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CulturaÁustria

Falco, o revolucionário do pop em alemão

Rodrigo Rimon Abdelmalack
Publicado 19 de fevereiro de 2007Última atualização 19 de fevereiro de 2007

Ninguém obteve tanto reconhecimento internacional cantando em alemão: o austríaco liderou paradas de sucesso até nos EUA e é provável que continuasse emplacando, não fosse o trágico acidente que pôs fim à sua carreira.

Falco
Falco ficou quatro semanas no topo da BillboardFoto: picture-alliance/dpa/J. Kerstin

"Ele era um superstar, era popular, era tão exaltado porque tinha flair", cantava Falco em Rock me Amadeus. Não importa que ele estivesse falando de Mozart, a descrição cabe como uma luva à sua própria pessoa.

Johann Hölzel nasceu em 19 de fevereiro de 1957 num subúrbio de Viena e completaria agora 50 anos, não fosse o trágico fim que encerrou precipitadamente sua brilhante carreira. Já considerado uma lenda enquanto vivo, acabou se tornando um mito após sua morte, até hoje enigmática – escreveu Peter Lanz na biografia que acaba de ser reeditada.

Segundo sua gravadora, Falco "ainda é negócio". Tanto que, pontualmente para o cinqüentenário do artista, está sendo lançada Hoch wie nie, uma coletânea dupla com 33 sucessos, também disponível em DVD, com quase quatro horas de duração, contendo clipes, entrevistas e material biográfico. Ambas contêm a nova versão de Männer des Westens, originalmente de 1985 e retrabalhada para ressaltar a voz do artista.

Alles Klar, Herr Kommissar?

Seus pais queriam que ele se tornasse advogado. Mas, já aos 16 anos, Hölzel deixou a casa paterna em busca da satisfação pessoal que apostava encontrar na palpitante cena musical européia, que vivia o estouro do punk no final da década de 70 e o surgimento dos primeiros experimentos com rap na virada para os anos 80.

Após um ano tocando nas ruas de Berlim Ocidental, ele voltou a Viena e montou diversas bandas, até estourar com os Drahdiwaberl, um anárquico grupo que apostava na música como forma de crítica social. Sua primeira composição, Ganz Wien (ist heute auf Kokain) [Toda Viena (está hoje 'cheirada')], foi proibida de ser tocada nas rádios locais, mas outros sucessos os tornaram conhecidos para além das fronteiras austríacas.

Foto: Rainer Hosch

Em 1982, aos 25 anos, Falco ficou famoso da noite para o dia com Der Kommissar. Seu primeiro single em carreira solo vendeu mais de 6,5 milhões de exemplares e foi a primeira música em alemão a entrar na parada de sucessos americana, garantindo o êxito do álbum de estréia Einzelhaft, que saiu no mesmo ano.

Com uma variedade inigualável, Falco sempre esteve à frente de seu tempo. De gel nos cabelos e óculos escuros, vestindo ternos, perucas e figurinos extravagantes, ele é tido como pioneiro do hip hop e revolucionário do rock em alemão.

Rock me, Amadeus

Mas o segundo álbum, Junge Römer, não obteve a mesma receptividade entre os fãs, e Falco decidiu trocar de produtor, passando a trabalhar com os irmãos holandeses Rob e Ferdie Bolland. Foram eles que compuseram o hit Amadeus, de 1985, com o qual Falco liderou a parada da Billboard por quatro inacreditáveis semanas, chegando também ao topo da parada inglesa e ocupando boas posições em vários países do mundo.

O sucesso do álbum Falco 3 já estava garantido, mesmo assim seguiram outros hits, como Vienna Calling e Jeanny – boicotada pelas emissoras alemãs, que consideraram a faixa escandalosa por insinuar um crime sexual e se recusaram a executá-la. Apesar do boicote, ou quem sabe até graças a ele, foram vendidos mais de 2,5 milhões de exemplares do single. Segundo a gravadora, fãs reagiram comprando até 50 mil singles por dia enquanto ele durou.

Drogas e outras decepções

Mas o álbum também marcou o fim de uma fase em sua carreira. A partir daí, seu sucesso sempre esteve à sombra de problemas pessoais. Abalado pelo consumo de drogas, Falco separou-se em 1989 da mulher, com quem julgava ter tido a filha Katharina Bianca, a quem dedicara o quarto álbum, Emotional (1986). Em 1993, um teste de paternidade comprovou que Falco não era o pai biológico.

Foto: Gerhard Heller

Em 1996, mudou-se para a República Dominicana, onde inaugurou um estúdio próprio para trabalhar no álbum que queria que fosse seu grande comeback. Dizem que estava muito confiante e acreditava no sucesso. Porém, na tarde de 6 de fevereiro de 1998, Falco morreu vítima de um acidente de carro, com alta quantidade de álcool e cocaína no sangue.

O álbum póstumo Out of the Dark, lançado aproximadamente um ano depois, foi vendido 2 milhões de vezes só na Alemanha e na Áustria, e o single da faixa-título, mais de 3,5 milhões de vezes.

E, embora Falco tenha escrito a letra antes de morrer, suas palavras ganham uma nova dimensão diante das circunstâncias trágicas do acidente: "Será que terei que morrer para viver?".