Favoritos ao Nobel da Paz incluem Merkel, Colômbia e Snowden
6 de outubro de 2016
Como todos os anos, expectativa e especulações são grandes na véspera do anúncio em Oslo. Tema refugiados volta a ter destaque, com apostas nos moradores de ilhas gregas e na chanceler alemã. Mas há outros favoritos.
Anúncio
Como acontece todos os anos, a expectativa para o anúncio do Prêmio Nobel da Paz, nesta sexta-feira (07/10) em Oslo, é grande, como grandes são também as especulações sobre os possíveis ganhadores.
Entre os mais cotados estão os moradores de ilhas gregas que ajudaram refugiados, simbolizados na figura do pescador Stratis Valiamos, os capacetes brancos da Síria, os negociadores do acordo nuclear iraniano, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, o whistleblower Edward Snowden, o papa Francisco e muitos outros. Até o polêmico candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, teria recebido uma indicação, afirmou a emissora de televisão americana CNN.
Numa edição sem claros favoritos, o Comitê do Nobel comunicou que recebeu um número recorde de indicações: 376, incluindo 228 pessoas e 148 organizações. E não é incomum que a decisão do comitê seja totalmente inesperada, ainda que pertinente.
Pescador grego pode levar Nobel da Paz
01:11
Em 2015, por exemplo, o Prêmio Nobel da Paz foi para o Quarteto para o Diálogo Nacional na Tunísia, que inclui organizações-chave da sociedade civil tunisiana: a União Geral dos Trabalhadores da Tunísia (UGTT), a Confederação de Indústria, Comércio e Artesanato da Tunísia (Utica), a Liga dos Direitos Humanos da Tunísia (LDHT) e a Ordem Nacional dos Advogados da Tunísia (Onat).
Ao justificar a escolha, o comitê ressaltou que o Quarteto, formado no verão de 2013, criou um processo político alternativo e pacífico num momento em que o país estava à beira de uma guerra civil. A decisão contrariou todas as estimativas de favoritos ao prêmio, que eram encabeçadas por Merkel.
Entre os favoritos de 2016 está a Defesa Civil Síria, conhecida pelos seus capacetes brancos. O grupo, composto por cerca de 3 mil voluntários, está envolvido no resgate de milhares de pessoas e trabalha principalmente em regiões controladas por rebeldes. Eles já receberam o chamado Nobel Alternativo este ano.
A lista de favoritos conta ainda com os negociadores do fracassado acordo de paz na Colômbia: o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e o líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Rodrigo Londoño Echeverri, conhecido como Timochenko. Eles chegaram a liderar as apostas há poucos dias, mas depois do plebiscito que disse "não" ao acordo, sua cotação caiu junto com as chances de uma distinção.
Além do papa Francisco, Snowden e Merkel, aparecem na lista a ativista de direitos humanos russa Svetlana Gannushkina, que também recebeu neste ano o "Nobel Alternativo", o blogueiro Raif Badawi, que está preso na Arábia Saudita por lutar pelos direitos humanos, o médico congolês Denis Mukwege, que ajuda mulheres vítimas de violência sexual, e os negociadores do acordo climático de Paris, bem como os responsáveis pelo acordo nuclear iraniano.
Mas uma aposta chama a atenção: os habitantes das ilhas gregas que têm estado na linha de frente da ajuda aos milhares de refugiados que procuram abrigo na Europa. Um desses rostos é Emilia Kamvisi, de 85 anos, da ilha Lesbos, que foi fotografada ao dar uma mamadeira a um bebê sírio. O outro é Valiamos.
CN/lusa/ots
Controvérsias no Prêmio Nobel
O Nobel tem, em várias categorias, dividido a opinião pública e gerado debates desde seu lançamento, em 1901. Conheça alguns dos casos mais controversos da história da premiação, de Friedman a Obama.
Foto: AP
O pai da guerra química
Um dos laureados mais contestados de todos os tempos foi o cientista alemão Fritz Haber. Ele ganhou o Nobel de Química em 1918 por descobrir como sintetizar a amônia, algo crucial para produzir fertilizantes que revolucionaram a produção de alimentos. Mas Haber também ficou conhecido como o "pai da guerra química", por ter desenvolvido o gás cloro, utilizado nas trincheiras da Primeira Guerra.
Foto: picture-alliance/akg-images
A bomba atômica
Outro cientista alemão, Otto Hahn (centro da foto), ganhou o Nobel de Química pela descoberta da fissão nuclear. Apesar de nunca ter trabalhado na aplicação militar de sua criação, ela levou diretamente ao desenvolvimento da bomba atômica. O Comitê Nobel queria dar o prêmio a Hahn em 1940, mas ele acabou sendo laureado em 1945, meses após as bombas nucleares terem atingido Hiroshima e Nagasaki.
