Quase 30 anos após a morte do pintor espanhol, especialistas encontram restos mortais em bom estado de conservação. Amostras extraídas serão usadas num exame de paternidade.
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Os restos mortais do pintor surrealista Salvador Dalí, que haviam sido embalsamados, estão bem conservados, afirmaram nesta sexta-feira (21/07) especialistas que participaram da exumação em Figueres, na Espanha.
Segundo eles, o famoso bigode do artista estava intacto, mesmo 28 anos depois da morte. "O bigode estava na posição clássica, marcando dez horas e dez minutos", disse o secretário-geral da Fundação Gala-Dalí, Luis Peñuelas Reixach, durante entrevista no Teatro-Museo Dalí, em Figueres, Girona.
O jornal El País afirmou que os resultados dos exames de DNA deverão ser anunciados no início de setembro, pouco antes da audiência em tribunal sobre a questão da paternidade, marcada para 18 de setembro.
O corpo do pintor, falecido em 23 de janeiro de 1989, aos 84 anos, está sepultado no Teatro-Museo Dalí, em Figueres, na região de Girona, e foi exumado por decisão do Tribunal Superior de Justiça da Catalunha.
A decisão foi anunciada em 20 de junho, para obtenção de amostras do corpo do artista, no sentido de realizar um exame de determinação da paternidade de Pilar Abel, que alega ser sua filha. Abel submeteu-se ao exame de DNA em 11 de julho, em Madri.
Segundo a Fundação Gala-Dalí, se os exames de DNA confirmarem a paternidade, Abel poderá reclamar 25% do patrimônio detido pelo artista no momento da morte. O prejudicado seria o Estado espanhol, herdeiro universal designado por Dalí.
Abel, nascida em Figueres em 1956, alega ser fruto de uma relação de Dalí com a mãe dela, que ele teria conhecido em Cadaqués, Girona, quando esta trabalhava como empregada de uma família que passava temporadas naquele povoado. Se a paternidade for confirmada, ela será a única filha conhecida do artista catalão.
AS/lusa/dpa
Joan Miró: pintura como poesia
Os quadros do catalão circularam o mundo em forma de postais, calendários, pôsteres. Mas poucos conhecem a influência da literatura sobre a obra do artista, que é tema de uma exposição em Düsseldorf, na Alemanha.
Foto: Successió Miró / VG Bild-Kunst, Bonn 2015
Paixão pela literatura
Como um mágico, Joan Miró abre enigmas com seus quadros. Nascido em 1893 na Catalunha, ele é conhecido por sua arte viva e rica em fanstasia. Muitas vezes, ele foi além, e uniu suas pinturas à poesia. A exposição "Miró. Pintura como Poesia", em cartaz em Düsseldorf, revela esse lado do artista.
Foto: Successió Miró / VG Bild-Kunst, Bonn 2015
Miró e a poesia
Joan Miró Punyet, neto de Miró, viajou de Mallorca, onde dirige a Fundação Miró, até Düsseldorf para inaugurar a exposição. Ele conta que seu avô sempre lia um poema antes de pintar, "para colocar sua criatividade em funcionamento".
Foto: DW/S. Oelze
Universo literário
As cortinas de sua biblioteca, preenchida de livros até o teto, não podiam ser abertas para a luz não danificar os livros. De 1917 a 1923, os volumes serviriam de motivo para as pinturas de Miró. Neste quadro, ele representou "Le Coq et l'Arlequin", uma obra do escritor e cineasta Jean Cocteau. Muitos surrealistas conheceram seu avô pessoalmente, conta Joan Punyet.
Foto: Successió Miró / VG Bild-Kunst, Bonn 2015
Encontros na rua Blomet
Miró mudou-se para Paris em 1920 e viveu nove anos na lendária rua Blomet, um epicentro dos movimentos de vanguarda. Lá conheceu André Masson, seu vizinho, e outros surrealistas e suas obras, como André Breton, Michel Leiris e Alfred Jarry. Algumas amizades duraram anos. Com Paul Eluard, Miró publicou e ilustrou um livro de arte em 1958.
Foto: Successió Miró/VG Bild-Kunst 2015
Influência surrealista
Até 1920, Paul Cézanne, os "fauvistas" e os cubistas foram as principais influências para Miró. A composição rigorosa de suas pinturas se vê na disposição das letras. Ele copiava versos inteiros dos poemas de seus autores favoritos ou citava a revista de vanguarda "Nord-Sud". Apesar disso, Miró evitou os ditames da escrita automática dos surrealistas.
Foto: DW/S. Oelze
Imagens do inconsciente
Joan Miró pintava o dia inteiro. Seu neto Joan Miró Punyet conta que até o sono era parte do processo de trabalho do avô. As imagens que apareciam nos sonhos eram fonte de inspiração. Além de pinturas e esculturas, ele também escrevia os próprios poemas e inseria os versos na composição dos quadros.
Foto: DW/S. Oelze
Liberdade nas composições
Depois de superar as fases realista e cubista, Miró passou a criar composições modernas, com justaposições desordenadas de camadas de cores e de objetos estilizados. Uma liberdade de criação que teria forte impacto sobre pintores americanos, como Mark Rothko e Jackson Pollock, ou mesmo sobre seu conterrâneo catalão Antoni Tàpies.
Foto: Successió Miró / VG Bild-Kunst, Bonn 2015
São Franciso de Assis
A linguagem de Miró sofreu uma mudança significativa em sua fase tardia. Traços cósmicos revelam o amor pela natureza. A lua, as estrelas e o sol eram motivos recorrentes, assim como traços e formas que lembram símbolos japoneses. Em 1975, Miró ilustrou o "Cántico del sol", uma oração de São Francisco de Assis de 1225. Para o artista, tratava-se de um símbolo da união entre homem e natureza.
Foto: DW/S. Oelze
Espírito da resistência
Miró não dedicou sua vida apenas aos valores da estética. Mesmo antes do regime de Franco, que durou de 1939 a 1975, o artista protestava contra a ditadura. Em 1937, Miró criou obras de resistência junto com Pablo Picasso, seu grande mentor. Palma de Mallorca, onde se encontra hoje a Fundação Miró, viria a ser o refúgio intelectual e político do artista catalão.
Foto: picture-alliance/akg-images/Paul Almasy
Arte enigmática
Por muito tempo, a ligação de Miró com a poesia permaneceu despercebida. Se não inseria letras em seus poemas visuais, lançava mão de seu próprio vocabulário cheio de enigmas: estrelas, escadas para o céu, olhos, cobras. Também a impressão da palma da mão do artista integra suas pinturas. As obras de Miró podem ser vistas até 27 de setembro na Kunstsammlung Nordrhein-Westfalen, em Düsseldorf.