Pesquisa aponta que mais da metade dos cidadãos de origem turca na Alemanha dizem que jamais serão reconhecidos como parte da sociedade alemã. Para 36%, só o islã é capaz de resolver os problemas da atualidade.
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Um estudo realizado pela Universidade de Münster, divulgado nesta quinta-feira (16/06), mostra que, embora 90% das pessoas com raízes turcas digam se sentir bem na Alemanha, mais da metade delas afirma que jamais será reconhecida como parte da sociedade alemã.
Segundo o estudo, que entrevistou cerca de 1.200 mil imigrantes da Turquia e seus descendentes, 87% disseram concordar com a frase: "Nós nos sentimos ligados ou muito ligados ao país." Em relação à Turquia, a cifra foi dois pontos percentuais menor.
"Não estávamos esperando por isso", disse Detlef Pollack, porta-voz do núcleo de religião e política da Universidade de Münster.
Em alguns aspectos, a maioria dos entrevistados avaliou a situação na Alemanha melhor que os próprios alemães.
"Quando se comparam as pessoas de origem turca com os alemães do leste do país, estes últimos se sentem tratados mais injustamente do que aqueles com raízes turcas", afirmou Pollack durante a apresentação da pesquisa.
Mas, completamente felizes, as pessoas com raízes turcas não estão – 54% delas disseram concordar com a afirmação: "Não importa o quanto eu me esforce, eu nunca serei reconhecido como parte da sociedade alemã."
Menos espaço no mercado
Para Gökay Sofuoglu, presidente da Comunidade Turca da Alemanha (TGD, na sigla em alemão), a constatação não é nenhuma surpresa.
"Os resultados do estudo coincidem com as observações que faço diariamente", diz Sofuoglu, cuja federação representa cerca de 200 organizações turcas.
Segundo ele, rejeição e discriminação ainda fazem parte do cotidiano de muitos residentes de origem turca na Alemanha, e a ascensão profissional ainda é difícil.
"Quando se olha para a administração municipal, o serviço público ou as escolas, pessoas de origem turca em posições de chefia ainda são raridade", acrescenta o presidente da TGD.
Os pesquisadores de Münster também aconselharam: mais atenção deve ser prestada à situação particular das pessoas de origem turca.
"A mensagem à sociedade majoritária deve ser que é preciso lidar de forma mais sensível com os problemas dos residentes com raízes turcas. Ao mesmo tempo, também se deve observar que muitos deles se sentem muito bem na Alemanha", afirma o sociólogo Pollack.
Para Gökay Sofuoglu, a responsabilidade é de ambas as partes. Mais respeito pela língua turca, pela religião e direito ao voto nas eleições municipais para todos que vivem há muito tempo no país – essas são suas exigências ao Estado alemão.
Segundo o chefe da TGD, também as pessoas de origem turca e suas associações têm deveres de casa a fazer: "As organizações turcas têm de contribuir mais, têm de mostrar mais lealdade ao Estado alemão e à Constituição do país", opina.
Papel da religião
Para Pollack, a falta de reconhecimento tem consequências: "Em nossos olhos, esse sentimento de ausência de consideração se exprime através de uma defesa veemente do islã", afirma o professor universitário.
Segundo a pesquisa, metade de todos os entrevistados considera o islamismo como a única religião verdadeira. Quase metade dos participantes do estudo afirma: é mais importante seguir a lei religiosa do que o direito estatal.
Para 36%, somente o islã é capaz de resolver os problemas da atualidade. E 7% acreditam que é até mesmo justificável empregar a violência para difundir a religião muçulmana.
"É preciso ser realista: é impressionante o alto grau de aceitação da violência", diz o autor do estudo. "Isso é, naturalmente, uma caixa de ressonância para atos de violência exercidos", completa Pollack, que recomendou receitas clássicas para combater o fundamentalismo: educação, bons conhecimentos de alemão, trabalho – e muito contato com não muçulmanos.
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Foto: picture alliance
Respeite as diferenças
A sociedade alemã é construída com base no respeito e na tolerância. Os cidadãos são livres para seguir suas próprias preferências religiosas, sexuais, entre outras, desde que não violem os direitos de terceiros nesse processo. Homossexuais são respeitados, assim como pessoas de diferentes religiões – ou mesmo aquelas que não seguem religião nenhuma.
Foto: Fotolia/Sebastian Krüger
Respeite os direitos das mulheres
Na Alemanha, mulheres têm os mesmos direitos que os homens. Muitas vezes, elas são tão bem sucedidas em suas carreiras quanto eles. Mulheres podem se vestir como quiserem – seja uma roupa reservada ou uma mais ousada. A violência contra a mulher é proibida, e a lei vale naturalmente também dentro dos casamentos.
Foto: picture-alliance/dpa
Não trabalhe sem permissão
Diferente de alguns países do Oriente Médio, da África, trabalhar na Alemanha sem uma permissão de trabalho é contra a lei. Se alguém for pego trabalhando nessa situação pode ser multado ou até mesmo preso. Não vale a pena arriscar.
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Pague os impostos
O sistema tributário alemão é bastante complicado. Ainda assim, não pagar impostos é ilegal. De acordo com a lei, é considerado um "roubo contra a comunidade". O pagamento de impostos é obrigatório, assim como o voto é um direito do cidadão. Estrangeiros que trabalham na Alemanha também precisam pagar impostos.
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Crianças não podem apanhar
Bater em crianças na Alemanha é uma infração penal. Em casa ou na escola, o castigo que envolve violência, seja palmada ou pressão psicológica, não é aceito como uma forma de educar os pequenos. A lei é clara: "As crianças têm o direito de uma criação livre de violências. Punição física ou psicológica e outros tratamentos degradantes são proibidos".
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...e elas têm de ir à escola
Crianças em idade escolar não podem ficar em casa – muito menos trabalhar. Ao completar seis anos, elas precisam estar registradas em uma escola e comparecer às aulas. A partir daí, são pelo menos mais dez anos de estudos. Dispensas escolares por motivos religiosos não são permitidas na Alemanha.
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Cuide do meio ambiente
Proteger o meio ambiente é importante para a maioria dos alemães. Muita verba tem sido investida na limpeza de rios e na melhoria da qualidade do ar. Reciclar também é importante. O lixo é cuidadosamente separado: papel, plástico, resíduos de comida e outros objetos não recicláveis devem ser jogados em lixeiras específicas, separadas por cores.
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Não faça barulho demais
Mesmo que você esteja em seu apartamento, curtindo a companhia de amigos que não vê há muito tempo, é de bom tom se preocupar com o barulho – evitando, assim, incomodar os vizinhos. Durante a noite, especificamente, isso pode rapidamente virar caso de polícia. Na Alemanha, é preciso manter o silêncio em casa entre as 22h e as 6h.
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O que vale é o preço da etiqueta
O ato de negociar preços mais baixos, ou pechinchar, faz parte da cultura de muitos países. Na Alemanha, porém, assim como no Brasil, o que vale é o preço determinado na etiqueta – seja em supermercados, farmácias ou na maioria das lojas. A internet, por outro lado, é um ótimo lugar para se procurar por descontos.
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Não chegue perto demais
Em muitas culturas, é comum abraçar, beijar e dar presentes às crianças da vizinhança. Mas, na Alemanha, tudo depende da permissão dos pais. Na dúvida, é melhor não se aproximar demais das crianças, mesmo que elas pareçam amigáveis com estranhos.