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Ensino

17 de agosto de 2009

As razões do desinteresse pela profissão de professor na Alemanha são motivo de controvérsia no país. Ministra sugere participação de profissionais da iniciativa privada. Consenso é: a imagem do professor precisa mudar.

Professor, categoria em extinção?Foto: picture-alliance/dpa

Especialmente nas áreas de ciências naturais e matemática, há na Alemanha uma demanda de professores maior do que a oferta. As associações da categoria temem que haja, em breve, uma falta de até 40 mil professores em todo o país, o que significa centenas de horas-aula perdidas.

Diante da atual média de idade dos professores, que é alta, acredita-se que no futuro a falta de profissionais da categoria venha a aumentar ainda mais: somente na próxima década, aproximadamente um milhão de professores irá se aposentar no país. E o número de estudantes com formação em licenciatura não irá de forma alguma suprir as lacunas deixadas por essa quantidade de aposentados. Para cada 100 aposentados hoje, chegam ao mercado 60 a 70 novos professores.

Profissionais de fora da sala de aula

Hoje, a carreira no magistério perdeu prestígio no país, sendo considerada pouco atraente. Uma pesquisa apontou que os estudantes do ensino médio que se interessam pela profissão são aqueles que, via de regra, têm notas piores.

Na Alemanha, tanto a definição do corpo docente de uma escola, quanto a formação profissional dos professores, fica a cargo dos governos estaduais. Alguns estados inclusive atraem com melhores salários bons profissionais de outros estados. A ministra alemã da Educação, Annette Schavan, sugeriu que empresas e escolas superiores disponibilizem físicos, engenheiros e matemáticos para dar ocasionalmente aulas em escolas. Outra proposta que conta com o apoio da ministra é a de convidar professores do Leste Europeu para ministrar aulas nas escolas alemãs.

Poucos querem seguir carreira no magistérioFoto: dpa

"Escolhi esta profissão por convicção e continuo exercendo-a com prazer. Sei que foi a decisão correta. Mas quero receber aquilo que me foi prometido. Não gostaria de trocar de escola ou cidade para trabalhar em outro estado. Se sair daqui, vou deixar também uma lacuna nas aulas de física. Por que eu deveria deixar o estado, se exatamente aqui há uma falta tão grave de professores", questiona Markus Alt [nome modificado porque o entrevistado não quis se identificar], professor de física, que deixou há alguns anos seu emprego numa empresa para dar aulas numa escola.

É exatamente isso o que a ministra da Educação propõe com a ideia de deslocar, mesmo que por tempo limitado, especialistas da iniciativa privada para as escolas do país, devido à falta de professores principalmente de física, química e matemática, um fenômeno que se perpetua há anos.

Caos em vez de planejamento

Até agora, não se sabe o número exato de professores que faltam ao país. O pesquisador Klaus Klemm, da cidade de Essen, estuda o assunto há vários anos. De acordo com suas estimativas, a cada ano 26 mil profissionais concluem suas licenciaturas no país. Um número que, contudo, não cobre a demanda de professores, mesmo quando se leva em conta que o número de alunos é cada vez menor. No mercado de trabalho, segundo Klemm, em vez do planejamento sistemático, domina o caos.

Outra questão preocupante é o desinteresse pela profissão, causado, segundo especialistas, pela mudança na imagem da profissão no país. Os professores vêm sendo acusados de serem responsáveis pelas deficiências no sistema de ensino, que ficaram visíveis nos últimos estudos comparatórios Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos).

Além disso, os professores são vistos como preguiçosos, por trabalharem normalmente apenas no turno da manhã e terem seis semanas de férias por ano no verão europeu. Muitos professores são vistos também como pessoas que se sentem sobrecarregadas, com tendência para estafa – são poucos no país os que se mantêm na sala de aula até a aposentadoria.

Notas baixas

Ludger Wössmann, economista de Munique especializado em questões ligadas à educação, lembra que os estudantes que optam pelo magistério nunca foram aqueles cujas notas eram mais altas no histórico escolar.

"Isso tem certamente a ver com o fato de que a profissão de professor não é especialmente atraente para os que querem fazer algo para valer e que também querem ser bem remunerados por isso. No magistério há, por exemplo, muito poucas possibilidades de crescimento. Isso está mudando, em parte, em alguns estados do país. E é uma tendência que deveria ser incentivada", diz Wössmann.

Escolas alemãs podem receber professores do leste da EuropaFoto: picture-alliance/ dpa

No Reino Unido ou no Canadá, por exemplo, a profissão é aliada a um prestígio muito maior. Nesses países, não é raro que um engenheiro, um economista que trabalhe num banco ou outro profissional bem sucedido resolva dar aulas. Na Finlândia – país que obteve os melhores resultados no estudo Pisa – somente os alunos com as melhores notas podem seguir a carreira de professor. A concorrência pela profissão é acirrada; os salários, se comparados a outras áreas, não são tão bons, mas mesmo assim há mais candidatos do que postos de trabalho para professores.

Decisões estaduais

Já na Alemanha, no momento, as autoridades têm praticamente que "pegar qualquer um" que se habilite, em função da falta de pessoal. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico já advertiu o governo acerca da futura falta de professores no país, um problema a ser resolvido pelos governos estaduais.

Neste aspecto, a ministra da Educação não tem muita voz, embora ela venha propagando a máxima "engenheiros, venham para a escola", numa campanha pela presença de especialistas nas salas de aula. Isso poderia contribuir para melhorias, embora não seja uma medida que vá resolver o problema da falta de professores. Hoje, apenas 3% dos professores ativos no país "pularam" de outras profissões para o magistério.

A ideia da ministra Schavan não é muito bem vista pelo sindicato dos professores, comenta Klemm: "Depois dos resultados do Pisa, todos nos disseram que o problema seria a formação dos professores. Se agora querem tentar atenuar o problema, contratando gente que nem tem formação como professor, vamos ter deficiências na qualidade", conclui o pesquisador.

Autora: Sandra Pfister

Revisão: Roselaine Wandscheer

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