Extremistas de direita desinformam sobre ataque nas redes
21 de dezembro de 2024
Perfis exploram crime de Magdeburg para incitar islamofobia e ódio contra refugiados; vídeos tirados do contexto e informações erradas foram amplamente compartilhados na noite da tragédia.
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Assim que a notícia sobre o atentado ao mercado de Natal em Magbeburg veio a público, na noite desta sexta-feira (20/12), postagens de ódio, desinformação e vídeos descontextualizados se alastraram nas redes sociais.
Vários perfis, incluindo de políticos do partido de ultradireita Alternativa para Alemanha (AfD) e do tabloide Bild, passaram a difundir a falsa alegação de que o ataque havia deixado 11 mortos – no momento do atropelamento, duas pessoas morreram, mas o número de vítimas passou para cinco na manhã de sábado, além de mais de 200 feridos. O jornal corrigiu a informação.
Antes que se soubesse qualquer detalhe sobre o perfil peculiar do homem detido – um psiquiatra saudita refugiado na Alemanha que se identifica com a ultradireita, defende ideais anti-imigração e se diz fã de Elon Musk e apoiador da AfD – grande parte do fluxo de publicações sobre o tema no X sugeriam que o crime tinha motivação islâmica.
O próprio Musk, dono da rede social, compartilhou conteúdo que insinuava uma motivação religiosa do crime. No mesmo dia, mais cedo, ele havia postado que "só a AfD pode salvar a Alemanha".
Muitos perfis compartilharam, logo após o atentado, conteúdos afirmando que o suspeito seria sírio e teria chegado à Alemanha na esteira da crise de refugiados do país em 2015 e 2016. Brotaram então publicações críticas à política de acolhimento a refugiados da então chanceler federal Angela Merkel.
A Ministra alemã do Interior, Nancy Faeser, afirmou neste sábado que "tudo o que podemos dizer neste momento é que o perpetrador era islamofóbico".
Horas antes do ataque, o próprio suspeito, muito ativo nas redes sociais, postou no X um vídeo conspiratório em que fala de um suposto pendrive roubado e lamenta, implicitamente, o fato de não ser permitido o porte de armas na Alemanha.
O alegado perfil do homem no X tem mais de 45 mil seguidores. A imagem de uma metralhadora pode ser vista acima de sua foto. E a descrição da conta afirma que a Alemanha persegue os requerentes de asilo sauditas para "destruir as suas vidas" e " islamizar a Europa".
Desinformação e vídeos fora de contexto
Entre as mentiras espalhadas nas redes, está a de que o suspeito faria parte de um esquadrão terrorista, e que na mesma hora do atropelamento em massa teria havido também um tiroteio em centro comercial ao lado, como observou o jornal Tagesspiegel. Até o momento, as investigações apontam que o suspeito agiu sozinho.
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Outra publicação menciona uma bomba embaixo do veículo do crime, que "felizmente" foi desativada a tempo, e fala ainda de outros suspeitos foragidos, o que não procede.
Contas de extremistas de direita também reenviaram vídeos antigos como se estivessem no contexto do ataque desta sexta – entre eles, o de imigrantes comemorando a queda do ditador sírio Bashar al-Assad, dando a entender que estavam em vez disso festejando o ataque em Magdeburg, segundo informou o Tageschau, portal de notícias de uma das principais emissoras alemãs de TV.
Uma análise das postagens feitas na conta do X atribuída ao suspeito mostra que o tom de radicalização contra o islã e autoridades alemãs aumentou. "Merkel teria de passar o resto da vida na prisão como punição pelo seu projeto criminoso secreto de islamizar a Europa", dizia uma das publicações.
Diversas pessoas teriam procurado as autoridades alemãs para alertar sobre o conteúdo das postagens do suspeito, que até então não estava no radar das forças de segurança como islamista ou potencial ameaça à segurança pública.
A Arábia Saudita também teria alertado as autoridades alemãs sobre o suspeito e pedido a sua deportação, segundo as agências de notícias Reuters e dpa.
Uma suposta citação do presidente federal alemão Frank-Walter Steinmeier também se espalhou nas redes sociais. A postagem falsa atribuia falsamente ao político a frase: "Fronteiras abertas contribuem para a segurança".
Em sua conta no X, Steinmeier comentou: "A pessoa que cometeu o crime em Magdeburg era um extremista de direita. Isso mostra um duplo fracasso da sociedade: Não fomos capazes de dar as boas-vindas a essa pessoa na Alemanha e convencê-la dos valores democráticos. A luta contra a direita deve continuar."
sf/ra (Reuters, dpa, ots)
Atentado em mercado de Natal abala cidade na Alemanha
Um motorista avançou em alta velocidade contra um mercado de Natal na cidade de Magdeburg, no estado da Saxônia-Anhalt, leste do país, deixando vários mortos e feridos.