Foto: picture-alliance/G. Rauchwetter
A descoberta que o mundo baniu
O cientista suíço Paul Müller levou o Nobel de Medicina em 1948 por descobrir que o composto químico DDT era capaz de matar insetos vetores de doenças perigosas, como a malária. O uso do pesticida durante e após a 2ª Guerra Mundial salvou milhões de vidas. Mais tarde, porém, descobriu-se que o pesticida era prejudicial à saúde. Atualmente, o uso agrícola do DDT é proibido mundialmente.
Foto: picture-alliance/dpa/UN
Um prêmio inconveniente
O Nobel da Paz talvez seja o mais controverso entre as categorias da premiação. Em 1935, o jornalista e pacifista alemão Carl von Ossietzky recebeu o prêmio por expor planos secretos para o rearmamento da Alemanha. Dois membros do comitê do Nobel renunciaram após a decisão. Ossietzky foi preso por traição, e Hitler acusou o prêmio de intromissão.
Foto: Bundesarchiv 183-R70579
O Nobel da (quase) paz
A decisão de dar o Nobel da Paz a Henry Kissinger, então Secretário de Estado dos EUA, e a Le Duc Tho, líder do Vietnã do Norte, em 1973, foi duramente criticada. Dois membros do comitê renunciaram em protesto. O Nobel estava reconhecendo os esforços para um cessar-fogo no Vietnã. Tho rejeitou o prêmio, Kissinger enviou um representante para recebê-lo. A guerra se estendeu por mais dois anos.
Foto: picture-alliance/dpa
O libertário e o ditador
Defensor do livre-mercado, o economista americano Milton Friedman é um dos vencedores mais controversos do Nobel de Economia. O prêmio, dado a ele em 1976, gerou protestos internacionais, por conta de um suposto vínculo com o ditador Augusto Pinochet. Friedman havia visitado o Chile um ano antes, e manifestantes alegaram que suas teorias econômicas inspiraram o regime opressor.
Foto: PD
O Nobel da paz ilusória
O Nobel da Paz de 1994, compartilhado pelo então líder palestino Yasser Arafat, o premiê israelense Yitzhak Rabin e o ministro do Exterior de Israel Shimon Peres, buscava alavancar o processo de paz no Oriente Médio. Mas as negociações falharam, e Rabin foi morto por um nacionalista israelense um ano depois. Um membro do comitê do Nobel renunciou após a decisão e chamou Arafat de "terrorista".
Foto: Jamal Aruri/AFP/Getty Images
Um livro de memórias turvas
Defensora dos direitos indígenas, a guatemalteca Rigoberta Menchú ganhou o Nobel da Paz em 1992 por “seu trabalho a favor da justiça social e da reconciliação étnico-cultural”. Mais tarde, sua autobiografia, publicada em 1982 e grande alavanca de sua popularidade, foi acusada de ter passagens fictícias. Por esse motivo, muitos argumentaram que Menchú não seria merecedora do prêmio.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Fernandez
Prestígio antecipado
Barack Obama ganhou o Nobel da Paz em 2009, e até ele próprio ficou supreso. Em seu primeiro ano como presidente dos Estados Unidos, Obama foi homenageado "por seus esforços extraordinários em fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos". Muitos alegaram que a homenagem foi prematura e que veio antes de ele ter, de fato, a chance de causar um verdadeiro impacto.
Foto: picture-alliance/dpa
Prêmio póstumo
Em 2011, Jules Hoffmann, Bruce Beutler e Ralph Steinman levaram o Nobel de Medicina pela descoberta de uma nova célula do sistema imunológico. Mas Steinman morreu de câncer alguns dias antes da premiação e, de acordo com as regras, prêmios não podem ser concedidos postumamente. O conselho decidiu manter os homenageados, alegando não ter conhecimento da morte de Steinman no momento da decisão.
Foto: picture-alliance/dpa/Rockefeller University
A maior omissão
Não só os vencedores são responsáveis por tornar o Nobel um prêmio controverso. Mahatma Gandhi, líder da luta pacífica pela independência da Índia, foi indicado cinco vezes ao Nobel da Paz, mas nunca ganhou. Em 2006, Geir Lundestad, membro do Comitê Nobel, disse: “A maior omissão nos nossos 106 anos de história é, sem dúvida, o fato de Gandhi nunca ter recebido o Nobel da Paz.”