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FAO quer que EUA suspendam uso do milho como biocombustível

11 de agosto de 2012

País enfrenta pior seca dos últimos 50 anos. Segundo a Organização, uso do milho como bioetanol favorece encarecimento de alimentos. Commerzbank anuncia fim de especulação com gêneros básicos "por razões morais".

Corn stalks struggling from lack of rain and a heat wave covering most of the country lie flat on the ground Monday, July 16, 2012 in Farmingdale, Ill. The nation's widest drought in decades is spreading. More than half of the continental U.S. is now in some stage of drought, and most of the rest is abnormally dry. (Foto:Seth Perlman/AP) / Eingestellt von wa
Foto: AP

Devido à seca inclemente nos Estados Unidos, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) instou Washington nesta sexta-feira (10/08) a suspender imediatamente a produção de biocombustível a partir de milho.

Falando ao Financial Times britânico, o secretário-geral da FAO, José Graziano da Silva, classificou como um "prejuízo gigantesco" o processamento de cerca de 40% da safra nacional em forma de bioetanol. Diante da alta dos preços dos alimentos, a suspensão da produção de biocombustível nos EUA reduziria a pressão sobre o mercado, permitindo a utilização de mais milho como alimento e ração animal, propôs.

Graziano acrescentou que a situação do abastecimento de gêneros alimentícios já é "delicada", podendo transformar-se rapidamente numa crise. Alguns países do grupo G20, entre eles França, Índia e China, já haviam expressado anteriormente preocupação quanto à política do bioetanol.

Há anos essa fonte renovável de energia é criticada por ambientalistas. Eles argumentam que a utilização de terras aráveis para a produção de combustível reduz as áreas utilizáveis para a alimentação, impulsionando a alta de preços. Além disso, o cultivo para fins energéticos seria também responsável pela destruição das florestas naturais em amplas regiões do planeta.

Perigo global

A atual seca nos EUA é a pior das últimas cinco décadas. O famoso "Corn Belt" (cinturão do milho), no centro-oeste do país, onde se cultiva a maior parte do cereal, encontra-se no epicentro da seca. Desde junho passado as temperaturas estão elevadas e em julho alcançaram as maiores marcas desde 1895.

Segundo a Secretaria norte-americana de Agricultura, apenas 23% dos pés de milho ainda estão em estado bom ou excelente. Desde o princípio de junho, o preço do produto já subiu 40%. O órgão governamental calcula que a safra deste ano será 13% inferior à de 2011, com o volume mais baixo dos últimos seis anos.

A colheita de soja, por sua vez, deverá reduzir-se em 12%. No total, este ano as colheitas de cereais do país cairão 13%, alcançando seu recorde negativo em 17 anos, estima a secretaria norte-americana. Tais expectativas fomentam os temores de um encarecimento global dos alimentos.

Menos de um quarto da colheita de milho nos EUA está em boas condiçõesFoto: UN Photo / BZ

Primeiros sinais

Em 2007 e 2008, a escalada acentuada dos preços do milho e trigo, entre outros, foram causa de fome e distúrbios sociais nos países pobres. Tendo em vista esses dados, a organização humanitária Oxfam adverte que a atual tendência poderá trazer consequências devastadoras para os mais carentes.

Dados divulgados pela FAO na quinta-feira, em Paris, confirmam que uma espiral de preços já está em ação. Após três meses de recuo, em julho os preços dos alimentos subiram, em média, 6%, estando os cereais e o açúcar entre os mais afetados.

Há várias semanas, os preços de cereais e sementes oleaginosas sobem na Bolsa de Chicago, maior mercado para títulos financeiros sobre matérias primas. A tendência é atribuída, sobretudo, às condições meteorológicas: a onda de seca e calor nos EUA teria causado a valorização do milho em 23% em julho, enquanto os prognósticos de uma má safra na Rússia fizeram o trigo subir 19%. Em contrapartida, os preços da carne desceram, pelo terceiro mês consecutivo.

Fim da especulação

Segunda maior instituição de crédito da Alemanha, o Commerzbank confirmou na quinta-feira que não mais participará da especulação com preços de alimentos básicos no mercado financeiro internacional. Assim, todos os produtos agrícolas foram retirados de sua oferta.

Commerzbank se recusa a participar de mecanismos que promovem misériaFoto: picture-alliance/dpa

O banco atribuiu a medida a "razões morais", em resposta a uma série de estudos internacionais. Estes demonstraram que o papel dos títulos financeiros sobre produtos agrícolas é significativo na elevação artificial dos preços dos alimentos, contribuindo, assim, para disseminar a fome em várias regiões do planeta.

O diretor da ONG Foodwatch Germany, Thilo Bode, saudou a decisão. "Se um banco não pode ter certeza de quanto dano esse tipo de especulação é capaz de causar, ele deve deixar de oferecer tais fundos, para estar em campo seguro."

AV/afp/dapd/kna/dpa/rtr
Revisão: Mariana Santos

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