Foto: Heiko Rebsch/dpa/picture alliance
Cenário do crime
Foto feita três dias antes do atentado mostra o mercado de Natal no centro de Magdeburg. Suspeito invadiu área com o carro e acelerou contra a multidão que frequentava o evento.
Foto: Dirk Sattler/IMAGO
Ação durou três minutos, segundo autoridades locais
O suspeito atropelou várias pessoas, avançando por mais de 400 metros antes de ser preso por policiais. Socorristas e forças de segurança acudiram em grande número ao local.
Foto: Heiko Rebsch/dpa/picture alliance
Suspeito preso usou carro alugado com placa de Munique
Vídeos mostram como vários policiais cercaram carro em uma parada de bonde nas proximidades do mercado de Natal. Sob a mira de armas, o suspeito – um médico psiquiatra saudita de 50 anos de idade – se rendeu e deitou no chão ao lado do veículo, um BMW X5 preto tipo SUV, alugado e com placa de Munique.
Foto: Axel Schmidt/REUTERS
Mercado de Natal foi fechado
O mercado de Natal foi fechado e o centro da cidade, esvaziado. Mais de 500 socorristas foram acionados para dar conta das vítimas, informaram as autoridades.
Menos de 24 horas depois, autoridades contabilizavam cinco mortos – uma criança de 9 anos e quatro adultos – e mais de 200 feridos, sendo mais de 40 deles em estado grave. Dada a gravidade do estado de saúde de alguns dos feridos, é possível que o número de mortos continue a subir.
Foto: Heiko Rebsch/dpa/picture alliance
Motivação do crime ainda não está clara
Segundo Horst Nopens, promotor responsável pelo caso, a polícia trabalha com a tese inicial de que o crime foi motivado pela insatisfação do suspeito com o tratamento dado pela Alemanha a refugiados sauditas. Nas redes, ele publicava mensagens de tom islamofóbico e anti-imigração, além de sinalizar simpatia pela sigla de ultradireita AfD.
No passado, em entrevistas à imprensa, o suspeito acusou a Alemanha de promover uma "operação secreta" para "perseguir" ex-muçulmanos sauditas e "destruir suas vidas" enquanto dava asilo a sírios jihadistas. Ele também criticava a ex-chanceler alemã Angela Merkel, acusando-a de tentar "islamizar a Europa" – uma tese frequentemente defendida por radicais de ultradireita.
Foto: dts Nachrichtenagentur/IMAGO
Mercados de Natal visados para ataques
A segurança dos tradicionais mercados de Natal tem sido um tema importante desde 2016, quando um extremista islâmico tunisiano atacou um mercado de Natal em Berlim a bordo de um caminhão, deixando 13 mortos e dezenas de feridos. Desde então, muitas dessas feiras contam com barreiras de proteção para evitar tragédias semelhantes.
Foto: Heiko Rebsch/dpa/picture alliance
Houve falha na segurança?
No caso de Magdeburg, porém, a rota usada pelo agressor não estava protegida por barreira, segundo um funcionário do município. A rota havia sido projetada para permitir que serviços de resgate chegassem à praça em caso de emergência. No entanto, as forças policiais estavam posicionadas e a entrada não foi deixada desprotegida, defendeu.
Foto: Ebrahim Noroozi/AP Photo/picture alliance
Reações
Acompanhado da ministra do Interior e comitiva do governo, o chanceler federal Olaf Scholz visitou o local do ataque, expressou suas condolências e prometeu apoio federal às investigações.
Foto: Ebrahim Noroozi/AP Photo/picture alliance
Luto
Moradores de Magdeburg trouxeram flores e acenderam vela em memorial improvisado em homenagem às vítimas e suas famílias e entes queridos.
Foto: Christian Mang/REUTERS
Homenagem às vítimas
Na noite do dia seguinte ao ataque, centenas se reuniram em cerimônia na catedral da cidade. O evento foi transmitido por TVs em toda a Alemanha. A prefeita pediu à população que siga unida, apesar do choque. Já o bispo Gerhard Feige frisou que os presentes estavam lá para oferecer apoio uns aos outros, e exortou o público a não "deixar que o ódio e a violência tenham a última palavra".
Foto: Ebrahim Noroozi/AP/picture alliance
Extremistas protestam
A 800 metros dali, manifestantes entoaram slogans extremistas. Houve episódios de hostilidade contra a imprensa, pedidos de "remigração" – eufemismo da extrema direita para a deportação de estrangeiros – e gritos como "nós somos o povo" – slogan nacionalista – e "não queremos abrigos para asilados". ONG diz ter registrado aumento visível de ataques na cidade a pessoas com "aparência estrangeira".