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Fardados assumem posições-chave no Brasil

Alexander Busch | Kolumnist
Alexander Busch
12 de fevereiro de 2020

Bolsonaro destacou numerosos militares para cargos importantes em ministérios e estatais. Mas os uniformizados custam caro ao governo: um quarto de todos os gastos com o funcionalismo público cabe a eles.

Bolsonaro aposta no apoio dos militares – mas por vezes os trata como seus molequesFoto: Getty Images/AFP/F. Souza

A coisa começou sorrateira. Em Brasília, eles passaram a ser vistos em todos os ministérios logo após a posse de Jair Bolsonaro. Mas agora, depois de um ano, também podem ser encontrados fora da capital, em companhias estatais, órgãos de supervisão, em empresas mistas – onde quer que o Estado possua participação ou tenha alguma influência. São militares de alta patente colocados em posições-chave do aparato estatal pelo capitão da reserva Bolsonaro.

Trata-se geralmente de homens em idade de se aposentar, em boa forma, que, com o cabelo cortado rente, parecem clones. São educados, discretos e muitas vezes taciturnos. Na maioria das vezes, leem seus discursos breves diretamente do papel, ou soa como se estivessem. Eles são citados com sua patente militar: "Então, como o general acabou de dizer..."

Consta que o governo Bolsonaro destacou 2.500 militares de alto escalão, a maioria da reserva, mas também alguns da ativa. Facilitou-se a entrada deles na política. Eles recebem um adicional de 30% sobre seus soldos ou pensões. A rigor, isso deveria ser desnecessário. Assim como as autoridades judiciais, os militares de alta patente estão entre os funcionários públicos altamente privilegiados que continuam a receber vencimentos obscenamente altos mesmo após a aposentadoria.

Mas provavelmente muitos militares não teriam mudado para cargos civis sem incentivos financeiros. Porque o presidente – que no final de sua breve carreira militar por pouco escapou de ser exonerado do Exército com desonra – trata seus antigos superiores como se fossem moleques de escola. Quem faz qualquer crítica discreta é substituído. Bolsonaro quer receptores e executores de ordens totalmente submissos.

Além disso, ele não tem um partido a que possa recorrer para o preenchimento de cargos. Tampouco dispõe de redes de especialistas em administração pública. Essa deficiência se torna agora perceptível: a maioria dos "especialistas" que Bolsonaro trouxe à parte das Forças Armadas provou-se um fiasco nos cargos: isso se aplica particularmente às pastas de Meio Ambiente, Educação e Família.

Até agora, os oficiais uniformizados não se envolveram em grandes escândalos. Alguns dos militares de alta patente são especialistas com formação em suas áreas, como minas e energia ou infraestrutura.

No entanto, sob o capitão da reserva Bolsonaro, o governo tem que desembolsar cada vez mais: 26% de todos os pagamentos de salários e pensões estatais cabem aos militares. Eles não foram apenas basicamente poupados na reforma da Previdência, em comparação com a maioria dos brasileiros, mas também receberam ajustes salariais, o que praticamente neutralizou a economia da "reforma". Os escalões mais altos dos militares são agora tão privilegiados quanto os funcionários do Judiciário.

Além disso, pouco antes da virada do ano, o governo abriu novamente as porteiras para os militares – um governo em que tudo que encontrasse comprador particular deveria ser privatizado: quase um terço de todos os investimentos governamentais em 2019 foi para os fardados.

A maior parte foi destinada à Empresa Gerencial de Projetos Navais (Emgepron), sob o comando da Marinha. Porém a Infraero e a Telebras também receberam dotações generosas de fundos públicos; ambas são há muito tempo empresas estatais supérfluas, que servem principalmente como cabide de empregos com a finalidade de garantir cargos para apadrinhados políticos.

A crescente militarização do Estado brasileiro é economicamente arriscada: pois a longa lista de medidas econômicas erradas sob a ditadura mostra que as decisões de investimento das Forças Armadas seguem a lógica e o interesse próprios – mas saem caras demais para a economia nacional e a sociedade como um todo.

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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

 

 

 

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Tropiconomia

Há mais de 25 anos, Alexander Busch é correspondente de América do Sul para jornais de língua alemã. Ele estudou economia e política e escreve, de Salvador, sobre o papel no Brasil na economia mundial.