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Fast food no museu

Marcus Bösch / sv23 de setembro de 2003

O que estará fazendo um cachorro quente ou hambúrguer no espaço sóbrio de um museu? A mostra “Lanchonetes – Comida sem Fronteiras”, em Berlim, leva o fenômeno social do fast food às salas estéreis destinadas à arte.

Esculturas de Patricia Waller: sanduíches de algodão, isopor e crochéFoto: Patricia Waller

Até o chanceler federal alemão é adepto do costume. Em pé, andando pelas ruas, ou nas pausas rápidas – todos, em algum momento, comem o que se chama de fast food. Não importa se em Helsinki, São Petersburgo ou em alguma pequena cidade do interior alemão, as pessoas degustam com o mesmo prazer o lanche rápido.

Bem-vindos, então, ao universo dos garfinhos de plástico, pratinhos de papelão e frituras. Comer em um ambiente aconchegante passou a ser coisa do passado. O fenômeno social do fast food dá o tom – pelo menos até meados de dezembro próximo no museu berlinense Domäne Dahlem.

Lanchonetes em pinturas a óleo

Lanchonete próxima à estação Nordbahnhof, em BerlimFoto: Christoph Buckstegen

"Nós somos, afinal, também um museu da alimentação", diz Peter Lummel, diretor do museu em entrevista à DW-WORLD. Na exposição em Berlim, o assunto cada vez mais atual do lanche rápido e fora de casa é abordado sob a perspectiva da arte, da história e do entretenimento. As obras expostas vão desde lanchonetes retratadas em pinturas a óleo até pizzas de croché. Tudo acompanhado por seqüências de filmes, fotografias de cozinhas asiáticas e um cheiro peculiar, criado especialmente por um grupo de designers do odor.

"Entre os vários visitantes jovens da exposição, a obra preferida tem sido as esculturas de Patricia Waller", conta Lummel. A artista, que se dedicou anteriormente à escultura, possibilita com seus hambúrgueres, pedaços de pizza e sanduíches – todos tecnicamente perfeitos – uma visão irônica e bem humorada do mundo do fast food. Apresentadas sobre pedestais dignos de qualquer escultura de bronze, as obras de Waller, confeccionadas com uma técnica semelhate à do croché, provocam uma série de associações inusitadas, ultrapassando as fronteiras da tristeza corriqueira das lanchonetes.

Obrigada Erich Playowski

Obra de Patricia Waller, em algodão e isoporFoto: Patricia Waller

Reconstruindo a história das lanchonetes alemãs (imbissbuden), chega-se, após as primeiras estações na Idade Média, ao nome de Erich Playowski – filho de imigrantes alemães, tido como o inventor do hambúrguer. Foi ele quem ofereceu pela primeira vez em sua lanchonete (situada ao lado de um estádio de futebol em Quinibek, Ohio, nos EUA), em 1906, pequenas bolinhas de carne, cobertas com queijo e servidas entre duas fatias de pão branco. O nome dado à nova criação foi uma homenagem à sua terra natal: Hamburgo.

Hoje, há milhões de lanchonetes espalhadas por todo o mundo, disseminando os hambúrgueres de Playowski nas mais diversas variações. Apenas em Berlim, há dois mil representantes do fenômeno cultural imbissbude. O pesquisador Jon von Wetzlar analisou várias dessas lanchonetes, que são em sua maioria extremamente simples, tendo com freqüência grama artificial e mesas altas de plástico, às quais o freguês se aproxima para comer, sem, no entanto, poder sentar-se.

Ao lado do fotógrafo Christoph Buckstegen, von Wetzlar perambulou meses a fio pelos bairros da periferia de Berlim. Do trabalho resultaram fotografias sóbrias e realistas retratando, por exemplo, "As Batatas Fritas do Becker" ou o "Oásis da Fritura", que foram então compiladas no ambicioso volume "Anarquistas Urbanos – A Cultura das Lanchonetes".

Anarquistas urbanos

"Anarquistas Urbanos", livro de Jon von WetzlarFoto: Jonas Verlag

Jon von Wetzlar não se interessou por locais sofisticados ou de luxo. Em uma análise sociológica, ele divide as lanchonetes em "nativas", "desenvolvidas" ou "definitivas". E abre espaço para que várias pessoas discorram sobre suas relações pessoais com as batatas fritas ou com a cerveja.

Quem não teve mais voz foi Herta Heuwer, reconhecida oficialmente como inventora da salsicha alemã currywurst. Heuwer, que criou em setembro de 1949 a variação da salsicha com um molho picante semelhante ao chilli, levou consigo para o túmulo, em julho de 1999, sua receita espetacular. Fãs incondicionais dos imbissbuden podem encontrar em Berlim uma placa de homenagem à obra de Huewer. E podem, certamente, experimentar na próxima esquina um exemplar de sua criação.

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