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Fala de Vélez em defesa de 64 agrava crise no MEC

4 de abril de 2019

Ao prometer visão positiva da ditadura em livros didáticos, ministro da Educação irrita até militares, vê pressão contra sua permanência no cargo aumentar e tem mais dois indicados por ele exonerados.

O ministro da Educação, Ricardo Vélez
O ministro Ricardo Vélez é pivô de uma disputa no governo entre militares e seguidores de Olavo de CarvalhoFoto: Marcelo Cassal Jr. /Abr

A fala do ministro da Educação em defesa do golpe militar de 1964 acirrou ainda mais a crise que paralisa a pasta e que opõe olavistas e militares no centro do governo de Jair Bolsonaro. O caso pode significar a gota d'água para a demissão de Ricardo Vélez, afirma a imprensa brasileira.

Em entrevista ao jornal Valor Econômico na quarta-feira (03/04), o ministro ecoou declarações do próprio presidente de que não houve golpe de Estado há 55 anos e afirmou que a ditadura que se seguiu à tomada do poder pelos militares foi um "regime democrático de força".

Vélez disse ainda que, para que as crianças possam ter uma "ideia verídica do que foi a sua história", seu ministério realizará "mudanças progressivas" nos livros didáticos para alterar a maneira como o golpe e ditadura militar são retratados nas escolas brasileiras.

O jornal Folha de S. Paulo publicou que, "numa ironia", as declarações do ministro irritaram a cúpula militar brasileira, que já pede a saída dele do cargo. "Eles farão chegar ao presidente Jair Bolsonaro que a paciência com o ministro acabou", diz o diário.

Segundo a reportagem, na visão de integrantes da ativa e do núcleo militar do governo Bolsonaro, a fala de Vélez é apenas uma tentativa do ministro de se manter no cargo.

O colunista do jornal O Globo Bernardo Mello Franco também diz que as afirmações do ministro não passam de uma "tentativa desesperada de bajular os generais do governo, que já pediram sua cabeça ao presidente Jair Bolsonaro".

"Depois dessa entrevista, Vélez não poderá reclamar se for chamado de 'lambe-botas'. É isso o que ele está fazendo em busca de apoio para continuar no MEC", escreve Mello Franco.

Se a tentativa era se segurar no posto, ela parece ter saído pela culatra. A principal evidência do enfraquecimento do ministro está na onda de demissões no alto escalão da pasta, que fez novas vítimas nesta quinta-feira com o afastamento de dois de seus indicados.

A Casa Civil divulgou a exoneração do assessor especial de Vélez, Bruno Meirelles Garschagen, e da chefe de gabinete, Josie de Jesus. As demissões foram assinadas pelo chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Garschagen era um dos principais assessores de Vélez, responsável pela comunicação e contato com a imprensa. Jornalista e ligado a Olavo de Carvalho, espécie de guru do bolsonarismo, ele é autor do livro Pare de acreditar no governo, de 2015.

Segundo o jornal Estado de S. Paulo, Garschagen teria participado da decisão de pedir às escolas brasileiras que filmassem seus alunos cantando o Hino Nacional e lendo uma carta escrita pelo ministro, que terminava com o slogan da campanha de Bolsonaro, "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos". O ex-assessor nega participação.

O governo ainda não anunciou quem substituirá Garschagen na pasta. Para o cargo de chefe de gabinete, ocupando o lugar de Josie de Jesus, a Casa Civil nomeou o coronel da reserva da Polícia Militar Marcos de Araújo.

Desde que Vélez assumiu o MEC em 1º de janeiro, pelo menos 14 funcionários já foram dispensados de importantes cargos na pasta, em meio a uma queda de braço entre militares e seguidores do autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho para ver quem toma as rédeas do ministério.

Enquanto isso, questões centrais de um dos setores com necessidades mais urgentes do Brasil deixam de ser discutidas. Uma verdadeira paralisia toma conta do MEC e já vem tendo impactos em diferentes áreas da educação.

A nomeação de Marcos de Araújo para a chefia de gabinete representa mais uma vitória para os militares nesse embate. Na semana passada, o tenente-brigadeiro Ricardo Machado Vieira havia sido nomeado secretário-executivo, o "número dois" da pasta.

O grupo vinculado às Forças Armadas entende que Vélez está refém do campo ideológico, o que impede o avanço de projetos desenhados antes de sua nomeação. Além disso, a imagem do ministro tem sofrido um desgaste contínuo em meio à série de polêmicas, o que desperta críticas até mesmo de políticos da base do governo.

O processo de desgaste culminou em sua participação em audiência na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados na semana passada. Vélez foi duramente criticado por parlamentares, pela superficialidade das ideias apresentadas e a falta de clareza na apresentação de programas da pasta.

EK/ots

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