Schürmann: da Alemanha para o Brasil, e de lá para o mundo
11 de outubro de 2004No mesmo ano que a Alemanha comemora os 180 anos da imigração alemã no Brasil, a Família Schürmann celebra seus 20 anos de vida no mar. A comemoração não podia ser de outra maneira: desde abril deste ano eles estão navegando por todo o litoral brasileiro – de Florianópolis até Fortaleza – onde chegarão em meados de outubro deste ano.
A vida desta família, entretanto, começou ainda na Alemanha, numa pequena cidade na região do Ruhr, bem próximo ao Rio Reno. Ali nasceu, em 1907, e permaneceu até os 16 anos Wilhelm Theodor Schürmann, filho de Ana e Theodor Schürmann. Em 1923 ele partiu – juntamente com os pais e irmãos – em direção ao continente sul-americano, em busca do sonho de uma vida mais tranqüila e segura pós-Primeira Guerra Mundial.
Tendo embarcado em Hamburgo no navio Tucuman na antevéspera de Natal daquele ano, a família chegou em janeiro de 1924 ao porto do Rio de Janeiro, mas a ancoragem serviu somente para o abastecimento da embarcação. Foi no porto de Santos (São Paulo) que eles puderam descer, pela primeira vez, em solo brasileiro, uma estada muito breve, pois a viagem seguiria até Paranaguá, já na costa paranaense.
De lá, a família seguiu até São Francisco do Sul (Santa Catarina) e posteriormente até Itajaí, onde finalmente desembarcou para oficializar sua chegada junto ao setor de imigração. A viagem prosseguiu via Blumenau, Riachuelo, Lontras, Matador, Rio do Sul e Mosquito, até Serrinha, onde se acomodaram no rancho que haviam comprado antes de vir para o Brasil.
Conquistar espaço em território nacional
Wilhelm Schürmann tratou de dar início às suas atividades no país. Apaixonado por futebol, começou logo a freqüentar o Clube Concórdia de Rio do Sul, time da região. Depois de algum tempo já participava dos treinos, todos os finais de semana, para os quais tinha de percorrer cerca de 60 quilômetros, ida e volta, numa carroça adquirida por seu pai.
O jovem alemão ficou em Serrinha durante quatro anos, tendo partido então em busca de novas oportunidades. Conseguiu emprego como agrimensor, em Lages, mas depois voltou a jogar na equipe titular do Sociedade Desportiva Blumenauense, atual Olímpico.
Também exerceu a profissão de foguista, mecânico de locomotivas, além de ajudar na construção de uma ponte férrea sobre o Rio Itajaí, até ser contratado para fazer um trabalho administrativo junto ao almoxarifado da empresa construtora, em Blumenau. Foi durante este período que conheceu Avenina de Oliveira, com quem se casou em janeiro de 1932. Em 1939, o casal mudou-se para Florianópolis, onde teve seus seis filhos: Vilmar, Avenina, Leonor, Vilberto e os gêmeos Vilfredo e Ana Luiza.
Vilfredo Schürmann: a busca de um sonho
Vilfredo Schürmann, um dos filhos mais novos, trabalhou alguns anos como consultor financeiro em diversas empresas. Formado em Economia, casou-se no final da década de 60 com a carioca Heloisa Carneiro Ribeiro.
No início da década de 70, o casal recebeu um convite para passar uma semana na ilha de Saint Thomas, no Caribe. Lá, os dois tiveram sua primeira oportunidade de navegar a bordo de um veleiro, o que foi suficiente para que se apaixonassem pela experiência e esboçassem o sonho de ter um veleiro próprio.
Enquanto se programavam para concretizar tal sonho eles tiveram três filhos: Pierre, David e Wilhelm, hoje com 36, 30 e 28 anos, respectivamente. Os três cresceram em terra, mas sempre sabendo que um dia partiriam rumo aos oceanos do mundo com seus pais. Durante uma década o casal preparou-se – emocional e economicamente – para deixar tudo para trás em busca de uma vida no mar.
Vilfredo afirmava que para concretizar esse sonho era preciso marcar uma data. Era necessário haver um momento de suas vidas que oficializasse o início de uma nova etapa. Ficou determinado que, quando David completasse 10 anos, eles partiriam. O dia escolhido, entretanto, não foi o mais adequado.
O aniversário de David caía numa sexta-feira 13, símbolo de mau agouro para os velejadores. A partida foi, portanto, adiada para o dia 14 de abril de 1984. Vilfredo, Heloisa, Pierre, David e Wilhelm içaram as velas de seu veleiro de 55 pés (16,7 metros), deixando para trás uma história para dar início a outra.
Uma aventura pelo mundo
O planejamento inicial previa dois a três anos a bordo do barco. A experiência, entretanto, foi tão intensa que eles acabaram optando por ficar dez anos no mar, regressando ao Brasil somente em 1994. Durante esse tempo, as crianças estudaram por correspondência, aproveitando os próprios pais como professores.
No meio do caminho, Pierre e David desembarcaram para estudar, o primeiro nos Estados Unidos (Administração de Empresas) e o outro na Nova Zelândia (Cinema e Televisão). Wilhelm continuou a bordo e, atualmente, é campeão de windsurf – em diversas categorias.
Após seu regresso em 1994, a família planejou durante três anos seu segundo grande projeto: uma nova volta ao mundo, desta vez seguindo a rota do navegador português Fernão de Magalhães. Eles partiram em 1997 para mais esta viagem, que durou três anos. Chegaram a Porto Seguro, na Bahia, no ano de 2000, bem a tempo para as comemorações dos 500 anos da descoberta do Brasil.
Durante esse período eles puderam compartilhar suas emoções e vivências através de um programa dominical de televisão, além de propagar seu programa de ensino online para escolas do Brasil e de mais de 44 países em diversas partes do mundo.
Reconhecimento internacional
O site do projeto chegou a receber na época uma indicação da Unesco – órgão das Nações Unidas para educação, sociedade e cultura – como ferramenta educacional.
Ao longo de todos esses anos no mar, os Schürmann perceberam que o cotidiano das empresas não é muito diferente das vivências a bordo do veleiro. Com base em suas experiências, realizam palestras empresariais – tanto no Brasil quanto no exterior – além de workshops com empresas que sentem a necessidade de treinar seu pessoal para enfrentar desafios.
Texto originalmente publicado em 2004