Falta de crianças alarma políticos
16 de janeiro de 2005O problema não é novo: com uma média de 1,3 filho por mulher, a Alemanha tem o menor índice de natalidade da União Européia. A população envelhece a olhos vistos, gerando já agora problemas e projetando perspectivas sombrias para o sistema previdenciário e o mercado de trabalho no país.
O ano de 1964 foi o que registrou o maior número de nascimentos no país: 1,36 milhão. De lá para cá, o número de crianças que vêm ao mundo por ano reduziu-se quase à metade. Das mulheres nascidas em 1940, apenas um décimo ficou sem filhos. Entre as nascidas em 1965, essa proporção subirá para um terço.
De uns dias para cá, no entanto, o tema "família" conquistou as manchetes nos meios de comunicação, reproduzindo um uníssono incomum. Governo e oposição, empregadores e sindicatos lamentam o clima hostil à formação de prole na Alemanha, exigem e sugerem medidas para facilitar aos casais – e em especial às mulheres – melhores condições para conciliar vida familiar e profissão.
Na segunda-feira (17/01), o presidente Horst Köhler – que, ao assumir o cargo em julho de 2004 manifestou preocupação com a baixa taxa de natalidade e declarou a família tema central de seu mandato – recebe em Berlim a ministra da Família, Renate Schmidt, o presidente da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DHK), Ludwig Georg Braun, e o presidente da Confederação dos Sindicatos Alemães (DGB), Michael Sommer, para tratar do problema e esboçar soluções.
"Sem igual no mundo"
O grande número de casais sem filhos na Alemanha é "sem igual no mundo", lamentou a ministra Schmidt ao jornal Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung. "Além disso, pessoas com filhos têm a impressão de que crianças não são desejadas nesta sociedade". Esta afirmação da política social-democrata reflete uma sensação reinante no país. Em pesquisa recente realizada pelas revistas Eltern (Pais) e Eltern for Family, 75% dos casais sem filhos consultados disseram considerar o clima na Alemanha hostil às crianças.
"Na Alemanha, ter filhos não é sexy", comentou Marie-Luise Lewicki, redatora-chefe da Eltern, os resultados da pesquisa. Quatro entre dez consultados alegaram renunciar a filhos por motivos profissionais, 34% apontaram o receio de perda da liberdade individual como principal motivo e 29%, os altos custos representados pela educação de filhos.
Flexibilização no mercado de trabalho
A dificuldade em conciliar vida familiar e atividade profissional na Alemanha é incontestada. A ministra Schmidt chega a dizer que elas são "as piores do mundo". É justamente neste ponto que se concentram as reivindicações e sugestões de políticos, empregadores e sindicalistas.
Schmidt, que vem se batendo por melhores condições para mães de crianças pequenas – mais creches, jardins de infância e outras formas de assistência –, alegra-se agora por contar com o apoio aberto do chanceler federal Gerhard Schröder. Depois que ele e sua esposa, Doris, adotaram uma menina de três anos na Rússia, as questões familiares adquiriram prioridade para o chefe de governo.
Angela Merkel, presidente da União Democrata Cristã (CDU), anunciou para este ano uma reformulação da política de seu partido – o maior da oposição – para a família. Merkel exige transformações na sociedade, que deve por um lado se tornar mais capaz de aceitar mulheres que queiram se dedicar a uma profissão ao lado da educação dos filhos e, por outro, deixar de menosprezar as que optem por ser donas de casa e mães.
O presidente da Confederação dos Empregadores, Dieter Hundt, lançou um apelo às empresas no sentido de criarem mais jardins de infância próprios, bem como de facilitarem licenças a mães com filhos doentes. É também às empresas que se dirige Ursula Engelen-Kefer, vice-presidente da DGB. Ela apela aos empresários para criarem melhores condições de assistência às crianças. "Só assim se pode aproveitar o potencial de mulheres com boa formação profissional."