Há anos no comando da legenda populista de direita, Jörg Meuthen lamenta não ter conseguido conter as facções radicais. Ele questiona os princípios democráticos da agremiação, dizendo ver “ecos de totalitarismo”.
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O copresidente do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) Jörg Meuthen anunciou nesta sexta-feira (28/01) que, além de deixar a liderança, ele também sairá da legenda.
O político de 60 anos se disse insatisfeito com a ala mais à direita da AfD, e questionou a solidez dos princípios democráticos da agremiação. "O coração do partido bate muito mais à direita hoje em dia, permanentemente em nível elevado”, afirmou em entrevista à emissora pública ARD. "Vejo claramente ecos totalitários lá dentro.”
O ex-professor de economia, que já havia dito que deixaria a liderança da AfD, é visto como um moderado, em comparação às demais facções internas. Eleito como um dos líderes do partido em 2015, ele disse que pretende manter sua vaga no Parlamento Europeu, e que já está em conversação com outras legendas, sem, no entanto, revelar quais seriam.
Há tempos Meuthen se via na contramão em relação a grande parte das posições adotadas pela AfD. Nos últimos dois anos, insistiu diversas vezes que o partido deveria adotar uma postura menos radical. Dessa forma, passou a colecionar inimigos, especialmente no movimento de extrema direita encabeçado pelo líder da AfD na Turíngia, Björn Höcke.
"Seita" contra medidas antipandemia
Seu relacionamento com os líderes da bancada do partido no Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão), Alice Weidel e Tino Chrupalla, com quem dividia a liderança da legenda, também era bastante tenso, pois ambos vêm apoiando as facções mais radicais.
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Meuthen disse que consegue imaginar um futuro para a AfD somente como uma força política regional em seus redutos no Leste da Alemanha. Para ele, o partido se tornou uma espécie de "seita”, no tocante às políticas relacionadas à pandemia de covid-19.
A Alemanha atravessa uma onda de protestos, às vezes violentos, contra as políticas do governo de combater o coronavírus nos últimos 18 meses. Os manifestantes se caracterizam pela oposição à vacinação e pelo negacionismo da pandemia. Segundo as agências de inteligência do país, a extrema direita estaria por trás desse movimento.
A direção do partido reagiu com frieza à decisão de seu colíder. Em nota, o partido se limitou a agradecer Meuthen pelo "desenvolvimento da AfD como o único partido de oposição na Alemanha".
Alice Weidel, porém, adotou um tom mais crítico. Em entrevista aos jornais Stuttgarter Nachrichten e Stuttgarter Zeitung, ela acusou Meuthen de "jogar lama no partido que presidiu durante tanto tempo”. Isso, segundo a deputada, "não condiz com a qualidade de seu caráter”.
Para Weidel, a renúncia de Meuthen poderia estar ligada aos planos de remover sua imunidade como membro do Parlamento Europeu, em razão de um escândalo envolvendo doações ilegais para o partido.
Nesta quinta-feira, o Comitê de Assuntos Jurídicos do Europarlamento votou pela remoção da imunidade, o que reforça a possibilidade de promotores públicos de Berlim abrirem uma investigação sobre o caso.
Em 2021, a AfD teve de pagar 500 mil euros (em torno de 3 milhões de reais) em multas por ter aceitado doações de um bilionário suíço, três anos antes.
rc/av (AFP, DPA, Reuters)
Os principais partidos alemães
São eles: Partido Social-Democrata (SPD), União Democrata Cristã (CDU), União Social Cristã (CSU), Partido Liberal Democrático (FDP), Alternativa para a Alemanha (AfD), Aliança 90/Os Verdes e A Esquerda.
Foto: picture-alliance/dpa
União Democrata Cristã (CDU)
Fundada em 1945, a CDU se considera "popular de centro". Seus governos predominaram na política alemã do pós-guerra. O partido soma em sua história cinco chanceleres federais, entre eles Helmut Kohl, que governou por 16 anos e conduziu o país à reunificação em 1990, e Angela Merkel, a primeira mulher a assumir o cargo, em 2005.
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União Social Cristã (CSU)
Igualmente fundada em 1945, a CSU só existe na Baviera, onde a CDU não está organizada. Os dois partidos são considerados irmãos. A CSU tem como objetivo um Estado democrático e com responsabilidade social, fundamentado na visão cristã do mundo e da humanidade. Desde 1949, forma no Bundestag uma bancada única com a CDU.
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Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD)
Integrante da Internacional Socialista, o SPD é uma reconstituição da legenda homônima fundada em 1869 e identificada com o proletariado. Na Primeira Guerra, ele se dividiu em dois partidos, ambos proibidos em 1933 pelo regime nazista. Recriado após a Segunda Guerra, o SPD já elegeu quatro chanceleres federais: Willy Brandt, Helmut Schmidt, Gerhard Schröder e Olaf Scholz.
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Aliança 90 / Os Verdes (Partido Verde)
O partido Os Verdes surgiu em 1980, após três anos participando de eleições como chapa avulsa, defendendo questões ambientais e a paz. Em 1983, conseguiu formar uma bancada no Bundestag. Oito anos depois, o movimento Aliança 90 se fundiu com ele. Em 1998 participou com o SPD pela primeira vez do governo federal.
Foto: REUTERS/T. Schmuelgen
Partido Liberal Democrático (FDP)
O FDP foi criado em 1948, inspirado na tradição do liberalismo e valorizando a "filosofia da liberdade e o movimento pelos direitos individuais". Resgata a herança política de legendas liberais proibidas pelo nazismo.
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A Esquerda (Die Linke)
Die Linke surgiu da fusão, em 2007, de duas agremiações esquerdistas: o Partido do Socialismo Democrático (PDS), sucessor do Partido Socialista Unitário (SED) da extinta Alemanha Oriental, e o Alternativa Eleitoral por Trabalho e Justiça Social (WASG, criado em 2005, aglutinando dissidentes do SPD e sindicalistas).
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Alternativa para a Alemanha (AfD)
Fundada em 2013, e atualmente representada no Parlamento Europeu e em legislativos estaduais alemães, a AfD se alinha com outros partidos populistas de direita europeus, como FPÖ, FN ou Ukip. Só em 2016 ela definiu seu programa partidário, que oscila entre visões reacionárias, conservadoras, liberais e libertárias.
Foto: Reuters/W. Rattay
Os pequenos
Há numerosos partidos menores na Alemanha, como Os Republicanos (REP) e o Partido Nacional-Democrata da Alemanha (NPD), ambos de extrema direita, ou o Partido Marxista-Leninista (MLPD), de extrema esquerda. Outros defendem causas específicas, como o Partido dos Aposentados, o das mulheres, dos não eleitores, ou de proteção dos animais. E mesmo o Violeta, que reivindica uma política espiritualista.