Facebook remove contas falsas ligadas à família Bolsonaro
9 de julho de 2020
Empresa diz que perfis no Facebook e Instagram foram associados a membros dos gabinetes do presidente e de seus filhos. Contas violavam políticas da plataforma, e algumas promoviam discurso de ódio e ataques políticos.
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O Facebook informou nesta quarta-feira (08/07) que removeu dezenas de páginas e contas falsas ligadas a funcionários dos gabinetes da família do presidente Jair Bolsonaro. Segundo a empresa, esses perfis estavam envolvidos em "comportamento inautêntico coordenado no Brasil".
Ao todo, foram removidas 35 contas do Facebook, 14 páginas e um grupo, além de 38 contas do Instagram, afirmou a rede social em comunicado em seu site.
"Essa rede consistia em vários grupos com atividades conectadas que usavam uma combinação de contas duplicadas e contas falsas – algumas das quais foram detectadas e desativadas por nossos sistemas automatizados – para evitar a aplicação [de políticas da plataforma]", diz a nota.
Segundo o Facebook, essas páginas criavam pessoas fictícias que fingiam ser jornalistas, publicavam conteúdo e gerenciavam páginas disfarçadas de veículos de notícias.
As postagens consistiam em notícias sobre política e eleições, por exemplo, memes políticos e críticas à oposição, à imprensa e a jornalistas. Mais recentemente, elas passaram a abordar também a pandemia de coronavírus.
"Parte do conteúdo postado por essa rede já havia sido retirado por violações dos Padrões da Comunidade, incluindo discurso de ódio", afirma a nota.
A empresa disse que, embora as pessoas por trás dessas páginas tentassem ocultar suas identidades, uma investigação feita pela companhia encontrou ligações com pessoas associadas ao PSL, antigo partido de Bolsonaro, e funcionários dos gabinetes do presidente e de dois de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Também foram encontradas ligações com integrantes dos gabinetes de Anderson Moraes e Alana Passos, ambos deputados estaduais pelo PSL no Rio de Janeiro.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, as páginas e contas removidas traziam, inclusive, conteúdo de ataques a adversários políticos proferidos pelo assessor especial da Presidência da República, Tércio Arnaud Thomaz – ele faz parte do chamado "gabinete do ódio", máquina de propagação de boatos e ataques tutelada pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente.
A rede social informou que cerca de 883 mil usuários seguiam uma ou mais dessas páginas no Facebook, e aproximadamente 917 mil pessoas seguiam uma ou mais das contas excluídas do Instagram. Já o único grupo removido reunia cerca de 350 pessoas. Além disso, essas páginas gastaram 1,5 mil dólares em anúncios, pagos em real.
As páginas atingidas não foram especificadas, mas a empresa publicou imagens que exemplificam alguns dos conteúdos divulgados, e nelas é possível ver as páginas "Jogo Político" e "Bolsonaro News" no Facebook, e o perfil @gato_fingido no Instagram.
O Facebook explicou que as atividades foram identificadas como parte de uma investigação interna da empresa sobre suspeitas de comportamento inautêntico coordenado no Brasil, relatado pela imprensa e citado durante audiências no Congresso brasileiro.
A apuração do Facebook não se restringe ao país. Nesta quarta-feira, a empresa informou que removeu ao todo quatro redes diferentes por violações das políticas da plataforma. Essas redes tiveram origem no Canadá, Equador, Ucrânia e Estados Unidos, além do Brasil.
Vírus verbal: frases de Bolsonaro sobre a pandemia
"E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas": desde que o coronavírus chegou ao Brasil, presidente tratou publicamente com desdenho a crise. Enquanto a epidemia avança, suas falas causam ultraje.
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance
"Superdimensionado"
Em 9 de março, em evento durante visita aos EUA, Bolsonaro disse que o "poder destruidor" do coronavírus estava sendo "superdimensionado". Até então, a epidemia havia matado mais de 3 mil pessoas no mundo. Após o retorno ao Brasil, mais de 20 membros de sua comitiva testaram positivo para covid-19.
