sido muito reservado em sua declaração sobre isso, porque é uma questão política", disse Salheiser à DW. "Está claro para mim que, apesar de suas declarações sobre a AfD, Maassen representa uma ideologia semelhante, e algumas de suas posições realmente refletem ideologias populistas de direita."

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