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FairPhone: celular produzido e comercializado de forma justa

27 de janeiro de 2013

Fabricantes de telefones têm lucros bilionários, mas pouco é repassado aos trabalhadores que os produzem. Projeto de smartphone que usa matérias-primas sustentáveis e mão de obra digna pretende revolucionar setor.

Foto: FairPhone

O que a guerra civil no Congo tem a ver com telefones celulares? "Muito", dizem as mentes por trás do chamado "FairPhone". Na Holanda, cientistas trabalham no desenvolvimento de um smartphone que se destaca não somente por inovações tecnológicas, mas também pelo processo de produção e pelos materiais utilizados. Sustentabilidade, condições de trabalho dignas na extração das matérias-primas e na fabricação e preservação do meio ambiente estão em primeiro plano para os realizadores do projeto.

Para a produção de um smartphone, é necessária uma variedade dos chamados metais de terras raras e de outras matérias-primas, muitas vezes denominados "metais de zonas de conflito". Como o nome sugere, eles são provenientes de regiões onde reina a guerra civil e violações dos direitos humanos são comuns.

Muitos desses metais vêm da República Democrática do Congo, país rico em recursos minerais, onde esses metais são explorados em condições perigosas, muitas vezes por crianças. Os lucros obtidos com a venda são frequentemente utilizados por bandos armados para aumentar seus arsenais.

O maior fornecedor mundial dos metais de terras raras, no entanto, é a China. Como a extração é realizada por meio de uma solução ácida, com a qual os metais são lavados e retirados dos poços de perfuração, uma lama envenenada resulta como subproduto. Na China, regiões inteiras foram devastadas e vilarejos contaminados pelo processo.

Fabricantes negam responsabilidade

Devido ao grande número de intermediários, para os fabricantes de celulares é difícil constatar de onde vêm as matérias-primas usadas em seus aparelhos. Mas para Johanna Kusch, da Germanwatch, ONG que se ocupa intensamente do tema responsabilidade empresarial no setor de telefonia móvel, os fabricantes poderiam fazer muito mais.

Crianças trabalham em mina no CongoFoto: AFP/Getty Images

"O argumento de que as empresas não teriam nenhuma possibilidade de rastrear de onde provêm as diferentes matérias-primeiras não é plausível. Diversos estudos mostraram que é possível refazer o caminho percorrido pelas matérias-primas desde as minas", afirma Kusch.

Segundo a Germanwatch, os fabricantes deveriam agir de forma muito mais incisiva. É justamente nesse ponto que o empresário holandês Bas van Abel entra em ação. O FairPhone em processo de desenvolvimento por ele e sua equipe é um smartphone baseado no comércio justo de matérias-primas e nas boas condições de trabalho em todas as etapas de produção.

Os primeiros aparelhos devem chegar ao mercado no segundo semestre deste ano. "O FairPhone deve proporcionar aos clientes uma alternativa, criar impulsos e inspirar todo o setor", diz Van Abel. Para ele, está claro que seu projeto é somente uma gota no oceano. Mas uma crescente demanda por esses aparelhos poderia pressionar os líderes de mercado do setor.

Primeiras encomendas

Até agora, somente a empresa holandesa de telefonia KPN confirmou a compra de alguns milhares de aparelhos smartphones comercializados de forma justa. Desbloqueados, eles deverão custar de 250 a 300 euros. Devido a demandas dos próprios clientes, um gigante da telefonia móvel alemã também entrou em contato com Van Abel para iniciar conversações.

Para Kusch, da Germanwatch, empresas poderiam fazer maisFoto: Germanwatch

Embora sejam cada vez mais frequentes os relatos sobre as más condições de trabalho nas fábricas chinesas – nas quais a Apple, por exemplo, fabrica seus aparelhos iPhones – o fabricante da FairPhone também aposta na China como polo de produção. "Para melhorar o sistema, é preciso enfrentar os problemas in loco e melhorar as condições gradualmente", diz Van Abel. Os desenvolvedores do FairPhone pretendem escolher cuidadosamente suas fábricas e usar sua influência como cliente.

Pequeno passo, grande efeito

Para Kusch, trata-se de uma boa abordagem. Como os custos de mão de obra na produção de celulares são insignificantes, a representante da Germanwatch diz ver amplas possibilidades de melhora: se a parcela dos custos salariais na produção de um telefone celular subir de 1% para 2%, um trabalhador chinês poderia ganhar 50% a mais, afirma.

Fábrica da Foxconn produz iPhone, da Apple, na ChinaFoto: dapd

No entanto, o FairPhone não deverá ser um aparelho comercializado de forma totalmente justa. "Há simplesmente um número demasiadamente alto de locais e pessoas envolvidos no processo de produção", admite Van Abel. Por isso, sua pretensão é produzir o telefone celular mais justo disponível no mercado.

Autor: Marcus Lütticke (ca)
Revisão: Luisa Frey

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