Foto: Reuters/T. Brenner
"Europa vai ser mais atingida que nós"
A declaração foi dada em 15 de março. Precisamente, ele afirmou: "A população da Europa é mais velha do que a nossa. Então mais gente vai ser atingida pelo vírus do que nós." Segundo a OMS, grupos de risco, como idosos, têm a mesma chance de contrair a doença que jovens. A diferença está na gravidade dos sintomas. O Brasil é hoje o segundo país mais atingido pela pandemia.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/GDA/O Globo
"Gripezinha" e "histórico de atleta"
Ao menos duas vezes, Bolsonaro se referiu à covid-19 como "gripezinha". Na primeira, em 24 de março, em pronunciamento em rede nacional, ele afirmou, que, por ter "histórico de atleta", "nada sentiria" se contraísse o novo coronavírus ou teria no máximo uma “gripezinha ou resfriadinho”. Dias depois, disse: "Para 90% da população, é gripezinha ou nada."
Foto: Youtube/TV BrasilGov
"Todos nós vamos morrer um dia"
Após visitar o comércio em Brasília, contrariando recomendações deu seu próprio Ministério da Saúde e da OMS, Bolsonaro disse, em 29 de março, que era necessário enfrentar o vírus "como homem". "O emprego é essencial, essa é a realidade. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós vamos morrer um dia."
Foto: Reuters/A. Machado
"A hidroxicloroquina tá dando certo"
Repetidamente, Bolsonaro defendeu a cloroquina para o tratamento de covid-19. Em 26 de março, quando disse que o medicamento para malária "está dando certo", já não havia qualquer embasamento científico para defender a substância. Em junho, a OMS interrompeu testes com a hidroxicloroquina, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/F. Taxeira
"Vírus está indo embora"
Em 10 de abril, o Brasil ultrapassou a marca de mil mortos por coronavírus. No mundo, já eram 100 mil óbitos. Dois dias depois, Bolsonaro afirmou que "parece que está começando a ir embora essa questão do vírus". O Brasil se tornaria, meses depois, um epicentro global da pandemia, com dezenas de milhares de mortos.
Foto: Reuters/A. Machado
"Eu não sou coveiro"
Assim o presidente reagiu, em frente ao Planalto, quando um jornalista formulava uma pergunta sobre os números da covid-19 no Brasil, que já registrava mais de 2 mil mortes e 40 mil casos. “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?”, afirmou Bolsonaro em 20 de abril.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Borges
"E daí?"
Foi uma das declarações do presidente que mais causaram ultraje. Com mais de 5 mil mortes, o Brasil havia acabado de passar a China em número de óbitos. Era 28 de abril, e o presidente estava sendo novamente indagado sobre os números do vírus. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre...”
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Vou fazer um churrasco"
Em 7 de maio, o Brasil já contava mais de 140 mil infectados e 9 mil mortes. Metrópoles como Rio e São Paulo estavam em quarentena. O presidente, então, anunciou que faria uma festinha. "Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha...". Dias depois, voltou atrás, dizendo que a notícia era "fake".
Foto: Reuters/A. Machado
"Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em julho, o presidente anunciou que estava com covid-19. Disse que estava "curado" 19 dias depois. Fora do isolamento, passou a viajar. Ao longo da pandemia, ele já havia visitado o comércio e participado de atos pró-governo. Em Bagé (RS), em 31 de julho, sugeriu que a disseminação do vírus é inevitável. "Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!”
Foto: Reuters/A. Machado
"País de maricas"
Em 10 de novembro, ao celebrar como vitória política a suspensão dos estudos, pelo Instituto Butantan, da vacina do laboratório chinês Sinovac após a morte de um voluntário da vacina, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria "deixar de ser um país de maricas" por causa da pandemia. "Mais uma que Bolsonaro ganha", comentou.
Foto: Andre Borges/NurPhoto/picture alliance
"Chega de frescura, de mimimi"
Em 4 de março de 2021, após o país registrar um novo recorde na contagem diária de mortes diárias por covid-19, Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia, e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.