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CriminalidadeAlemanha

Extremistas celebram assassinato de funcionário na Alemanha

21 de setembro de 2021

Atendente de posto de gasolina foi morto por cliente que se recusava a usar máscara. No Telegram, extremistas tentam justificar atitude do assassino. Autoridades temem radicalização de grupos negacionistas da pandemia.

Policial de uniforme está de costas. Ao fundo, uma loja de conveniência.
Jovem foi executado em um posto de gasolina após pedir que cliente usasse máscaraFoto: Christian Schulz/dpa/picture alliance

O assassinato de um caixa de um posto de gasolina por um homem que se recusava a usar máscara chocou a Alemanha quando veio a público na segunda-feira (20/09). Porém, em grupos privados de extremistas de direita, a morte do jovem de 20 anos que pediu que um cliente usasse o acessório foi motivo de ironia e chacota. Alguns até comemoraram e tentaram justificar o crime.

De acordo com reportagem do jornal alemão Tagesspiegel, no canal de bate-papo do ideólogo da conspiração extremista de direita Sven Liebich, comentários justificando a atitude do assassino são comuns. Para um usuário, o criminoso provavelmente só estava "de saco cheio". Outro afirma: "eu não me importo". Um outro usuário é ainda mais direto: "Não tenho pena. As pessoas sempre com a porcaria da máscara me irritam. Algum dia alguém perde a cabeça. Bom assim".

O crime ocorreu no sábado, na cidade de Idar-Oberstein, no estado alemão da Renânia-Palatinado. Segundo as autoridades, um homem de 49 anos atirou na cabeça do funcionário, depois de este ter feito um pedido para que aquele usasse máscara no estabelecimento. O homem confessou o crime e segue detido, mas a investigação continua.

Fim da "ditadura de Merkel"

As reações em defesa da atitude do criminoso podem ser vistas em grupos do serviço de mensagens Telegram, semelhante ao WhatsApp.

Segundo o jornal Tagesspiegel, em canais de ideólogos da conspiração, o crime é celebrado como autodefesa, um passo lógico, o início de uma luta contra o que chamam de "ditadura de Merkel" (em referência a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, defensora de medidas de restrição contra o coronavírus).

No canal "Free your mind", o clima é de exaltação: "aqui vamos nós", escreveu um usuário, de acordo com o Tagesspiegel. Em outros grupos, emojis de polegares para cima e corações são comuns quando se trata do tema.

Para muitos usuários desses grupos, o crime no posto de gasolina aconteceria mais cedo ou mais tarde. Para eles, os políticos que implementam regras "tiranas" contra o coronavírus são os culpados.

Outros usuários do Telegram comemoraram o fato de a vítima ser um estudante, relacionando sua ocupação com uma suposta vinculação com partidos de esquerda.

"Um carrapato a menos!", escreveu um usuário, usando um termo há muito empregado por nazistas para se referir a pessoas vinculadas à esquerda.

Teorias da conspiaração

O Telegram, por não ser público como as redes sociais, também é terreno fértil para delirantes teorias conspiratórias. Uma delas é a de que o assassinato em Idar-Oberstein teria sido uma armação do governo para "criar um clima hostil contra os não vacinados". Outros, pintam o crime como uma manobra dos governantes para influenciar as eleições federais, que ocorrem no próximo domingo.

O Telegram tem se tornando na Alemanha um campo onde extremistas de direita e conspiradores podem debater suas ideias sem serem censurados.

O centro de competência de proteção à juventude jugendschutz.net, estabelecido pelos governos federal e estaduais, descreveu o Telegram como uma "catapulta da conspiração" e uma "plataforma alternativa" para propaganda de extrema direita.

Isso ocorre porque, enquanto redes sociais como Facebook, Instagram e Twitter precisam cumprir certas regras, excluindo conteúdo criminoso e bloqueando contas, o Telegram e outros serviços de mensagens não estão incluídos na chamada Lei de fiscalização da rede.

Desta forma, o Telegram não precisa excluir ou bloquear o conteúdo ilegal no prazo de 24 horas após o recebimento de uma reclamação.

Uma das pessoas que se beneficiaram recentemente dessa regra foi o antissemita Attila Hildmann, que é procurado pela polícia e fugiu para Turquia. De lá, ele reagiu ao assassinato do jovem de 20 anos com risos.

Reações de políticos

Enquanto no universo particular dos grupos da extrema direita o crime é motivo de chacota, no mundo político o sentimento é de consternação e preocupação.

O secretário de Segurança de Berlim, Andreas Geisel, disse ao Tagesspiegel que trata-se de uma "nova dimensão de violência e ódio".

"Estou chocado com este ato terrível e também com os comentários sobre ele nos serviços de mensagens. Cada sílaba demonstra desprezo pelos seres humanos", declarou ao jornal o político, que é filiado ao Partido Social-Democrata (SPD, na sigla em alemão).

Sua colega, a ministra federal da Justiça, Christine Lambrecht, disse ser "ultrajante e nojento" que o "terrível derramamento de sangue de Idar-Oberstein" seja usado para incitar online "ainda mais ódio e ainda mais desprezo pelos seres humanos".

Temor de novos ataques

O temor é que o ato seja usado para incitar novos crimes. Especialistas alertam, há algum tempo, para uma radicalização ainda maior de membros do radical movimento Querdenken (pensamento lateral), que se opõe a medidas de isolamento e vacinas. Nos últimos meses, segundo o Tagesspiegel, houve vários ataques partindo de pessoas contrárias às medidas de restrição para conter o coronavírus. No entanto, esse teria sido o primeiro resultando em assassinato.

De acordo com o jornal, o presidente da Federação dos Investigadores Alemães (BDK, na sigla em alemão), Sebastian Fiedler, considera possível uma escalada da violência.

"Você tem que se perguntar se partes do movimento do Querdenken estão abraçando o terror", afirmou ao jornal. Para ele, o crime em Idar-Oberstein é "um claro sinal de alerta".

A candidata a chanceler federal pelo Partido Verde, Annalena Baerbock, se disse preocupada. "Todos nós somos desafiados a enfrentar o ódio crescente", escreveu no Twitter.

Para o secretário-geral da CDU, Paul Ziemiak, há a preocupação com a escalada do terror por parte da extrema direita.

"Um jovem é executado por pedir o uso da máscara", escreveu Ziemiak no Twitter, destacando um "grau inacreditável de radicalização".

le (ots)

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