Fabricante alemã de biscoitos empregou trabalhos forçados
15 de agosto de 2024A fabricante alemã de biscoitos Bahlsen pediu desculpas após um estudo revelar que ela explorou muito mais trabalhadores forçados durante o regime nazista (1933-1945)do que o que se sabia até então.
Em declaração conjunta divulgada na terça-feira (13/08), os herdeiros da empresa disseram que os antepassados da família "tiraram proveito do período nazista” e chamaram o comportamento de "imperdoável”.
A pesquisa foi encomendada em 2019 pela própria empresa após a herdeira Verena Bahlsen, na época com 26 anos, afirmar que a fabricante "tratou bem" e pagou os trabalhadores forçados "assim como os alemães” durante a Segunda Guerra Mundial.
Fundada pelo bisavô de Verena Bahlsen no fim do século 19, a empresa de biscoitos já era acusada de ter forçado pessoas a trabalharem contra sua vontade em sua fábrica localizada em Hannover entre 1943 e 1945. A maioria das vítimas eram mulheres nascidas no Leste Europeu.
Mas o estudo conduzido por dois historiadores identificou mais de 800 trabalhadores forçados, muitos da Polônia e da Ucrânia. O número é muito maior do que os 200 a 250 que se estimava anteriormente. As novas descobertas ainda sugerem que a mão de obra forçada foi usada num período mais longo do que se acreditava, entre 1940 e 1945.
Em nota, a família ainda chamou as descobertas de "desconfortáveis e dolorosas” e lamentou que a Bahlsen "não tenha confrontado essa difícil verdade antes”: "Nós, enquanto família, não nos perguntamos como nossa empresa conseguiu atravessar a Segunda Guerra Mundial.”
Verena Bahlsen, que deixou a empresa em 2021, também se desculpou pelo que denominou "comentários impensados” feitos em 2019. À época, ela já havia alegado que não queria minimizar o nazismo e suas consequências.
Histórico controverso
Durante a Segunda Guerra, a empresa conhecida hoje por produzir o biscoito Choco Leibniz produzia alimentos para os soldados alemães. Em 2019 a revista alemã Der Spiegel identificou que os três irmãos Bahlsen que estavam no comando da empresa durante o regime de Adolf Hitler – Hans, Klaus e Werner – foram membros do partido nazista e apoiadores da força paramilitar Schutzstaffel (SS).
Em 2000, 60 vítimas chegaram a entrar com uma ação coletiva contra a fabricante por trabalho forçado, mas o caso foi considerado prescrito pela Justiça alemã.Então a Bahlsen se uniu a uma iniciativa para compensar as cerca de 13 milhões de vítimas de trabalhos forçados durante o nazismo, colaborando com 1,5 milhão de marcos alemães (o equivalente a 767 milhões de euros ou R$ 4,6 milhões).
"Isso não é, de forma alguma, adequado ao sofrimento dessas pessoas. Agora é tarde demais. A Alemanha fracassou nesse ponto", comentou o historiador Hartmut Berghoff, um dos coautores do estudo.
Outras empresas alemãs como a Continental,Deutsche Bank, Siemens e Volkswagen também já foram acusadas de colaborar com o nazismo e empregar mão de obra forçada.
gq/ra/av (AFP, Reuters, ots)