Falta dinheiro para caça aos fósseis no Brasil
4 de maio de 2013O Brasil caminha em ritmo lento para divulgar as pesquisas na área da paleontologia, a ciência que estuda fósseis animais e vegetais. Pesquisadores avaliam que um dos principais problemas é a escassez de recursos destinados ao segmento. Mas este não é o único. O grande desafio, na opinião de quem estuda o tema, é atrair o público para os museus de ciências naturais, decisivos para o conhecimento da paleontologia brasileira.
O professor Alexander Kellner, do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) avalia que a sociedade brasileira demorou para conhecer as pesquisas no segmento. Ele lembra que, em 1999, uma exposição no Museu Nacional do Rio de Janeiro, intitulada "O Brasil no tempo dos dinossauros" chamou a atenção para o problema e garantiu maior interesse das agências de fomento e a multiplicação das pesquisas nesta área. O museu, fundado em 1818, se consolidou como a principal instituição na área pela riqueza do acervo de história natural do país.
"Este foi o grande marco. Houve uma repercussão fantástica e com ela a mídia descobriu o pesquisador brasileiro." Segundo ele, a partir daquele momento, aumentaram os recursos para a pesquisa. Como consequência desse processo, a sociedade passou a se inteirar da ciência, as agências financiadoras descobriram que o Brasil pode fazer pesquisa na área. O apelo popular do dinossauro e de outros animais extintos também contribuiu para tornar a paleontologia mais conhecida em todo o país, observa o professor.
Apesar do importante avanço, o Brasil ainda está muito atrás no cenário internacional, inclusive quando comparado à vizinha Argentina. "Do meu ponto de vista, o Brasil está pelo menos três gerações atrás da Europa e dos Estados Unidos. Quando comparado à Argentina, talvez sejam duas." Para ilustrar a opinião, ele cita como exemplo o número de dinossauros montados no Brasil: "não devem ter cinco, sendo que o primeiro surgiu apenas em 2006. A Argentina tem mais de 100 anos com dinossauros montados."
Valorização dos museus
A Sociedade Brasileira de Paleontologia lista em seu site oficial 29 museus espalhados pelo país. Especialistas consideram o número insuficiente, e a qualidade da maioria das exposições, inexpressiva. Na avaliação do professor Kellner, o mais importante para o desenvolvimento da pesquisa não são apenas os recursos, mas a valorização dos museus. "No que somos mais carentes no Brasil é em instituições com boas exposições e fósseis, onde crianças e adultos possam ver um pouco mais sobre o mundo que nos cercou."
Os museus de história natural são vistos por especialistas como uma maneira de dialogar com a sociedade de forma didática. Por isso, esses espaços funcionam como instrumentos de divulgação científica. "A maioria dos brasileiros não foi a nenhum museu de história natural no país, mas conhece as instituições da área em outros países", lamenta.
Potencial brasileiro
O vasto território brasileiro abriga rochas de um enorme intervalo de tempo geológico, muitas delas com fósseis, diz o professor Cesar Leandro Schultz, geólogo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A produção científica na área de paleontologia nacional é crescente e tem inclusive projeção internacional. "Porém, tanto o número de profissionais quanto o volume de recursos direcionados ao setor estão ainda longe de serem suficientes para as necessidades do país", avalia Schultz.
São muitas as descobertas científicas na área da paleontologia no Brasil. Embora passe despercebida pela população e pela grande mídia, um dos ramos da ciência que tem se desenvolvido é o dos chamados microfósseis, ou geologia do petróleo, explica Kellner. "O Brasil é hoje quase autossuficiente em petróleo, graças a esta ampla pesquisa feita com microfósseis, mas muitos estudos não podem ser publicados por razões econômicas."
Novas descobertas
Uma das pesquisas que ganhou destaque na área da paleontologia no Brasil conta com o trabalho do pesquisador Max Cardoso Langer, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Paleontologia e professor do Departamento de Biologia da Universidade de São Paulo (USP). Ele trabalha com material do período Triássico desde o doutorado, no final da década de 1990. Para o professor, o Brasil assume relevância no cenário internacional quando se trata de estudos de paleontologia do Triássico (250 a 300 milhões de anos atrás).
"Talvez o Brasil produza uns 20% ou 30% do conhecimento dessa área específica da paleontologia." Para ele, a fascinação pelos fósseis é um dos elementos responsáveis pela motivação dos pesquisadores. "Algo que está perdido há milhões de anos e a gente tem a oportunidade de resgatar. Falam que o paleontólogo é um caçador que não mata, mas sim ressuscita".